sábado, 27 de outubro de 2018

O lugar da modéstia



Antigamente, nossos avôs e bisavôs nos corrigiam quando vestíamos uma roupa que “não era de Missa”, por ser curta, decotada ou colante. Hoje contamos nos dedos de uma mão os pais que percebem que determinados tipos de roupa ofendem à dignidade do Templo, à Casa de Deus. Os padres, que notam esses abusos, ficam com medo de magoar alguém ou perder fiéis, e preferem se calar no lugar de agradar a Jesus Cristo (Gl 1, 10). “De cara” queremos expor, talvez pela primeira vez, que o ensinamento tradicional da Igreja nesse assunto não se restringe à “roupa de Missa” e à “roupa fora da Missa”.

Uma desculpa que a maioria das pessoas recorre “de forma piedosa” consiste em: Deus olha o coração, as roupas são uma questão secundária. Será verdade? Após a desobediência de Adão e Eva, o pecado entrou no mundo. O salário do pecado é o sofrimento, a morte física e, ao final, a condenação eterna. Os homens, depois da Queda, foram contaminados pela concupiscência, ou seja, estão inclinados ao mal, ao erro, ao engano. Desejam de fato fazer o bem no dia a dia, mas acabam praticando o mal que rejeitam (Rm 7, 19). Esse é o triste estado do ser humano decaído. A morte de Cristo na cruz nos purificou do pecado original e dos pecados capitais, como também deu-nos a graça para vencer os pecados pessoais (2Cor 12, 10; Fl 4, 13), embora a concupiscência permaneça. Por esses motivos, é possível alcançar a santidade.

Dito isso, vamos para águas profundas... Será mesmo que Deus está preocupado só com o nosso interior? A resposta é não. Tão logo Adão e Eva desobedeceram, eles notaram que estavam “nus” e se cobriram com folhas de figueira (Gn 3, 7). Apesar dessas vestes improvisadas, permaneceram envergonhados e se esconderam (Gn 3, 9-10). Deus também não achou essas vestes adequadas, preparando em seguida “túnicas de peles e os vestiu” (Gn 3, 21). O Criador sabia que, a partir de então, as roupas se tornariam necessárias para evitar a concupiscência dos olhos, assim como que essas roupas deveriam ser modestas, isto é, cobrir as partes do corpo[1] que despertam o olhar malicioso no próximo (Mt 5, 28).

As pessoas, que usam roupas indecentes, sabem o efeito que causam aos outros. Dessa forma, tanto os homens quanto as mulheres devem se vestir com “trajes honestos” (1Tm 2, 9). Os pais devem ser os primeiros a não escandalizar os próprios filhos com seu mau procedimento (Mt 28, 6). O motivo principal de guardar a modéstia é porque Deus está perto (Fl 4, 5). A veste do corpo também permite conhecer quem é a pessoa (Ecl 19, 27), ou seja, se ela ama ao próximo ao ponto de renunciar a uma roupa que pode levá-lo à ruína espiritual. Isso é amor que brota do coração. Isso é amor que vira boas obras (1Jo 3, 18).

Ninguém tem o direito de ser pedra de tropeço para o outro, ainda mais se for para satisfazer um capricho, um interesse vil e um desejo egoísta “de se sentir bem”, “de estar à vontade”, enquanto essas atitudes dificultam a luta do próximo em manter o brilho da pureza (Sb 4, 1). A alma que guarda a castidade tem valor inestimável aos olhos de Deus (Ecl 26, 19-20), ao passo que a alma que impede outras de seguirem esse caminho, é saqueadora da graça divina. Ela não atravessa a porta estreita, tampouco dá passagem aos demais (Mt 23, 13; Mt 7, 13-14). Os que pertencem de verdade a Nosso Senhor crucificaram a carne e os vícios (Gl 5, 24).

Um Inferno é pouco para quem possui atrás de si uma corrente que arrasta dezenas e centenas de almas aos pecados da carne. Tão facilmente esse mal poderia ser extirpado: bastaria abandonar essas roupas da perdição e colocar vestes dignas de filhos de Deus! Não só debaixo do Templo de pedra a modéstia tem seu lugar, a modéstia tem seu lugar sempre. Depois do Batismo, todo católico se tornou templo do Espírito Santo (1Cor 6, 19), pedras vivas (1Pd 2, 5). Ai de quem destruir esse templo com a falta de modéstia, Deus mesmo o destruirá (1Cor 3, 17)!

