sexta-feira, 23 de junho de 2017

O esquecimento do pecado original



O pecado original é uma realidade revelada que aprendemos pela fé quando nos convertemos e enxergamos nossa vida de pecado. A consciência desse dogma é um fator essencial para alimentar dentro do homem uma profunda humildade, pois o faz reconhecer uma ferida em sua natureza, uma inclinação para o mal constante que o torna necessitado da graça de Deus. Contudo, é justamente o esquecimento dessa verdade que a teologia moderna ensina, o que alimenta falsas ilusões no modo de viver e de se perceber dos cristãos. Por exemplo:

1. Ilusão de virtudes
Parece esquecer-se de sua conversão, pensa que as virtudes que possui pertencem a si próprio. Esquece que elas vieram de Deus da sua graça em nossa alma e acaba tomando a glória de Deus para si o que o torna orgulhoso e vaidoso, muito confiante de sua bondade e perfeição.

2. Ilusão do conhecimento
Pensa saber muito e ter a resposta para tudo. Confia demais em sua própria opinião e pouco duvida de si. Não escuta humildemente os conselhos e a sabedoria da Igreja, da tradição, dos santos, mas escolhe o discurso que melhor se adéqua a sua vida. Não vê o quanto não enxergar sobre a profundidade do dogma, as causas que regem o cosmos e os detalhes sobre os assuntos práticos que tenta avaliar. É sempre muito rápido e temerário ao julgar e emitir opinião.

3. Ilusão do amadurecimento
Precisa reafirmar constantemente sua experiência e amadurecimento, sem perceber que o verdadeiramente amadurecido não precisa de autoafirmação. O primeiro sinal de amadurecimento é esquecer-se de si e reconhecer o bem que fez o outro, principalmente Deus. Alimentar em si a gratidão diante de seu Pai por tudo que Ele lhe ensinou e o fez entender amorosamente, e pelas pessoas que usou como instrumentos para sua graça.

4. Ilusão da fortaleza
Nada o afeta, pois tem um pleno domínio sobre si. Pensa que pode tudo, pois já está convertido. Portanto pode frequentar qualquer lugar, participar de qualquer conversa, ver qualquer filme, ouvir todo tipo de música, pois tudo consegue fazer com equilíbrio e discernimento. Esquecendo assim a inconstância e a fraqueza que continuam na carne, o homem velho que ali habita e o leão que o rodeia procurando a quem devorar. Se coloca em risco por não lembrar da sua miséria.

Eis parte do retrato do católico moderno – o super-homem – já não se fala ou se preocupa mais com o pecado original, pois isso traz uma cruz desnecessária à vida das pessoas. Já não se precisa de tantas regras e leis que só tornam a vida do homem um peso, mas está tudo liberado para aquele que “crê”. Já não se fala mais de morte e juízo, mas de sono eterno e (pastoral) da ressurreição. Que criatura perfeita e magnífica é o homem que não precisa mais da graça de Deus, pois sua natureza é plena e suas artes/ciências o levam à perfeição.

Se não alimentam a vida de oração e a fé em seus corações, gradualmente vão perdendo a capacidade de enxergar essa verdade – que o pecado entrou e feriu o mundo – e vão deixando sua vida ser tomada por essas ilusões que o levam de volta para o chiqueiro do pecado e os faz se alimentar prazerosamente da comida dos porcos.

Se você experimentou a conversão, não esqueça de manter a oração constante, alimentar a humildade, tomar consciência do efeito do pecado e da inclinação para o mal, não deixe de vigiar, não se iluda! É essa consciência humilde de si e de seus pecados que nos dispõe à graça que Deus todo o tempo nos deseja enviar.

É a humildade de quem enxerga pela fé a miséria do pecado em seu ser que faz com que seu coração possa se unir ao Sagrado Coração de Jesus que nos mostra o mais puro e grande Amor. E é a experiência de tão perfeito amor que nos liberta e nos faz imensamente feliz.

Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!

Como o Batista nos ensina a amar a Jesus em 6 fases?


Geralmente, as pessoas conhecem muito pouco sobre esse tão importante santo. Alguns só sabem que ele é comemorado no mês de junho por conta da “fogueira de São João”, cujo costume é atravessá-la à meia-noite. Mas fiquemos com esta passagem dita por Nosso Senhor na cabeça: “Eu vim trazer fogo à Terra e como gostaria que estivesse aceso” (Lc 12, 49).

1. ANÚNCIO
O arcanjo Gabriel foi enviado ao sacerdote do templo Zacarias para revelar que Deus havia escutado a oração dele e de sua esposa Isabel que era estéril. Eles teriam um filho que se chamaria João, que seria “grande diante do Senhor” e “desde o ventre de sua mãe cheio do Espírito Santo” (Lc 1, 15). Sua missão consistiria em “preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1, 17). Zacarias não acreditou e Deus, por meio do arcanjo, castigou-o com a mudez temporária.

A semelhança do anúncio de São João Batista com o de Nosso Senhor é grande. Isso mostra a conexão espiritual entre ambos, não só sanguínea, porque Nossa Senhora era parenta de Santa Isabel. Todo mundo sabe que São João Batista foi encarregado por Deus de aplainar o terreno para o Messias. E o que o arcanjo Gabriel disse é a primeira chave de nossa vida espiritual: precisamos ser um povo bem disposto. Após o nascimento do menino Jesus, os anjos cantaram que a paz de Deus era destinada aos “homens de boa vontade” (Lc 2, 14).

Em poucas palavras, tudo aquilo que fazemos para Deus deve ser feito com alegria (2Cor 9, 7), isto é, sem murmurações. Se for para reclamar, é melhor não fazer. Muitas vezes o que precisa ser feito é um verdadeiro fardo e com sua inteligência você enxerga isso, porém, se aceitar com resignação, pedindo forças a Nosso Senhor, não só o seu pranto se transformará em alegria (Sl 30, 11), como também Ele mesmo virá aliviar sua dor (Mt 11, 28).

2. VISITA
O encontro dos dois nascituros João e Jesus é motivo de júbilo. Santa Isabel mal escuta a saudação de Nossa Senhora e fica cheia do Espírito Santo. A razão é muito simples: Maria, na sua relação com a Trindade, é a esposa do Espírito Santo (Lc 1, 35). Santa Isabel revela que ela é também “Mãe do Senhor” (Lc 1, 43). Onde o Espírito Santo está, Ele leva consigo seus frutos (Gl 5, 22). São João Batista com seis meses de idade estremece no ventre de sua mãe. Esse é o primeiro ato de seu trabalho de “preparar um povo bem disposto”. E parece óbvio que a primeira pessoa foi sua própria mãe que interpretou um sinal comum como pertencente à ordem da graça.

Nós também devemos aprender com São João Batista a reconhecer Jesus escondido. Ele está oculto nos pequeninos (Mt 25, 31-26), no entanto, mais oculto na Eucaristia. Na aparência do pão e do vinho, Nosso Senhor se aniquilou completamente por nosso amor. Mais até que na cruz (Fl 2, 8), pois como nos ensina Santo Tomás no madeiro sua divindade estava velada (Mt 17, 1-8), enquanto na Eucaristia até a humanidade desapareceu aos nossos olhos.

Nosso Senhor quando anunciou sobre esse mistério no capítulo sexto do Evangelho de São João perdeu dezenas de discípulos, porque com acerto consideraram uma loucura propor um canibalismo. Só que eles entenderam que era um canibalismo literal, o que violava radicalmente a proibição de se alimentar de sangue. Quanto mais de sangue humano. Era algo impensável e abominável. Mas Jesus quis outra forma de canibalismo. Nós comeríamos sua carne e beberíamos seu sangue, no entanto, com aparência, gosto e cheiro de pão e de vinho (Mt 26, 26-28).

3. BATISMO
São João Batista num ato de reconhecimento e, em alguma medida, de adoração diz a Nosso Senhor: “eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim”. Jesus responde que era necessário cumprir toda a justiça (Mt 3, 14-15). E logo em seguida diz a frase síntese de todos os quatro Evangelhos e que foi assimilada pela liturgia católica: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).

Ele nos dá a chave de leitura do Antigo Testamento: Jesus era o Servo sofredor de Isaías (Is 53, 7). Chave de leitura que será confirmada pelo próprio Jesus após sua Ressurreição (Lc 21, 27). E como são belas as palavras que São João Batista utiliza em relação ao Messias: “não sou digno de lhe desatar as correias” (Jo 1, 27). Elas mostram a atitude de humildade que devemos ter, porque “quem se humilha, será exaltado” (Mt 23, 12). E foi exatamente o que Nosso Senhor fez ao engrandecê-lo, “entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista” (Mt 11, 11).