Alguns preferem expulsar o Espírito Santo e conviver com os demônios por míseros pedaços de pano. O Batismo desses infelizes é como a porca lavada que volta a se revolver na lama (2Pd 2, 22). Os apelos de conversão se transformam em pérolas esmagadas por cascos (Mt 7, 6). Nossa Senhora avisou à Santa Jacinta, vidente de Fátima: “Vão aparecer modas que ofenderão muito ao meu divino Filho”.



[1] Os parâmetros tradicionais são: nenhum tipo de roupa colante; shorts ou bermudas, no mínimo, até os joelhos; nada de decotes, partes descobertas ou camisetas; as mangas cubram pelo menos os cotovelos. Essas regras valem para ambos os sexos, com o acréscimo de que Deus abomina um homem que se vista como mulher, e vice-versa (Dt 22, 5). Vestidos e saias com quatro dedos de tecido depois dos joelhos, porque sobem quando se senta.

sábado, 28 de julho de 2018

Cardeal Ratzinger e a segunda união: auxílio à Amoris Laetitia



A PROPÓSITO DE ALGUMAS OBJEÇÕES
CONTRA A DOUTRINA DA IGREJA ACERCA
 DA RECEPÇÃO DA COMUNHÃO EUCARÍSTICA
 DA PARTE DE FIÉIS DIVORCIADOS RECASADOS (
1)
Joseph Card. Ratzinger

A Carta da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a recepção da Comunhão eucarística da parte de fiéis divorciados recasados, de 14 de Setembro de 1994, teve um forte eco em diversas partes da Igreja. Em paralelo com muitas reações positivas ouviram-se também não poucas vozes críticas. As objeções essenciais contra a doutrina e a praxe da Igreja são apresentadas a seguir de forma simplificada.

Algumas objeções mais significativas – sobretudo a referência à praxe considerada mais flexível dos Padres da Igreja, que inspiraria a praxe das Igrejas orientais separadas de Roma, assim como a chamada aos princípios tradicionais da epiqueia e da «aequitas canonica» ­ foram estudadas de modo aprofundado pela Congregação para a Doutrina da Fé. Os artigos dos Professores Pelland, Marcuzzi e Rodriguez Luño(2) foram elaborados durante este estudo. Os resultados principais da pesquisa, que indicam a orientação de uma resposta às objeções feitas, serão aqui igualmente resumidas.

1. Muitos consideram, alegando alguns trechos do Novo Testamento, que a palavra de Jesus sobre a indissolubilidade do matrimônio permite uma aplicação flexível e não possa ser classificada numa categoria rigidamente jurídica.

Alguns exegetas realçam criticamente que o Magistério em relação à indissolubilidade do matrimônio citaria quase exclusivamente uma só perícope – isto é Mc 10, 11-12 – e não consideraria de modo suficiente outros trechos do Evangelho de Mateus e da primeira Carta aos Coríntios. Estes trechos bíblicos mencionariam uma certa «exceção» à palavra do Senhor sobre a indissolubilidade do matrimônio, isto é, no caso de «porneia» (Mt 5, 32; 19, 9) e no caso de separação por motivo de fé (1 Cor 7, 12-16). Estes textos seriam indicações de que os cristãos em situações difíceis teriam conhecido já no tempo apostólico uma aplicação flexível da palavra de Jesus.

A esta objeção deve-se responder que os documentos magisteriais não pretendem apresentar de modo completo e solícito os fundamentos bíblicos da doutrina sobre o matrimônio. Eles deixam esta importante tarefa aos peritos competentes. Contudo o Magistério ressalta que a doutrina da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio deriva da fidelidade em relação à palavra de Jesus. Jesus define claramente a praxe veterotestamentária do divórcio como uma consequência da dureza do coração humano. Ele remete – além da lei – para o início da criação, para a vontade do Criador, e resume o seu ensinamento com as palavras: «Não separe o homem aquilo que Deus uniu» (Mc 10, 9). Por conseguinte, com a vinda do Redentor, o matrimônio é reconduzido à sua forma originária a partir da criação e subtraído ao arbítrio humano – sobretudo ao arbítrio do marido; na realidade, não havia de fato para a esposa a possibilidade de divórcio. A palavra de Jesus sobre a indissolubilidade do matrimônio é a superação da antiga ordem da lei na nova ordem da fé e da graça. Só assim o matrimônio pode fazer plenamente justiça à vocação de Deus ao amor e à dignidade humana e tornar-se sinal da aliança de amor incondicionado de Deus, isto é, «Sacramento» (cf. Ef 5, 32).

A possibilidade de separação, que Paulo expõe em 1 Cor 7, refere-se a matrimônios entre um cônjuge cristão e um não-baptizado. A reflexão teológica sucessiva esclareceu que só os matrimônios entre batizados são «sacramento» no sentido estreito da palavra e que a indissolubilidade absoluta é válida só para estes matrimônios que se situam no âmbito da fé em Cristo. O chamado «matrimônio natural», tem a sua dignidade a partir da ordem da criação e, por conseguinte, está orientado para a indissolubilidade, mas pode ser dissolvido em determinadas circunstâncias por motivo de um bem maior – no caso, a fé. Assim a sistematização teológica classificou juridicamente a indicação de São Paulo como «privilegium paulinum», isto é, como possibilidade de dissolver para bem da fé um matrimônio não sacramental. A indissolubilidade do matrimônio verdadeiramente sacramental permanece salvaguardada; portanto, não se trata de uma exceção à palavra do Senhor. Sobre este aspecto voltaremos mais adiante.

Em relação à reta compreensão das cláusulas sobre a «porneia» existe uma vasta literatura com muitas hipóteses diversas, até contrastantes. Entre os exegetas não existe absolutamente unanimidade sobre esta questão. Muitos consideram que se trata aqui de uniões matrimoniais nulas e não de exceções à indissolubilidade do matrimônio. Contudo a Igreja não pode edificar a sua doutrina e a sua praxe sobre hipóteses exegéticas incertas. Ela deve ater-se ao ensinamento claro de Cristo.

2. Outros objetam que a tradição patrística deixaria espaço a uma praxe mais diferenciada, que melhor faria justiça às situações difíceis; a propósito, a Igreja católica poderia aprender do princípio de «economia» das Igrejas orientais separadas de Roma.

Afirma-se que o Magistério atual se apoiaria unicamente sobre um fundamento da tradição patrística, mas não sobre toda a herança da Igreja antiga. Ainda que os Padres se ativessem claramente ao princípio doutrinal da indissolubilidade do matrimônio, alguns deles toleraram a nível pastoral uma certa flexibilidade em relação a situações particularmente difíceis. Sobre este fundamento as Igrejas orientais separadas de Roma teriam desenvolvido mais tarde juntamente com o princípio da «akribia», da fidelidade à verdade revelada, o da «oikonomia», da condescendência benévola em determinadas situações difíceis. Sem renunciar à doutrina da indissolubilidade do matrimônio, eles permitiriam em determinados casos um segundo e até um terceiro matrimônio, que por outro lado é diferente do primeiro matrimônio sacramental e está marcado pelo caráter da penitência. Esta praxe nunca teria sido condenada explicitamente pela Igreja católica. O Sínodo dos Bispos de 1980 sugeriu que se estudasse a fundo esta tradição, para fazer resplandecer melhor a misericórdia de Deus.

O estudo do Padre Pelland mostra a direção, na qual se deve procurar a resposta a estas questões. Para a interpretação de cada um dos textos patrísticos permanece naturalmente competente o historiador. Devido à difícil situação textual as controvérsias também no futuro não diminuirão. Sob o ponto de vista teológico deve-se afirmar:

a. Existe um consenso claro dos Padres em relação à indissolubilidade do matrimônio. Considerando que ela deriva da vontade do Senhor, a Igreja não tem poder algum em matéria. Precisamente por isto o matrimônio cristão foi desde o início diverso do matrimônio da civilização romana, mesmo se nos primeiros séculos ainda não existia qualquer ordenamento canônico próprio. A Igreja do tempo dos Padres exclui claramente divórcio e novas núpcias, e isto por fiel obediência ao Novo Testamento.