4. DISCIPULADO
“Então os discípulos de João, dirigindo-se a ele, perguntaram: Por que jejuamos nós e os fariseus, e os teus discípulos não? Jesus respondeu: Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto o esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o esposo. Então eles jejuarão” (Mt 9, 14-15).

Essa passagem nos mostra a importância do jejum. Nosso Senhor recomendou como devemos esconder nosso jejum dos homens (Mt 6, 16) e avisou que alguns demônios só são expulsos com o jejum e a oração (Mt 17, 21). Por isso é importante retomar a prática milenar na Igreja de jejuar às sextas-feiras com a abstinência de carne em memória da Paixão do Senhor (peixe pode comer) e de outro tipo de jejum aos sábados em honra de Nossa Senhora para viver melhor o Domingo, Dies Domini, dia em que por obrigação de amor, nós nos encontraremos com o Esposo da nossa alma na Santa Eucaristia. Por isso faltar a Santa Missa sem motivo justo é pecado grave, pois se escolhe deliberadamente ficar longe do maior tesouro na Terra: Jesus eucarístico. Nada é mais valioso que Ele.

5- PRISÃO
São João Batista é encarcerado a mando do rei, porque passou a acusar publicamente o pecado de Herodes (Mt 14, 3).

"Tendo João, em sua prisão, ouvido falar das obras de Cristo, mandou-lhe dizer pelos seus discípulos: Sois vós aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro? Respondeu-lhes Jesus: Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres... Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda!" (Mt 11, 2-6).

A “dúvida” de São João Batista, como nós também passamos pelas nossas “crises de fé”, tinha uma explicação: Jesus foi o Messias esperado por seu povo e, ao mesmo tempo, inesperado. Por quê? Na condição de Servo sofredor e de Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, a realeza que estabeleceu no nosso mundo foi sobretudo espiritual (Jo 18, 36). Os judeus queriam um rei político que os livrasse do jugo de Roma e os exaltasse para sempre. Essa vitória definitiva só ocorrerá na segunda vinda. Na primeira vinda, Jesus derrotou o principal inimigo: o demônio e suas obras (IJo 3, 8). Ele destruiu o jugo do pecado com sua carne dilacerada na cruz.

6- MORTE
São João Batista é morto a pedido da filha de Herodíades, porque acusou o pecado de adultério do rei com a mulher de seu irmão Filipe. Ela pede a cabeça do profeta num prato (Mt 14, 8).

São João Batista é considerado mártir da Verdade e que exemplo luminoso para o nosso tempo em que a lassidão afrouxou os corações. Ele morreu, não explicitamente por Jesus, mas por ter dito a verdade. Verdade esta que Nosso Senhor reforçou, não apenas negando o divórcio e tornando o casamento indissolúvel (Mc 10, 11), como também ao afirmar que “todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração” (Mt 5, 28).

As pessoas se enganam e se deixar enganar com essa caricatura moderna de Jesus. Uma versão diet de seus ensinamentos. Vejam como Ele se comportou com a mulher pega em adultério e que seria apedrejada. Ele a acolheu com amor e perdoou seus pecados (até aqui o mundo moderno exulta) e, ao final, diz: “vai e não peques mais” (Jo 8, 11). Um balde de água fria, não é? Sim. Mas de uma água viva igual àquela que a samaritana, também em adultério, pediu (Jo 4, 15). E logo em seguida o Senhor arranca seu pecado, “porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade” (Jo 4, 18).

Como essa lição se aplica a nós? Hoje o clero não quer se indispor com o mundo, por isso prega uma versão light sem gordura trans do cristianismo. Como? O Papa já explicou: o padre é preparado anos e anos para o sacerdócio, enquanto os casais em um ou dois encontros e já se celebra um sacramento duradouro até a morte do cônjuge. Aí vem o divórcio e uma nova união ilícita (Mt 14, 4). Qual é a saída para não desagradar aos homens? Ofender mais a Deus. 

“Não há problema algum, Fulano e Fulana, podem comungar à vontade”. E a carta branca para a comunhão em pecado grave é parecida com a carta de divórcio de Moisés por causa da “dureza de coração”. São Paulo já alertou que a Eucaristia se transforma em condenação quando recebida sem discernimento (1Cor 11, 29). E como a Igreja interpretou essa passagem? Não se pode comungar em pecado grave. No Catecismo, isso está cristalino (§1415) e, mais recentemente, no Youcat a Igreja repetiu o ensinamento milenar: não pode abolir essa exigência e as pessoas em segunda união (recasados ou, sem floreio, em adultério) não podem participar da mesa eucarística (§270).

Isso é implicância/preconceito com as pessoas de segunda união? Não. Todo pecado grave impede a comunhão. E toda situação de pecado impede antes a própria confissão. Se você está amarrado a algum pecado grave, não pode sequer se confessar. Por exemplo, um casal que faz sexo antes do casamento (fornicação) e mal passa em sua cabeça deixar esse pecado.

Por fim, a última aula que esse santo nos dá. A receita da santidade está na seguinte frase: “é necessário que eu diminua para que Ele cresça” (Jo 3, 30). Nosso Senhor quando chamou seus discípulos, disse que era preciso renunciar a si mesmo (à sua própria vontade) para então fazer a vontade dEle (Lc 9, 23). Se nós fizermos isso, Cristo viverá em nós (Gl 2, 3). A santidade é você renunciar a si e encher-se dEle. Isso é bem concreto e começa quando abandonamos nossas ideias mundanas de certo e errado para aderir à Verdade que ao ser conhecida, liberta (Jo 8, 32).

São João Batista, mártir da Verdade, rogai por nós para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

O quê dizer sobre os “docinhos de hóstia”?

Em primeiro lugar, para entender o que será explicado nesse texto não é preciso ter fé no “sacramento dos sacramentos” da Igreja católica. Em algumas confeitarias, têm sido utilizadas hóstias não consagradas para “incrementar” doces como se fossem “sanduíches recheados”. Como na foto abaixo.



Se você se chocou com isso, é sinal de que o alarme da sua consciência ainda está operando. Se você não vê problema algum, mesmo sendo católico, a primeira pergunta que deve se fazer é: qual a diferença entre o sagrado e o profano? Se não quiser pesquisar, eu adianto. Etimologicamente, o sagrado é aquilo que foi reservado, separado para o culto religioso. O profano é aquilo que está fora do ambiente/âmbito religioso, isto é, não necessariamente significa desrespeito, mas pode ter este sentido ofensivo também.

A Eucaristia ao longo da história da Igreja recebeu muitos nomes. No Brasil, é conhecida como Comunhão ou só simplesmente Hóstia. Nos quatro Evangelhos, o destaque vai para o capítulo 6 de São João chamado de discurso eucarístico. Nosso Senhor quando falou a primeira vez da Eucaristia perdeu muitos discípulos que pensaram que Ele propunha um “canibalismo literal”. Sem contar a passagem da Última Ceia em que ele instituiu esse sacramento de forma clara e pede que esse gesto se repita em sua “memória” (o termo original significa mais que recordação, é atualização). São Lucas a designa de “fração do pão” (At 2, 42) e São Paulo de pão que “lembra a morte do Senhor” (1Cor 11, 26). Não à toa um dos nomes da Santa Missa é Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.

Não foi só a Eucaristia que recebeu muitos nomes, como também muitas formas. Cada vez mais a Igreja procurou ajudar a fé de seus filhos. Por exemplo, por que existe “toda pompa” numa procissão de Corpus Christi? Com todos aqueles paramentos dourados e objetos como o Ostensório que recorda em seu formato o Sol de Justiça profetizado (Ml 4, 2)? Para que as pessoas, mesmo as não crentes, percebessem que havia algo de diferente, de fora do comum, de, numa palavra, sagrado naquela procissão. Por isso a Liturgia católica se encarregou de “ornar” a Eucaristia com tudo que fosse necessário para realçar sua sacralidade, afinal, nada existe nesse mundo de mais precioso que o Corpo e Sangue do Senhor. Nada é mais valioso.