b. Na Igreja da época dos Padres os fiéis divorciados recasados nunca foram admitidos oficialmente à sagrada comunhão depois de um tempo de penitência. Ao contrário, é verdade que a Igreja nem sempre revogou rigorosamente aos países individualmente concessões em matéria, mesmo se elas eram qualificadas como não compatíveis com a doutrina e com a disciplina. Parece ser verdade também que alguns Padres, por exemplo Leão Magno, procuraram soluções «pastorais» para raros casos extremos.

c. Em seguida chegou-se a dois desenvolvimentos contrapostos:

– Na Igreja imperial pós-constantiniana procurou-se, depois do enlace cada vez mais forte entre Estado e Igreja, uma maior flexibilidade e disponibilidade ao compromisso em situações matrimoniais difíceis. Até a reforma gregoriana manifestou-se também uma tendência semelhante em âmbito gálico e germânico. Nas Igrejas orientais separadas de Roma este desenvolvimento prosseguiu ulteriormente no segundo milênio e levou a uma praxe cada vez mais liberal. Hoje em muitas Igrejas orientais existe uma série de motivações de divórcio, aliás, existe já uma «teologia do divórcio», que de modo algum é conciliável com as palavras de Jesus sobre a indissolubilidade do matrimônio. No diálogo ecumênico este problema deve ser absolutamente enfrentado.

– No Ocidente foi recuperada, graças à reforma gregoriana, a concepção originária dos Padres. Este desenvolvimento encontrou de certa forma uma sanção no Concílio de Trento e foi reproposto como doutrina da Igreja no Concílio Vaticano II.

A praxe das Igrejas orientais separadas de Roma, que é consequência de um processo histórico complexo, de uma interpretação cada vez mais liberal – e que se afastava sempre mais da palavra do Senhor – de alguns obscuros trechos patrísticos assim como de uma influência não negligenciável da legislação civil, não pode, por motivos doutrinais, ser assumida pela Igreja católica. A este propósito não é exata a afirmação segundo a qual a Igreja católica teria simplesmente tolerado a praxe oriental. Certamente Trento não pronunciou condenação formal alguma. Apesar de tudo, os canonistas medievais falavam dela continuamente como de uma praxe abusiva. Além disso há testemunhos segundo os quais grupos de fiéis ortodoxos, que se tornavam católicos, tinham que assinar uma confissão de fé com uma indicação clara da impossibilidade de um segundo matrimônio.

3. Muitos propõem a autorização de exceções da norma eclesial, com base nos princípios tradicionais da epiqueia e da aequitas canonica.

Alguns casos matrimoniais, assim se diz, não podem ser regulados em foro externo. A Igreja poderia não só enviar para normas jurídicas, mas deveria também respeitar e tolerar a consciência dos indivíduos. As doutrinas tradicionais da epiqueia e da aequitas canonica poderiam justificar do ponto de vista da teologia moral, isto é, do ponto de vista jurídico, uma decisão da consciência que se afaste da norma geral. Sobretudo na questão da recepção dos sacramentos a Igreja deveria aqui fazer progressos e não só opor proibições aos fiéis.

As duas contribuições do Padre Marcuzzi e do Prof. Rodríguez Luño ilustram esta complexa problemática. A este propósito devem-se distinguir claramente três âmbitos de questões:
a. Epiqueia e aequitas canonica são de grande importância no âmbito das normas humanas e puramente eclesiais, mas não podem ser aplicadas no âmbito de normas, sobre as quais a Igreja não tem qualquer poder discricional. A indissolubilidade do matrimônio é uma destas normas, que remontam ao próprio Senhor e por isso são designadas como normas de «direito divino». A Igreja também não pode aprovar práticas pastorais – por exemplo, na pastoral dos Sacramentos -, que estejam em contradição com o claro mandamento do Senhor. Por outras palavras: se o matrimônio precedente de fiéis divorciados recasados era válido, a sua nova união em circunstância alguma pode ser considerada em conformidade com o direito, e por isso, por motivos intrínsecos não é possível uma recepção dos sacramentos. A consciência do indivíduo está vinculada a esta norma, sem exceções.3