A própria forma do pão que, mesmo sendo um alimento presente na mesa de muitas pessoas, ganhou com o tempo uma aparência específica e que, por sua simbologia repetida no mundo todo, é facilmente identificada. Vou reproduzir a explicação dicionarizada que é elucidativa: “disco pequeno e muito fino de pão sem fermento”. Esse formato especial se consolidou para ajudar a fé dos fiéis. Se fosse a aparência trivial de pão, ainda que sem fermento, dificultaria mais o ato de fé na Eucaristia. Para crer na Eucaristia em que os sentidos humanos falham como diz Santo Tomás, é preciso de toda a ajuda possível, não só da graça divina em primeiro lugar, como também de todo recurso humano e esse formato especial ajuda sobremaneira nisso. Os sentidos falham porque a Eucaristia tem cheiro de pão, tem gosto de pão, tem aparência de pão, mas por causa da palavra de Nosso Senhor é seu Corpo divino. O mesmo ocorre com o vinho transformado em sangue. Esse é o cerne do dogma da transubstanciação.

Dogma este que satanistas, por exemplo, entendem muito bem quando vão às Igrejas católicas, fingindo comungar, para recolherem o corpo do Senhor para seus rituais macabros como as “Missas Negras” e coisas afins igualmente horrendas e abomináveis aos olhos de Deus. Mas até nesse terrível mal – o pior dos pecados – vemos a bondade de Nosso Senhor que preferiu suportar esse crime tremendo a nos deixar sem sua presença e, sobretudo, seu divino corpo como alimento como nos explica Santo Afonso ou da “medicina de imortalidade” nas palavras de Santo Inácio de Antioquia, o primeiro a designar a Igreja de “católica” (universal e única).

Parêntese: para evitar esses crimes é importante que os padres incentivem a Comunhão na boca e, preferencialmente, de joelhos ou, no mínimo, com uma flexão com o corpo. Se o padre não se importa, o leigo tem o direito a receber desse modo.

Depois desse longo caminho, o quê fazem os “docinhos de hóstia”? Eles transportam o “sagrado” para o “profano”, para a “vulgarização”, para a recepção com irreverência. Ainda que a “hóstia” não esteja consagrada. A sua aparência típica está inserida numa simbologia sagrada, separada para o culto religioso. E não é um culto religioso qualquer. É o ato máximo de culto que os católicos prestam ao Pai por meio de seu Filho graças ao Espírito Santo (epiclese).

A pessoa que inventou isso, se não tinha essa intenção deliberada, deu lugar ao demônio (Ef 4, 27). É uma ideia satânica porque o docinho de hóstia destrói devagar a reverência que devemos à aparência específica da hóstia. E da irreverência para a perda da fé não é um passo distante. Quando você se habitua a profanar o que é sagrado, o sagrado perde sua identidade/ sua essência e passa a ser profano.

Por isso o docinho de hóstia não pode ser estimulado. Recomendamos que não compre, não coma e exorte à confeiteira que isso não é correto. E, ainda que você não se importe e professe a fé católica, você precisa ter caridade com seus irmãos. Se o docinho de hóstia é pedra de tropeço para eles, se isso os escandaliza, você tem que cumprir o mandamento do amor próximo e lutar contra o docinho de hóstia. Com todas as suas forças.

Se você é protestante e não acredita nessas “baboseiras de idólatras”, você também está vinculado ao segundo mandamento mais importante que resume a lei e os profetas (Mt 22, 20). E se não nos considera irmãos em Cristo, e sim, “inimigos da sua fé”, deve nos amar, nos respeitar e orar por nós (Mt 5, 44). Não deve nos ofender como fez uma cantora gospel nos tachando de “adoradores de bolacha branca”. Isso ofende a caridade cristã. E se em sua igreja, existe o costume da ceia do Senhor, é provável que acreditem na consubstanciação como Lutero alegava. Portanto, tem um motivo extra para nos ajudar a impedir que os docinhos de hóstia sejam mais incentivados.

Se você não é cristão, mas conhece o que é amar e entende a importância da religião e do papel da Igreja católica na sociedade (e no mundo com a construção da civilização ocidental conforme o documentário do PhD Thomas Woods disponível no YouTube), IMPLORAMOS seu apoio e sua compreensão. Ajude-nos nessa campanha de preservar a fé católica.

Que Deus lhe abençoe imensamente por divulgar esse artigo.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

O CÉU É DE VERDADE: onde está Maria?



Um amigo assistiu ao filme O CÉU É DE VERDADE e me perguntou: onde estava Maria, mãe de Jesus?

Em primeiro lugar, o filme nasceu de um livro que narra o "impressionante relato do menino que foi ao céu e voltou para contar". Colton Burpo, filho de Todd Burpo, durante uma cirurgia de emergência é transportado ao céu e conta aos pais o que viveu. Importante destacar que Todd é pastor da Igreja Wesleyana em Nebraska (EUA), ou seja, é protestante.

E daí? Realmente, e daí? No epílogo, num singelo parágrafo, bem "an passant", Todd responde a dúvida de meu amigo:

"Muitos dos nossos amigos católicos perguntaram se Colton viu Maria, a mãe de Jesus. A resposta a isso também é sim. Ele viu Maria ajoelhada diante do trono de Deus e outras vezes, sentada ao lado de Jesus. "ELA AINDA O AMA COMO UMA MÃE", disse Colton (p. 185).

É claro que ele não poderia dar maior ênfase a isso. Mas existe algo diferente além daquilo que está na Bíblia? Não, pelo contrário, só reforça o que está nos Evangelhos em 6 comentários:

a) Maria é a única criatura elogiada por um anjo em toda a Bíblia (Lc 1, 28);

b) Maria é chamada por Santa Isabel, cheia do Espírito Santo, de: "bendita entre todas as mulheres" e se questionou a que devia a HONRA de ser visitada pela Mãe do seu Senhor (Lc 1, 43);

c) Maria profetiza que "todas as gerações a proclamariam BENDITA/BEM-AVENTURADA" (Lc 1, 48);

d) Graças à INTERCESSÃO de sua Mãe que Jesus realiza o primeiro milagre que dá início à sua missão salvadora (Jo 2, 1-12); "pede a Mãe que o Filho atende".

e) Mais do que a maternidade física (Lc 11, 27-28), Maria gerou Jesus na fé e na obediência à Palavra de Deus, o que é confirmado por seu Filho que a entrega como MÃE (MÃE, MÃE, MÃE... internaliza...) do DISCÍPULO AMADO (Jo 19, 26-27);

f) Maria é a MULHER anunciada no Gênesis (3, 15), cuja missão é lembrada por sua descendência, isto é, seu próprio Filho (Jo 19, 26), e aparece no Apocalipse (12, 1), ou seja, MARIA É A MULHER DA BÍBLIA, DO INÍCIO AO FIM, PORQUE MAIS DO QUE CARREGAR UM LIVRO QUE SE DESBOTA COM O TEMPO, ELA CARREGOU A PALAVRA VIVA DE DEUS, O VERBO DE DEUS, NO SEU VENTRE (Jo 1, 2) e, nas palavras de Colton, no Céu, nesse exato momento, "ELA AINDA O AMA COMO UMA MÃE".

Por fim, vale a pena ver o filme? Sim. E o livro? Sim. 

quarta-feira, 14 de junho de 2017

São Pedro e São Paulo refutam o protestantismo



No dia 29 de junho, a Igreja celebra a Solenidade de São Pedro e São Paulo. Ambos são comemorados juntos, porque dentre outras razões, compõem os dois pilares sólidos sobre o qual a doutrina católica fora construída.

São Pedro, tido não só como o primeiro Papa, mas também Apóstolo por excelência entre os judeus. Enquanto São Paulo, Apóstolo entre os gentios (pagãos). O Concílio de Jerusalém, o primeiro concílio da Igreja, está descrito nos Atos dos Apóstolos e evidencia uma das muitas dificuldades teológicas que viriam a seguir sobre a obrigatoriedade ou não da circuncisão para os gentios (At 15, 2ss).

O protestantismo construiu suas múltiplas doutrinas na areia, mas dois erros principais saltam aos olhos. O primeiro erro é o “sola scriptura”, de que basta a Bíblia e todo o resto não tem valor algum. A própria necessidade de se convocar um concílio deveria ser suficiente para debelar esse engodo.

Se a Bíblia, segundo os protestantes, devia ser a “única fonte” e nela está “toda” a Palavra de Deus, por que os apóstolos não sabiam a resposta imediata para tal questão se escutaram o ensinamento diretamente de Nosso Senhor e tinham conhecimento das Escrituras como bons judeus que eram? Ir contra a circuncisão, conforme uma corrente, era se opor a uma regra que estava prevista para o povo judeu.

Até São Paulo, “verdadeiro hebreu; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível” (Fl 3, 5-6), não procurou a resposta sozinho nessa matéria, mas a submeteu ao juízo de um conselho dos outros apóstolos e anciãos.