b. Ao contrário, a Igreja tem o poder de esclarecer quais condições devem ser cumpridas, para que um matrimônio possa ser considerado indissolúvel segundo o ensinamento de Jesus. Em sintonia com as afirmações paulinas em 1 Coríntios 7 ela estabeleceu que só dois cristãos podem contrair um matrimônio sacramental. Ela desenvolveu as figuras jurídicas do «privilegium paulinum» e do «privilegium petrinum». Com referência às cláusulas sobre «porneia» em Mateus e em Atos 15, 20 foram formulados impedimentos matrimoniais. Além disso, foram indicados cada vez mais claramente motivos de nulidade matrimonial e foram amplamente desenvolvidos os andamentos processuais. Tudo isto contribuiu para delimitar e esclarecer o conceito de matrimônio indissolúvel. Poder-se-ia dizer que deste modo também na Igreja ocidental foi dado espaço ao princípio da «oikonomia» sem contudo tocar a indissolubilidade do matrimônio como tal.
Situa-se nesta linha também o ulterior desenvolvimento jurídico no Código de Direito Canônico de 1983, segundo o qual também as declarações das partes têm força probatória. Em si, segundo o parecer de pessoas competentes, parecem praticamente quase excluídos os casos nos quais um matrimônio nulo não é demonstrável como tal por vias processuais. Dado que o matrimônio tem essencialmente um caráter público-eclesial e é válido o princípio fundamental «Nemo iudex in propria causa» («Ninguém é juiz na própria causa»), as questões matrimoniais devem ser resolvidas em foro externo. No caso em que fiéis divorciados recasados considerem que o seu precedente matrimônio nunca tinha sido válido, eles são por conseguinte obrigados a dirigir-se ao competente tribunal eclesiástico, que deverá examinar o problema objetivamente e com a aplicação de todas as possibilidades juridicamente disponíveis.

c. Certamente não se exclui que em processos matrimoniais ocorram erros. Nalgumas partes da Igreja ainda não existem tribunais eclesiásticos que funcionem bem. Por vezes os processos duram de maneira excessivamente longa. Nalguns casos terminam com sentenças problemáticas. Não parece aqui, em linha de princípio, estar excluída a aplicação da epiqueiaem «foro interno». Na Carta da Congregação para a Doutrina da Fé de 1994 este aspecto é mencionado, quando é dito que com os novos procedimentos canônicos deveria ser excluída, «na medida do possível», qualquer diferença entre a verdade verificável no processo e a verdade objetiva (cf. Carta 9). Muitos teólogos são do parecer que os fiéis devam absolutamente conformar-se também em «foro interno» com os juízos do tribunal a seu parecer falsos. Outros consideram que em «foro interno» são concebíveis exceções, porque no ordenamento processual não se trata de normas de direito divino, mas de normas de direito eclesial. Contudo, esta questão exige ulteriores estudos e esclarecimentos. Com efeito, deveriam ser elucidadas de maneira muito clara as condições para o verificar-se de uma «exceção», com a finalidade de evitar arbítrios e de proteger o caráter público – subtraído ao juízo subjetivo – do matrimônio.

4. Muitos acusam o atual Magistério de involução em relação ao Magistério do Concílio e de propor uma visão pré-conciliar do matrimônio.

Alguns teólogos afirmam que na base dos novos documentos magisteriais sobre as questões do matrimônio estaria uma concepção naturalista, legalista do matrimônio. A ênfase seria dada ao contrato entre os esposos e aos «ius in corpus». O Concílio teria superado esta compreensão estática e descrito o matrimônio dum modo mais personalista como pacto de amor e de vida. Assim teria aberto a possibilidade de resolver de maneira mais humana situações difíceis. Desenvolvendo esta corrente de pensamento alguns estudiosos perguntam se não se pode falar de «morte do matrimônio», quando o vínculo pessoal do amor entre dois esposos já não existe. Outros levantam a antiga questão se não tem o Papa, em tais casos, a possibilidade de dissolver o matrimônio.