O Antigo Testamento tinha uma chave de leitura que foi entendida pelos apóstolos. Qual era? Nosso Senhor a mostrou para os discípulos de Emaús (Lc 24, 27). A chave de leitura era Ele próprio. Ou nas belas palavras de São Paulo que compactam 46 livros numa sentença: "Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo." (Cl 2, 17) Quem lê o AT, sem os olhos no NT, sendo já cristão, não aproveita a riqueza que a meditação dessa forma tem a oferecer.

É claro que a decisão conciliar foi só a “ponta do iceberg” daquilo que Nosso Senhor avisara aos seus discípulos: “o Espírito da Verdade irá ensinar-vos toda a verdade" (Jo 16, 18). Em outras palavras, a doutrina da Igreja católica não estava formada, consolidada e, mesmo após o Novo Testamento pronto, continuou a ser aperfeiçoada, aplicada em novas questões.

Temos outro exemplo que desmente o “sola scriptura”. Em 2Tm 3, 8, S. Paulo se utiliza da tradição judaica ao falar que Janes e Jambres resistiram a Moisés e isso não está na Bíblia (registrado formalmente). S. Paulo se refere a um caso que está na tradição de seu povo e não na Escritura Sagrada, nem por isso "não tem valor algum".

Além do mais, S. Paulo exorta aos tessalonicenses (2Ts 2, 15) que conservem os ensinamentos que aprenderam dos apóstolos, seja por PALAVRAS (via oral), seja por carta (via escrita). Em outras palavras, o óbvio ululante: a via escrita nunca foi o critério exclusivo, até porque não há uma passagem sequer que comprove isso, tanto no AT quanto no NT. Se alguém perguntar a um protestante qual é a coluna e sustentáculo da verdade, o que ele dirá? Bíblia. Resposta errada. É a "Igreja do Deus vivo" (1Tm 3, 15).

Portanto, foi essa Igreja do Deus vivo que nos deu a Bíblia tal qual a conhecemos (clique aqui para aprofundar). Para quem conhece um pouquinho do contexto histórico, a Bíblia é um conjunto de tradições orais que foram compiladas com o tempo. Logo, primeiro foram vividas, contadas de uma geração para outra e depois escritas. É claro que os protestantes usam o “sola scriptura” para negar mais de dez séculos de história da Igreja alegando que "a Igreja se corrompeu com Constantino ('paganizou')", "nós estamos certos"; "seguimos a Bíblia como deve ser"; "somos o cristianismo autêntico" etc.

Se São João reconhece que seu Evangelho foi um resumo, já que não poderia contar tudo que sabia acerca de Jesus (Jo 20, 30-31; 21,25), quanto mais os ensinamentos dos apóstolos (At 2, 42) que, apesar de não terem sido totalmente incorporados à Bíblia, continuaram influenciando os discípulos como a seiva que irriga uma árvore. A isso damos o nome de Tradição que é uma das fontes da doutrina católica. Sem falar no exercício do Magistério como se verificou no Concílio de Jerusalém.

Lembre-se que: o catolicismo não é a “religião do livro” (n. 108, Catecismo da Igreja Católica). Seu tripé é: Bíblia, Tradição e Magistério. A Igreja é Cristo continuado na história (At 9, 4), ou seja, é seu Corpo (1Cor 12, 27). O Espírito Santo continua não só recordando a Verdade (Jo 14, 26), como A ensinando durante dois mil anos (Jo 16, 13).

Mas ainda falta debelar o segundo erro.  Trata-se do “livre exame” que afirma que qualquer pessoa que ler a Bíblia será inspirada por Deus e interpretará certo. São Pedro nos mostra o caminho:

“Pois deveis saber, antes de tudo, que nenhuma profecia da Escritura é objeto de explicação pessoal, visto que jamais uma profecia foi proferida por vontade humana. Ao contrário, foi sob o impulso do Espírito Santo que pessoas humanas falaram da parte de Deus”. (2Pd 1,20-21)

Portanto, os textos da Bíblia devem ser interpretados em sintonia com a Igreja. Para isso, é preciso estar em comunhão com a Tradição (ensinamento deixado pelos Apóstolos e que não foi escrito: At 2, 42) e o Magistério de dois mil anos (ensinamento do Papa junto com os bispos no mundo inteiro). Qualquer coisa fora disso é pessoal.

É incrível como os dois pilares da Igreja Católica refutam os dois principais erros do protestantismo que tanto mal fizeram e fazem ao nosso tempo tão conturbado. Encerro, por fim, com uma máxima de Santo Agostinho dita no século IV que sintetiza todo esse artigo: “eu não creria no Evangelho se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica”.


São Pedro e São Paulo, rogai por nós!

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Carta aberta aos professores sobre ideologia de gênero


Aviso aos navegantes: é um texto extenso, embora escrito em linguagem acessível! Se não estiver com tempo, é melhor ler outra hora. Não recomendaria que o ignorasse. No entanto, tudo que nos resta é decidir o que faremos com o tempo que nos foi dado nesse mundo!

Existe um ponto importante que está sendo ignorado nessa discussão, sobretudo por quem é contra a ideologia de gênero. E é peça fundamental: os próprios professores. Nas vezes em que tive a oportunidade de presenciar as discussões em âmbito municipal, eu percebi certa reserva e desconfiança por parte de secretários da educação e alguns professores como se ao tentar retirar as “expressões coringas” dos planos municipais e estaduais quiséssemos expô-los ao ridículo ou mostrar que não estavam fazendo até agora seu trabalho corretamente.

Não é nenhuma das duas coisas. Quando nos levantamos contra a teoria de gênero, não queremos criar um ambiente entre “nós” (a família) e “eles” (os professores colocados contra a parede como se fossem vilões). Nós sabemos muito bem que não é esse o quadro real, tampouco é possível construir uma educação autêntica sem a participação dos dois lados.  A ideologia foi introduzida no país de cima para baixo por uma minúscula cúpula que não representa de modo algum a maioria dos professores. (MEC e CNE sob a direção do Partido dos Trabalhadores em 2014).

Aproveito a ocasião para pedir desculpas públicas se em algum momento um manifestante tenha se alterado e pensado equivocadamente que a “culpa” era do professor do Município ou do Estado que, como sabemos, já é tão vilipendiado em nossa sociedade. Talvez esse excesso e até “irracionalismo” tenha ocorrido pelo desejo de proteger um bem inestimável (nossas crianças) e a incompreensão de modo fazê-lo, o que descamba em grosserias e ofensas mútuas, ambas condenáveis.

 Eu sei que talvez e, com alguma razão, os professores vejam essas manifestações contrárias como hipócritas, ao passo que se os pais não se importam com a vida do filho no cotidiano da escola, por que aparecem depois como “paladinos da moral” numa “questão até ingênua”? A coisa posta assim é incompleta e falsa. Vou demonstrar o porquê.

Em primeiro lugar, é importante ter em mente o seguinte: o número de pessoas que defendem a ideologia de gênero é reduzidíssimo. E mais: entre aqueles que a defendem, poucos a conhecem a fundo e entendem a extensão da coisa. Tem apenas uma visão superficial criada justamente para seduzir e conduzir à sua aplicação. É o marketing que os ideólogos fazem para ela ser vendida mais facilmente. Não expõem às raízes de quem a teorizou, porque sabem que seria rejeitada de plano. Ao final, exporei as balizas teóricas e filosóficas da ideologia e se, após conhecê-las, o professor disser “é realmente isso que nos falta”, estará no exercício da sua liberdade de pensamento.

Preciso antes de cumprir o que prometi, abordar outro aspecto nesse contexto tão complexo. Quando, depois de passada a fase de audiências públicas nas secretarias, o debate migra para a Câmara Municipal ou Assembleia Legislativa e os membros pró-vida pressionam os parlamentares para negarem a ideologia, não se quer dizer que estes são as pessoas mais indicadas para tratar sobre a educação. Até porque, infelizmente, em não raros casos lhes faltam até um mínimo de educação formal e estão no rol de analfabetos funcionais.

A pressão ocorre, porque, segundo as regras do jogo, são eles os representantes do povo. Eles precisam representar os eleitores que os elegeram. Precisam ser um espelho das posições das suas zonas eleitorais. E, como somos a maioria, queremos reafirmar nossos valores e somos protegidos pelo Direito, nacional (Constituição e demais leis) e internacional (tratados) para tanto que colocam o dever da família como prioritário e intransferível para educar moral e sexualmente nossos filhos. Nesse sentido, se os pais se opõem, a ideologia não pode virar política pública de ensino. É relativamente simples nesse quesito.