Mas quem ler atentamente os recentes pronunciamentos eclesiásticos reconhecerá que eles, nas afirmações centrais, se fundam em «Gaudium et spes» e com características totalmente personalistas desenvolvem ulteriormente, no sulco indicado pelo Concílio, a doutrina nela contida. É contudo inadequado introduzir uma contraposição entre a visão personalista e a jurídica do matrimônio. O Concílio não se afastou da concepção tradicional do matrimônio, mas desenvolveu-a ulteriormente. Por exemplo, quando se repete continuamente que o Concílio substituiu o conceito estreitamente jurídico de «contrato» com o conceito mais amplo e teologicamente mais profundo de «pacto», não se pode esquecer a propósito que também no «pacto» está contido o elemento do «contrato» mesmo se é colocado numa perspectiva mais ampla. Que o matrimônio vá muito mais além do aspecto meramente jurídico mergulhando na profundidade do humano e no mistério do divino, na realidade foi sempre afirmado com a palavra «sacramento», mas certamente com frequência não foi realçado com a clareza que o Concílio conferiu a estes aspectos. O direito não é tudo, mas é uma parte irrenunciável, uma dimensão do todo. Não existe um matrimônio sem normativa jurídica, que o insere num conjunto global de sociedade e Igreja. Se a reorganização do direito depois do Concílio se estende também ao âmbito do matrimônio, então isto não é traição do Concílio, mas execução da sua tarefa.

Se a Igreja aceitasse a teoria segundo a qual um matrimônio morre quando os dois cônjuges deixam de se amar, então com isto aprovaria o divórcio e defenderia a indissolubilidade do matrimônio só verbalmente, e não de modo factual. A opinião, segundo a qual o Papa poderia eventualmente dissolver um matrimônio sacramental consumado, irremediavelmente fracassado, deve portanto ser qualificada como errônea. Um tal matrimônio não pode ser dissolvido por ninguém. Na celebração nupcial, os esposos prometem reciprocamente a fidelidade até à morte.

Ao contrário, exige ulteriores aprofundados estudos a questão sobre se cristãos não crentes – batizados, que nunca creram ou já não crêem em Deus – podem deveras contrair um matrimônio sacramental. Por outras palavras: dever-se-ia esclarecer se deveras cada matrimônio entre dois batizados é «ipso fato» um matrimônio sacramental. Com efeito, também o Código indica que só o contrato matrimonial «válido» entre batizados é ao mesmo tempo sacramento (cf. CIC, cân. 1055, § 2). A fé pertence à essência do sacramento; falta esclarecer a questão jurídica sobre qual evidência de «não fé» tenha como consequência que um sacramento não se realize.(4)

5. Muitos afirmam que a atitude da Igreja na questão dos fiéis divorciados recasados é unilateralmente normativa e não pastoral.

Uma série de objeções críticas contra a doutrina e a praxe da Igreja refere-se a problemas de caráter pastoral. Diz-se por exemplo que a linguagem dos documentos eclesiais seria demasiado legalista, que o rigor da lei prevaleceria sobre a compreensão de situações humanas dramáticas. O homem de hoje já não poderia compreender esta linguagem. Jesus teria sido disponível para com as necessidades de todos os homens, sobretudo daqueles à margem da sociedade. A Igreja, ao contrário, mostrar-se-ia mais como um juiz, que exclui dos sacramentos e de certos encargos públicos pessoas feridas.
Pode-se sem dúvida admitir que as formas expressivas do Magistério eclesial por vezes não são vistas como facilmente compreensíveis. Elas devem ser traduzidas pelos pregadores e pelos catequistas numa linguagem, que corresponda às diversas pessoas e ao seu respectivo ambiente cultural. O conteúdo essencial do Magistério eclesial a este propósito deve contudo ser mantido. Não pode ser alterado por supostos motivos pastorais, porque ele transmite a verdade revelada. Certamente é difícil tornar compreensíveis ao homem secularizado as exigências do Evangelho. Mas esta dificuldade pastoral não pode levar a compromissos com a verdade. João Paulo II na Carta Encíclica «Veritatis splendor» rejeitou claramente as soluções chamadas «pastorais», que se colocam em contraste com as declarações do Magistério (cf. ibid. 56).

No que diz respeito à posição do Magistério sobre o problema dos fiéis divorciados recasados, deve-se ainda frisar que os recentes documentos da Igreja unem de modo muito equilibrado as exigências da verdade com as da caridade. Se no passado, na apresentação da verdade, por vezes a caridade não resplandeceu o suficiente, hoje ao contrário, existe o grande perigo de silenciar ou de comprometer a verdade em nome da caridade. Sem dúvida a palavra da verdade pode ferir e ser desagradável. Mas é o caminho rumo à cura, rumo à paz, rumo à liberdade interior. Uma pastoral que pretenda deveras ajudar as pessoas, deve fundar-se sempre na verdade. Só aquilo que é verdadeiro pode decisivamente ser também pastoral. «Conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á» (Jo 8, 32).



Notas
1. Este texto retoma a terceira parte da Introdução do Cardeal Joseph Ratzinger no número 17 da Coleção «Documentos e Estudos», dirigida pela Congregação para a Doutrina da Fé, Sulla pastorale dei divorziati risposati, LEV, Città del Vaticano, 1998, p. 20-29. As notas foram acrescentadas.

2.  Cf. Angel Rodríguez Luño, L'epichea nella cura pastorale dei fedeli divorziati risposati, ibid., p. 75-87; Piero Giorgio Marcuzzi, S.D.B., Applicazione di «aequitas et apikeia» ai contenuti della Lettera della Congregazione per la Dottrina della Fede, 14 de Setembro de 1994, ibid., p. 88-98; Gilles Pelland, S.J., La pratica della Chiesa antica relativa ai fedeli divorziati risposati, ibid, p. 99-131.

3. A este propósito é válida a norma reafirmada por João Paulo II na Carta apostólica pós-sinodal «Familiaris consortio», n. 84: «A reconciliação pelo sacramento da penitência - que abriria o caminho ao sacramento eucarístico - pode ser concedida só àqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida não mais em contradição com a indissolubilidade do matrimônio. Isto tem como consequência, concretamente, que quando o homem e a mulher, por motivos sérios - quais, por exemplo, a educação dos filhos - não se podem separar, “assumem a obrigação de viver em plena continência, isto é, de abster-se dos atos próprios dos cônjuges”». Cf. também Bento XVI, Carta apostólica pós-sinodal «Sacramentum caritatis», n- 29.

4. Durante um encontro com o clero da Diocese de Aosta, realizado a 25 de Julho de 2005, o Papa Bento XVI afirmou em relação a esta difícil questão: «é particularmente dolorosa a situação de quantos tinham casado na Igreja, mas não eram verdadeiramente crentes e só o fizeram por tradição, e depois, contraindo um novo matrimônio não válido, converteram-se, encontraram a fé e agora sentem-se excluídos do Sacramento. Este é realmente um grande sofrimento e quando fui Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé convidei várias Conferências Episcopais e especialistas a estudarem este problema: um sacramento celebrado sem fé. Se realmente é possível encontrar nisto uma instância de nulidade, porque ao sacramento faltava uma dimensão fundamental, não ouso dizer. Eu pessoalmente pensava assim, mas dos debates que tivemos compreendi que o problema é muito difícil e ainda deve ser aprofundado».

Observação:
Já como Papa Bento XVI aprovou e recomendou o texto do Youcat (Catecismo Jovem) que no §270 afirma o seguinte:

Como a Igreja se comporta perante os divorciados recasados?

Ela acolhe-os segundo o exemplo de Jesus. Quem, após um casamento católico, se divorcia e ainda durante a vida do seu consorte estabelece uma nova ligação encontra-se sem dúvida em contradição com a CLARA exigência de Jesus sobre a indissolubilidade matrimonial. A IGREJA NÃO PODE ABOLIR ESSA EXIGÊNCIA. A revogação da fidelidade é oposta à Eucaristia, na qual a Igreja celebra precisamente a irrevogabilidade do amor de Deus; por isso, quem vive em tal situação contraditória NÃO PODE participar da Sagrada Comunhão. (1665, 2384).

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Como vencer o vício da pornografia e da masturbação?



Um membro de nossa Equipe resolveu enviar sua experiência nesse combate aguerrido. Segue seu relato:

Para tratar desse tema, prefiro escrever em primeira pessoa. Por quê? Por ser um testemunho, muito mais do que um conhecimento teórico sobre “estratégias” para combater o vício. Quem desejar um curso com rigor científico, veja o disponível no site do Pe. Paulo Ricardo (clique aqui) e confira a aula ao vivo dedicada ao assunto (clique aqui).

Dentro de casa, a masturbação masculina é ignorada ou ensinada pelo pai como pré-requisito de masculinidade. Embora seja uma ideia falsa, não será esse o enfoque. No primeiro caso, o menino descobrirá por conta própria a excitação do seu órgão genital ou graças à influência de amigos/familiares. O mundo fará seu trabalho sujo, disso não tenho dúvida.