Mas eu volto: a política é a arena adequada para essas discussões. É possível que os professores vejam isso com desprezo. Quem é o vereador ou deputado tal para dizer isso ou aquilo sobre educação? Essa preocupação é legítima e compreensível, mas, no contexto, é pontual e pequena (não pedimos a reformulação integral dos planos, só um ponto específico que parece insignificante, contudo quando visto com um olhar apurado é assustador e exige uma ofensiva direta).

 Quem está mais habilitado para dizer o que deve ser feito? Esse é um tema antigo no Direito entre democracia e técnica. O parlamentar ou o estudioso? Num regime democrático, é o parlamentar, quer se goste, quer não; quer se faça bico, quer não, a menos que abramos mão da democracia. O papel do estudioso é dar as razões (na visão dele, as melhores razões) e persuadir os parlamentares. Nem sempre a melhor razão vence, até porque a democracia não está fundada num critério de veracidade (qualitativo), e sim, de legitimação pelo número (quantitativo).

Com esse horizonte mais ampliado, é necessário reafirmar: a luta contra a ideologia de gênero, ainda que não pareça num primeiro momento e gere estranheza, é por uma educação de qualidade e efetiva (objetivos que nenhum dos dois lados, pais e professores, discordariam). Finalmente, depois de ocupar o precioso tempo de vocês entre turnos ininterruptos de aulas, prossigo.

O quê é isto a “ideologia de gênero”?

Em primeiro lugar, a coisa que precisa ser esclarecida de plano é: ser contra a ideologia de gênero não significa ser a favor de qualquer tipo de preconceito ou a favor de qualquer tipo de discriminação, ou, mais especificamente, como alegam alguns a favor da homofobia/transfobia/lesbofobia/lgbtfobia ou o que quer mais que venha “em anexo”.  Eliminar esse raciocínio dual e simplista de que se é contra algo, logo faz você ser a favor em bloco de uma série de atitudes ruins e condenáveis, seja no plano jurídico, seja no plano moral, é importante numa discussão tão acirrada e acalorada.

Nossos adversários na política (movimentos feministas, LGBTs, PSOL, PT e cia.) pensam que somos a “encarnação do mal” por nos opormos a uma ideologia que foi espalhada desde cima no movimento deles sem que se dessem conta – a maioria – e a maioria, no espírito de manada, passou a defendê-la sem grande consciência dos reflexos que possui.

Mas, afinal, vamos à “possível” definição conceitual: o que seria a ideologia de gênero? E por que devemos nos opor a ela? Por que ela não deve ser ensinada às nossas crianças? Quais são os riscos de colocá-la no ordenamento jurídico? E por que não deveria ser absorvida por ele?

Quem pela primeira vez defendeu que a diferença entre mulher e homem residia mais na educação do que no sexo foi o psicólogo neozelandês John Money. Ao passo que foi o psicanalista Robert Stoller na década de 60 quem atribuiu um sentido diferente à palavra gênero do que fazemos normalmente. No dicionário convencional, gênero é tratado como sinônimo de sexo, mas, aproximadamente, desde essa época o uso da palavra mudou, ganhando uma finalidade instrumental e ideológica.

1) O quê é gênero?

Nem os defensores chegam a um acordo muito claro e preciso, mas a maioria parte de uma premissa: o sexo, masculino ou feminino, com que se nasce é um fator irrelevante. Não se nega o sexo, mas o coloca como um dado pré-humano, animal, insignificante, que não repercute em nenhuma outra esfera da vida. O que importa, dizem eles é o “gênero”, que seria a construção social que a “pessoa” faz da sua identidade que não mantém qualquer relação com seu sexo.

Logo, é um conceito “construtivo”. Para os ideólogos, a genética e a biologia nada podem dizer sobre o gênero. Logo, não se nasce “menino”, nem “menina”, é tudo uma imposição cultural e opressora do gênero heterossexual que dominou todos os espaços e se camuflou ao longo dos séculos com uma máscara de pertença à natureza, de ser o “natural”, e assim, passou “despercebido”.

2) Quais são “os tipos de gênero existentes”?

Segundo a socióloga francesa Marie-Hélène Bourcier no livro “Queer Zones”, os gêneros são inúmeros. Já para a filósofa italiana Maria Michela Marzano, os gêneros são uma “infinidade de escolhas possíveis” que são tantos quantos forem as pessoas dispostas a construí-los conforme sua vontade.

3) Existem os gêneros mais “repetíveis”?

Sim, são eles: o heterossexual, o homossexual, o lésbico, o transexual, operado ou não, o bissexual, o indiferenciado etc. Namastè em “The Politics inside/out” vai defender que existe o trans-gênero, grupos que vivem fora das categorias tradicionais de gênero, são elas: travestis, drag queens, passing women, hermafroditas, stone butches e diversos “fora da lei do sexo que desafiam as taxonomias reguladoras”.

Em vídeo de divulgação da ideologia, o YouTube lançou uma campanha com o nome de “Orgulho de Ser” que traz novos nomes: agênero, não binário, omnissexual, polissexual, pansexual etc.

É como acabei de dizer: os gêneros são inúmeros ou uma infinidade de escolhas possíveis, embora também seja tratado com um “conceito guarda-chuva”. Uns contabilizam cinquenta, outros mais de cem.

4) O que propõe efetivamente a ideologia de gênero?

É uma pergunta difícil, mas, em breves palavras, pretende fazer uma revolução total na compreensão da política, da economia, do direito, da moral etc. Todos os setores da vida humana seriam relidos, melhor, desconstruídos a partir de todas as nuances “identitárias” do gênero e do trans-gênero que acabei de expor. Quem diz isso é Judith Butler, uma das principais teóricas, no livro “Problemas de Gênero” com tradução no português. E em alguma medida é o que defende a feminista Shulamith Firestorne em “A dialética do sexo” (que defende inclusive a pedofilia e o incesto como novas formas de expressão sexual para “quebrar tabus”).

Numa analogia simples: querem desmoronar uma casa para que dos escombros surja algo novo que não fazem ideia do que será e depositam a fé que será algo melhor do que temos no presente. O que virá num futuro idealizado, será melhor. É esse o segundo ato de fé que fazem. O primeiro é que o sexo não interfere em nada. Mas vamos por partes.

5) Como os defensores da ideologia de gênero a vendem para os professores? Qual a imagem eles criam para que ela seja comprada?

O primeiro passo é dizer que se trata de combater a discriminação, o preconceito e todas as fobias que elencamos acima. Dizem eles: se a ideologia for ensinada às crianças, elas serão mais tolerantes, menos preconceituosas, logo, serão pessoas melhores como nós, os defensores, o somos. Qual pai ao ouvir isso ou professor se oporia? Quem não quer que seu filho seja melhor? Mais tolerante? Ainda mais num mundo tão cruel como o atentado ISLÂMICO em Orlando comprova (embora coloquem os cristãos na defesa dos seus valores como um “Estado islâmico em potencial”). Mas as coisas não são tão simples como parecem ser. O buraco é mais fundo.

6) O gênero no âmbito internacional: dificuldades dialogais.

É possível datar que os movimentos pró-gênero (feministas, LGBTs etc.) desde a década de 90 vêm tentando implantar sistematicamente a ideologia com algum sucesso no plano internacional. Com algum sucesso, porque ludibriaram os representantes dos países ao mudarem a palavra “sexo” por “gênero” sem definir o significado e a extensão do conceito, aprovaram pensando se tratar de sinônimos.

No livro “Agenda de Gênero”, Dale O’Leary explica como a estratégia se deu de maneira sorrateira, pegando a todos de surpresa. Aqui entra outro modo da ideologia ser vendida aos leigos: a defesa da “igualdade de gênero” na luta a favor das mulheres. A “igualdade de gênero”, se bem aplicada e vivida, faria com que o machismo ruísse e as mulheres se emancipassem definitivamente. Alcançassem a sua “libertação”. Foi na Convenção de Pequim em 1995 que a palavra gênero apareceu oficialmente pela primeira vez.

Podemos resumir os dois fronts que a ideologia assumiu para si: contra a discriminação por orientação sexual (a favor dos direitos LGBTs) e contra o machismo (a favor das mulheres). Essa é a propaganda. E, ao mesmo tempo, a ideologia traz essas duas promessas básicas: se aplicada, os LGBTS serão respeitados e as mulheres “liberadas”. É assim que ela opera como um navio fura-gelo e amplia seu alcance para além do debate acadêmico nas ciências sociais que lhe deram expressão e engajamento.

7) O que dizem as ciências naturais, as hard sciences?

Aqui temos o principal choque: os estudos mais modernos e avançados demonstram que o sexo, isto é, a biologia e a genética possuem um papel relevante nas nossas escolhas como pessoas. Ninguém está a negar que a cultura tenha uma contribuição e ingerência, mas cientificamente não é possível negar como os ideólogos fazem, aqui está o primeiro ato de fé e ato fundacional, de que o sexo biológico não tem consequência psíquica alguma sobre o ser humano.

Um livro que traz esses estudos de modo mais simplificado e acessível ao grande público é: “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?” Ali os autores expõem uma série de pesquisas de renomados cientistas sobre o cérebro humano e os efeitos dos hormônios sobre o comportamento que escapam ao elemento cultural. E mais: como o sexo influi no que é apontado como pura construção e imposição culturais de um gender dominante, no caso, o heterossexual.

Em outras palavras, não é só o conceito de gender que é nebuloso, indefinido e indefinível para os próprios teóricos, também a sua verificação empírica é questionável pelos modernos estudos. Para ser mais claro: não é possível ensinar uma ideologia (com a pretensão que tem de uma revolução total em todos os campos a partir do domínio da linguagem como afirma Judith Butler expressamente no seu livro citado. Nem Karl Marx foi tão ambicioso!) que é dúctil e lhe falta uma rigorosa análise científica, aliás, a ciência indica o caminho de que a ideologia é furada! Esse é o problema sinalizado por Russell Kirk em “A política da prudência” de que toda ideologia padece em relação à realidade: é míope, sectária e limitada, embora sempre traga um projeto de alterar o mundo (aspecto prescritivo).

8) A ideologia na prática: a tragédia de uma família inteira.

Esta história começa na famosa universidade Johns Hopkins, na cidade de Baltimore, Estados Unidos. É aí que o médico neozelandês John Money e sua equipe se destacam por sua pesquisa nas áreas de sexologia e por cunhar, em seus trabalhos, termos como "papel de gênero" e "identidade de gênero". A sua teoria é a de que o sexo das pessoas, ao invés de ser dado pela nature["natureza"], é uma questão de nurture ["educação"]. Assim, uma criança em tenra idade, mesmo com o aparelho genital de um sexo, poderia ser criada e educada como sendo de outro sexo. A biologia seria subvertida pela psicologia, ou, dito em outros termos, o projeto do Criador poderia ser arbitrariamente transformado pelo homem.

Até 1967, as ideias de John Money já eram mundialmente famosas, mas permaneciam no papel. É quando a família Reimer decide recorrer ao renomado médico: um de seus filhos gêmeos, Bruce, teve seu órgão genital cauterizado durante uma circuncisão, e a sua mãe, Janet Reimer – interessada após assistir a um programa de televisão sobre a teoria do dr. Money – decide confiar ao médico o problema de seu filho.

Nas mãos de Money, Bruce, com apenas 22 meses de vida, sofre uma intervenção cirúrgica e passa a chamar-se Brenda. Recebendo acompanhamento constante do doutor, a família Reimer era a cobaia de que Money precisava para provar de vez sua teoria. De fato, o médico neozelandês escreve vários estudos usando o caso Brenda como "prova dramática" de que sua "teoria da neutralidade" estava correta: se era possível educar um menino como menina, homens e mulheres não eram mais dados biológicos, mas meras "aprendizagens sociais".

No entanto, à medida que Brenda cresce, sua mãe nota algo de muito errado. "Eu via que Brenda não era feliz como garota, não obstante o que eu tentasse fazer por ela ou como eu tentasse educá-la, ela era muito rebelde, era muito masculina e eu não conseguia convencê-la a fazer nada que fosse feminino", conta Janet Reimer, em um documentário produzido pela BBC. "Brenda não tinha quase nenhum, nenhum amigo enquanto crescia. Todo mundo realmente a matava, chamavam-na de 'mulher da caverna'. Ela era uma garota muito só" [http://www.bbc.co.uk/science/horizon/2000/boyturnedgirl.shtml].

Aos catorze anos, já longe dos olhos de Money e cada vez mais isolada socialmente, Brenda descobre, de sua mãe, que nascera como homem e tinha sido criada como mulher à força. A partir de então, ela muda seu nome para David e tenta, apesar de tantos percalços, levar uma vida comum, como homem. No entanto, a morte de seu irmão por uma overdose de antidepressivos, em 2002, aliada a um casamento conturbado, culmina em uma tragédia: no dia 4 de maio de 2004, David deixa a casa de seus pais pela última vez, vai a uma mercearia e comete suicídio.

Antes desse fim dramático, David Reimer expôs o seu caso à mídia, a fim de tornar públicas a perversidade das ideias de Money e a farsa de sua "teoria de gênero". "Era-me dito que eu era uma garota, mas eu não gostava de me vestir como uma garota, eu não gostava de me comportar como uma garota, eu não gostava de agir como uma garota", confessa David[https://www.youtube.com/watch?v=msLLrechWyQ]. "Eu não sou um professor de nada, mas você não acorda uma manhã decidindo se é menino ou menina, você apenas sabe".

"Não se acorda de manhã decidindo se se é menino ou menina": essa lição foi aprendida a um alto custo pela família Reimer. É esse o mesmo custo que as famílias brasileiras querem pagar, aceitando que a ideologia de gênero seja implantada em nossas escolas?

Quando se combate a inserção do termo "gênero" no ordenamento jurídico brasileiro, não se está a afirmar uma posição "discriminatória" ou "preconceituosa", como insinuam alguns grupos. Ao contrário, o que se pretende é que o Brasil seja livre de uma teoria comprovadamente mentirosa e ideológica. Ou queremos, por acaso, copiar os experimentos ridículos de Money e repetir o drama da família Reimer no seio de nossas famílias?

"Você vai sempre encontrar pessoas que vão dizer: bem, o caso do Dave Reimer podia ter tido sucesso. Eu sou a prova viva, e se você não vai tomar minha palavra como testemunho, por eu ter passado por isso, quem mais você vai ouvir?" [idem 2]. Que a alma de David Reimer descanse em paz. E que a sua conturbada vida lembre às pessoas o quanto é terrível subverter o plano do próprio Criador inscrito na natureza humana.

9) A ideologia de gênero é paradoxal na teoria e na prática.

Na teoria, porque, ao mesmo tempo, em que advoga e promete mais autonomia para o sujeito se definir, construir sua identidade, traz “em anexo”, em seu bojo, várias propostas prontas sobre como encarar a sexualidade, o que pensar em relação à “família”, o “dever” de ser favorável à legalização do aborto, como desconfiar do “casamento monogâmico”, a defesa das uniões gays etc.

Na prática, como demonstra o documentário “O paradoxo da igualdade” na Noruega, onde mais foi implantada, inclusive num exemplo esdrúxulo de que as crianças usassem uniforme laranja para não se identificarem como meninos – roupa azul – e meninas – roupa rosa, mais agravou o quadro de disparidade nas profissões ditas “masculinas” e “femininas”. Foi um tiro no pé! Sem contar as outras evidências científicas que o documentarista expõe e deixa os ideólogos de “boca aberta” literalmente.

10) A ideologia virada matéria de ensino obrigatória por meio da lei, é salutar que assim seja?

A resposta é não. Não vou entrar tanto em outro problema sério em qual o papel da escola que, como acredito e a maioria também, não é se tornar um centro de difusão de ideologias totalitárias (sim, em alguma medida, é aonde a teoria de gênero nos conduz após o crepúsculo das grandes ideologias políticas no século XX; é uma reformulação com potência mais destrutiva que tudo que se viu até então; não é possível dizer que “acabada”, porque ainda opera “construtiva e dialeticamente” em negações e afirmações contínuas para usar uma linguagem mais filosófica. Está assentada em quatro pilares: pós-estruturalismo, ultraliberalismo, neomarxismo e existencialismo).

A questão é que ante o exposto, não é possível que o conceito de gênero seja adotado pelo ordenamento jurídico sem que isso cause toda uma ruptura no próprio sistema. Nosso direito está fundado na certeza e na estabilização dos conflitos (raízes da tradição da civil law). Não é possível adotar um conceito ambíguo que está mal resolvido inclusive no plano internacional. Não é possível inserir um vírus que o faça ruir abaixo. É um ato de fé muito grande esperar que das cinzas da destruição surja um mundo novo como apostam os defensores.

Em outras palavras, a expressão “gênero” não é tão elucidativa como outras que nosso ordenamento já absorveu: sexo, raça, cor, religião etc. Aliás, se o problema é a discriminação contra os LGBTs e a desigualdade em relação às mulheres há arsenal jurídico e teórico suficientes para lidar com essas difíceis questões e não precisamos da importação de ideologia para cumprir esse desiderato, embora se prometa cumpri-lo, as condições para tanto são mínimas ou zero pela própria “natureza” do que defendem. Se nem eles sabem o que gênero pode vir a se tornar, como garantem que livrará a humanidade dos males da intolerância? E emancipará todos os oprimidos?

Essa garantia não existe! E, embora não tenha sido essa a inspiração, cabe dizer que a ideologia de gênero nas suas raízes estadunidenses – sem levar em conta as subvenções vultosas que recebe do capital financeiro das fundações americanas – são, ao fim e ao cabo, uma nova forma de colonialismo cultural sobre os países em desenvolvimento e mais pobres. Ela tem que ser encarada como um novo tipo, mais sofisticado, é claro, de imperialismo cultural. Muito mais daninho porque camuflado e passado em nossas terras como se fosse coisa nossa, mas não é! É uma ideologia “de gabinete” que não se sustenta na realidade e a própria ciência o atesta. Não é assim que vamos solucionar nossos problemas que comparativamente são muito mais gravosos do que os do país de origem.

11) Convém ensinar ideologia de gênero a uma criança e/ou a um adolescente em formação?

Essa é uma pergunta que acredito que você, professor, tenha condições de responder agora. Se não quiser acreditar em mim, não há problema. Recomendo alguns livros em português que abordam o assunto para que aprofunde e chegue às suas conclusões sozinho: “Gender, quem és tu?” (Olivier W.), “A ideologia de gênero” (Jorge Scala), “A ideologia de gênero nas escolas” (Marisa Lobo), “Agenda de Gênero” (Dale O’Leary).

Vamos aos dados. Segundo o levantamento do Fórum Econômico Mundial, o Brasil está na 133ª posição de 139 nações e um dos piores é MATEMÁTICA e CIÊNCIAS. Em pesquisa feita pela UnB, mais de 50% dos UNIVERSITÁRIOS brasileiros são ANALFABETOS funcionais. Vou repetir: UNIVERSITÁRIOS. Em 2014, 70% da população não abriu um livro sequer. 27% dos brasileiros, segundo o IBGE, são analfabetos funcionais. 13 milhões são analfabetos absolutos (não sabem ler, nem escrever nada). E poderia ficar aqui citando mais e mais dados e estatísticas.

De novo: a ideologia de gênero é um problema nosso?

No lugar de debatermos formas de superarmos a pobreza e o analfabetismo, por exemplo, gastaremos o tempo de nossas crianças para assimilarem vômito ideológico dos EUA, que é um assunto mal-resolvido entre eles mesmos, afinal, como “ensinar” sobre “gênero”, uma vez que se trata de “infindáveis escolhas”, sendo possível até que cada pessoa tenha um gênero para chamar de seu?

Definitivamente, essa não pode ser uma questão premente para uma criança e adolescente do Brasil. Não é um problema nosso tanto que no Plano Nacional de Educação em que a inclusão da ideologia foi rechaçada. O Congresso Nacional já sinalizou que esse não é um assunto do Brasil. Não podemos nos tornar laboratórios de ideias malucas vindas do exterior, embora quem as defenda aqui faça com um propósito claro: possuem rabo preso, muitas ONGs são subvencionadas com dinheiro internacional dessas fundações.

O Brasil, mais uma vez, precisa mostrar a sua cara. Contamos com o apoio de vocês, professores, que nos ajudem a entoar esse sonoro não!

domingo, 11 de junho de 2017

Não seja réu do Corpo de Cristo!



“O que come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não fazendo discernimento do corpo do Senhor” (1 Cor 11, 29)

Sumário. Antes de te aproximares da Mesa eucarística, examina sempre a tua consciência, e se por desgraça tiveres remorso de alguma falta grave, purifica a tua alma pela confissão sacramental. Quanto às culpas veniais, esforça-te por tirá-las de tua alma, ao menos as que forem deliberadas, e afasta de ti tudo que não seja [de] Deus. Ai daquele que comunga indignamente! Torna-se réu do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, e, portanto, come-o e bebe-o para a sua própria condenação.

I. Consideremos o enorme pecado que comete aquele que se atreve a chegar-se à sagrada Mesa com pecado mortal na alma. Este pecado é tão enorme que São João Crisóstomo, comparando-lhe todos os demais, não acha outro igual e diz que quem o comete, especialmente, sendo sacerdote, é muito pior do que o próprio demônio. São Pedro Damião explica a razão dizendo: “Se com os outros pecados ofendemos a Deus nas criaturas, com este ofendemo-Lo em sua própria pessoa”.

Que dirias do perverso que tirando a sacrossanta Hóstia da âmbula sagrada, a atirasse ao vil monturo (lixão)? Pior do que isso, diz São Vicente Ferrer, faz aquele que tem a ousadia de comungar sacrilegamente; porque, de certo modo, atenta contra o Corpo de Jesus Cristo, obriga esta vítima inocente a morar em seu coração cheio de corrupção, entrega o Cordeiro imaculado nas mãos dos demônios que o insultam da mais horrenda maneira.

Pelo que Santo Agostinho compara os sacrílegos aos pérfidos judeus, que crucificaram o nosso Redentor. Com esta diferença, porém: que os judeus crucificaram o Senhor da glória enquanto era terrestre e mortal, e os sacrílegos crucificam-no agora que reina no céu; aqueles só uma vez atreveram-se a crucificá-lo, este renovam o DEICÍDIO (homicídio de Deus) frequentes vezes; aqueles se tinham declarado inimigos figadais de Cristo, este traem-no ao mesmo tempo que, pelo menos exteriormente o reconhecem por seu Deus, simulando reverência e devoção, e imitando Judas, abusam do sinal da paz. “Com um beijo entregas o Filho do Homem” (Lc 22, 48).

É disso que se queixa sobretudo, pela boca de Davi: “se um inimigo, parece dizer Jesus Cristo, me tivesse ultrajado, eu o suportaria com menos pena; mas tu, meu íntimo, meu ministro e príncipe entre o povo; tu, a quem dei tantas vezes a minha carne para sustento; tu me vendes ao demônio por um capricho, por uma vil satisfação, por um punhado de terra?

II. Mas ai do sacrílego! Ai de quem tem a ousadia de tornar-se réu do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, chegando-se indignamente à mesa sagrada! Falando o Senhor com Santa Brígida a respeito daqueles infelizes, repetiu-lhes as palavras proferidas em relação ao pérfido Judas: “seria melhor para eles, se nunca houvessem nascido”. Sim, porque como diz S. Paulo: “quem come este pão e bebe este cálice do Senhor indignamente, come-o e bebe-o para sua própria condenação.

Meu irmão, a fim de que não te suceda tamanha desgraça, segue o aviso do mesmo Apóstolo: Examina a tua conduta e, se a consciência te acusar de alguma grave culpa, purifica-a por meio de uma boa confissão sacramental antes de tomar o alimento da vida eterna.

Quanto às culpas veniais, deves tirar da alma ao menos as cometidas deliberadamente e expulsar do coração tudo que não é [de] Deus. É o que na interpretação de São Bernardo significam as palavras que Jesus Cristo disse aos apóstolos antes de lhes dar a comunhão na última ceia. “Aquele que está lavado, não tem necessidade de lavar senão os pés”.

Meu dulcíssimo Jesus, oh!, pudesse eu lavar com minhas lágrimas e até com meu sangue as almas infelizes em que o vosso amor é tão ultrajado no santíssimo sacramento! Oh, pudesse fazer com que todos os homens se abrasem em vosso amor! Mas, se isto não me é concedido, desejo, ao menos, Senhor, e proponho visitar-vos muitas vezes e receber-vos em meu coração, para vos adorar, como de presente o faço, em reparação dos desprezos que recebeis dos homens neste divínissimo mistério. Ó Pai eterno, acolhei esta fraca homenagem que hoje vos rende o mais miserável dos homens, em reparação das injúrias feitas a vosso Divino Filho sacramentado; acolhei-a unida com a honra infinita que Jesus Cristo vos deu sobre a cruz e vos dá ainda todos os dias no santíssimo sacramento. E vós, minha Mãe Maria, obtende-me a santa perseverança.

Fonte: Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório (bispo e doutor da Igreja), Tomo II, n. 4.


sábado, 10 de junho de 2017

Apelo de Fátima: do erro à verdade



No dia 13 de Maio de 2017 completaram-se cem anos desde que Nossa Senhora, vestida de sol (Ap 12, 1), desceu do Céu e apareceu a três crianças: Lúcia, Jacinta e Francisco. As duas últimas foram canonizadas também nesse dia especialíssimo. São Francisco e Santa Jacinta de Fátima, os santos mais novos da Igreja de dois mil anos de história. E o milagre que deu origem ao processo de canonização ocorreu no Brasil, Terra de Santa Cruz, com o menino Lucas Maeda. Para saber mais, acesse aqui.

É uma alegria muito grande para quem conhece a “Mensagem de Fátima” (e os Três Segredos) que pode ser estudada por meio de filmes e artigos facilmente encontrados na Internet, com destaque para o site Padre Paulo Ricardo. No entanto, o objetivo aqui é outro: todo católico pode ouvir o apelo de Fátima?

Nossa Senhora apareceu sete vezes aos pastorinhos. E uma frase marca sua aparição. Na verdade, é uma súplica da Mãe Dolorosa que vê “muitas almas irem para o Inferno por não ter ninguém que se sacrifique por elas”. Ela quase brada o seguinte pedido: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido!”.

Isso foi dito em 1917. Imagine quantas ofensas não foram feitas a Deus nesses cem anos. Melhor, basta ver como nós vivemos agora. Muitos de nós estamos apenas com o corpo dentro da Igreja, mas o coração está nas coisas do mundo. “Onde está o tesouro, aí também está o teu coração” (Mt 6, 21). O Papa Francisco já cansou de dizer, em sintonia com seus antecessores, que a “mundanidade” entrou dentro da Igreja.

Nosso Senhor já nos advertira que, quem é seu discípulo verdadeiro, não é do mundo (Jo 15, 19). São Paulo, aquele que se encontrou com o Senhor e caiu do cavalo literalmente (At 9, 4), explica bem a questão: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito.” (Rm 12,2).

Eu sei que, para muitos, a Boa Notícia, que é o Evangelho, acaba sendo uma Má Notícia, inclusive para aqueles que seguem o Cristo, porque não querem deixar as coisas do mundo. Mas, como prometi, quero ensinar o primeiro passo para ouvir o apelo de Fátima. E qual é esse primeiro passo?

Não será a minha opinião, e sim, chamo “à colação” o que o Anjo de Portugal disse aos três pastorinhos antes de Nossa Senhora aparecer para eles. O anjo da paz apareceu três vezes e ensinou várias formas de reparação às ofensas cometidas contra Deus, dentre elas, destaco uma:

“Santíssima Trindade,
Pai, Filho e Espírito Santo,
adoro-Vos profundamente
e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo,
Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo,
presente em todos os sacrários da terra,
em reparação dos ultrajes,
sacrilégios e indiferenças
com que Ele mesmo é ofendido.
E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração
e do Coração Imaculado de Maria,
peço-Vos a conversão dos pobres pecadores".

Repito o cerne dessa oração: “em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido”. O primeiro passo para ouvir o apelo de Fátima está aí. O anjo precedeu Nossa Senhora e ensinou as crianças como reparar as ofensas cometidas contra a Santa Eucaristia. Quais são elas? Ultrajes, sacrilégios e indiferenças.

Ultrajes são as profanações explícitas (por exemplo, quem furta sacrários, destrói sacrários etc. e esse crime tem ocorrido com frequência em nosso país, por mais absurdo que pareça, também aquelas pessoas que furtam a Santa Eucaristia para rituais satânicos ou para zombar do “pão da maldição” como tem sido ensinado em seitas protestantes).

Sacrilégios são as profanações implícitas. São todas as pessoas que comungam em pecado grave. Em poucas palavras, pecado grave é aquele cometido contra os Dez Mandamentos (recorda-se quais são eles?) com vontade livre (sem coerção), consciente (sem ignorância) e deliberada (com intenção) e que só pode ser perdoado no sacramento da confissão com o sacerdote, sacramento este instituído por Nosso Senhor como meio ordinário (comum) de perdoar pecados (Jo 20, 23).

Quem recebe a Santa Eucaristia em pecado grave, comete sacrilégio. O sacrilégio é atestado pelo tripé da fé católica (Bíblia, Tradição e Magistério). O catolicismo não é a religião de um livro, mesmo que seja sagrado (refutação da heresia protestante do “sola scriptura”), e sim, de uma Pessoa, Jesus Cristo, que continua a viver no seu Corpo, que é a Igreja (At 9,4).

Portanto, sobre o sacrilégio, a Bíblia o condena (1Cor 11, 29) e diz que quem recebe o Corpo do Senhor (no capítulo 6 do Evangelho de São João relata todo o discurso eucarístico e como Nosso Senhor perdeu discípulos por acharem que Ele propunha o “canibalismo”) sem discerni-Lo, recebe a própria condenação. A Tradição confirma esse ensinamento por meio de todos os santos, principalmente, dos santos doutores (Santo Afonso, Santo Agostinho, Santo Tomás etc.). E, por fim, o Magistério que, mais recentemente, reforçou essa lição por meio do Youcat no § 270, mas em outros catecismos já havia essa previsão. No Catecismo de 1992, elaborado a pedido de São João Paulo II, está no § 1415.

Por último, o terceiro ponto: as indiferenças. As pessoas que não estão em pecado grave, mas recebem o Corpo de Cristo com irreverência, como se fosse um “biscoito” e que, tão logo o recebem, não se ajoelham, não fazem uma oração de agradecimento. Mal comungam, isto é, ainda há partes da Santa Eucaristia entre os dentes, e já estão com os olhos abertos, conversando com o vizinho, prestando atenção em tudo, menos no Tudo que acabou de receber.

Às vezes, o ambiente ao redor não coopera: músicas altas e destoantes do espírito da missa, o padre não dedica o momento de silêncio e logo começa a falar de outras coisas. Conselho: fuja para um local silencioso como a capela. E não converse, nem coma/beba nada depois de 15 minutos (tempo médio de digestão da Santa Eucaristia). Nesse breve momento, você é um sacrário vivo como Nossa Senhora foi por nove meses.

Antes de concluir, quero dar o testemunho de dois amigos. O primeiro mantém relações sexuais com a namorada (fornicação) e, por esse motivo está numa “situação de pecado”, em que não adianta se confessar (seria inválida porque não há o propósito de abandonar o pecado), tampouco comungar. Nem por isso ele abandonou a Igreja, porque sabe que Nosso Senhor veio para os pecadores e, discernindo sua consciência e respeitando ao Corpo do Senhor, parou de comungar.

Parêntese: o mesmo se aplica aos casais de segunda união (divorciados recasados). O Papa Francisco lembrou que a Eucaristia não é uma medalha para os santos (pecadores que a recebem para se santificar, mas que não podem comungar em pecado grave) e, ao mesmo tempo, disse que há formas de comunhão espiritual (ajudando os pobres, visitando os doentes, contribuindo em algum trabalho pastoral etc.). Os casais de segunda união são chamados a testemunhar a importância da indissolubilidade do matrimônio. Como? Ensinando aos jovens como devem pensar bem antes de se casar, como escolher companheiros adequados, explicar os erros vividos na primeira relação etc. E, além disso, testemunham o respeito à Santa Eucaristia, reforçando o ensino da Igreja nessa matéria [1].

O segundo testemunho é de um irmão, preso ao vício da masturbação, que só conseguia comungar poucas vezes no ano, pois precisava se confessar com frequência, geralmente, às sextas-feiras e “aguentar” até os domingos de missa. Na segunda mesmo já caía. No entanto, por esse zelo eucarístico, Deus concedeu a ele a graça de se livrar aos poucos do vício. O tempo de queda foi se espaçando (de semana passou para semanas, de semanas para mês, de mês para meses etc.) e, hoje, ele vive em castidade há mais de um ano.

Depois desse longo texto, em miúdos, como ouvir o apelo de Fátima? Não comungar em pecado grave e não receber a Santa Eucaristia com indiferenças. É o primeiro passo para deixar o mundo e se voltar para Deus, mesmo para aqueles que ainda não receberam a graça da conversão, mesmo para aqueles que ainda possuem a mentalidade do mundo, mesmo para aqueles que estão com o corpo na Igreja e o coração no mundo.

Que a Virgem de Fátima e os irmãos Marto, São Francisco e Santa Jacinta, roguem por nós para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

[1] Não se pode receber a hóstia tendo pecado grave que não foi confessado (§1415, Catecismo da Igreja Católica). O sacrilégio é uma ofensa terrível e quem o pratica, torna-se réu do Corpo do Senhor. (1Cor 11,29). A comunhão para os recasados/2ª união nunca foi liberada pela Igreja (§270, Youcat), exceto para aqueles que viverem a continência, o "matrimônio josefino" (§84, Familiaris Consortio, c/c Capítulo Oitavo da Amoris Laetitia).