No segundo caso, o rapaz, no início da puberdade (ou até antes), "precisa" se masturbar para aprender “a ser homem” e, para tanto, o pai apresenta ao filho material pornográfico. Na minha época, tratava-se mais de revistas da Playboy e, com o tempo, a coisa evoluiu para filmes pornôs em DVDs piratas.

Nessa etapa em que, via de regra, o terreno para a plantação da erva daninha começa a ser arado, adubado e regado para que o vício se instale na adolescência, avance na idade adulta e algumas pessoas, tragicamente, arrastam até velhice. Não tenho muita informação a respeito da masturbação feminina, mas, ao que tudo indica, tem crescido bastante também.

Antes de mais nada, a masturbação, como todo pecado, é um bem aparente. Ela parece ser um bem, mas não é. Quem se masturba, procura ser feliz, busca a própria satisfação por meio desse prazer momentâneo (dura alguns minutos), no entanto, assim que ocorre a ejaculação, o que sobra é a sensação de vazio, de morte, de tristeza. S. Paulo estava certo de novo: o salário do pecado é a morte (Rm 6, 23). Quando o vício domina, a "voz da consciência" fica  em muitas pessoas quase muda, porém, persiste bem baixinho dizendo "há algo errado... isso me faz mal... por que me sinto assim depois, se na hora foi tão prazeroso, divertido etc.?". Devemos buscar a felicidade verdadeira que está escondida em Cristo (Cl 3, 3) e, portanto, esse artigo é para você que deseja se libertar dessas cadeias e desses pesados grilhões. Afinal, "foi para liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5, 1).

Quero partilhar com vocês, de forma anônima, como se deu meu processo de extirpação do vício tanto da masturbação quanto da pornografia. Eu me esforçarei para ser direto e breve, embora não garanta esse resultado. Quando abordo esse tema, a primeira coisa que me vem à mente é uma passagem de Santo Agostinho no livro das Confissões. Ele, em poucas palavras, dizia que ninguém pode ser casto sem a graça de Cristo e era necessário implorá-la a Deus.

Eu me lembro que fiquei um pouco chocado com essa verdade. Apesar de ter tido meu encontro pessoal com Jesus (conversão para a Igreja católica) e lutar para viver os mandamentos, caía muitas vezes. Conseguia passar dias sem me masturbar, depois viraram semanas, meses e o máximo que empreendera foram seis meses sem queda. Notava um progresso que era misturado com muito retrocesso.

Santo Agostinho, que tinha levado uma vida mais devassa que a minha, dissera essa verdade impactante que me ajudou a ter a seguinte conclusão: eu já tinha recebido muitas graças de Deus, mas a da castidade ainda não pelo fato de EU NÃO QUERER PAGAR O PREÇO (corresponder). Não era culpa ou insuficiência de Nosso Senhor, o problema estava comigo ou em mim, se preferirem. E, ao ler esse trecho da obra, disse a mim mesmo “isso é impossível... só para os santos... acho que vou passar a vida toda lutando contra esse pecado”.

É claro que se você, como tantos teólogos e padres, acredita que a masturbação não é pecado jamais será casto. O primeiro passo é ser convencido pelo Espírito Santo (Jo 16, 8). Ele é quem nos ensina toda a verdade mediante o magistério infalível da Igreja (Jo 16, 13). Após as escamas caírem dos seus olhos, você terá condições de conhecer com o intelecto as verdades infundidas no seu coração ainda em sementinhas e, então, bastará aderir à posição católica sobre a masturbação e a pornografia por meio do Catecismo ou do Youcat. Quero dizer que: sem a graça do Espírito Santo, podemos ler mil livros de teologia e não mudar um milímetro sequer.

Não basta só saber que é pecado (a maioria sabe com clareza ou intui pelo menos), é preciso querer viver a castidade (número reduzido) e, por fim, conseguir viver (número mais diminuto). A história de Gedeão e seu exército de 300 homens ilustra bem. Só o desejo de conhecer a verdade já é uma graça. Muitos preferem as trevas do erro ou da ignorância. A vontade de viver a pureza é graça. E praticá-la também. Por que insisto tanto em falar em graça? Por uma razão óbvia: sem Jesus NADA podemos fazer (Jo 15, 5). E mais do que isso. São Paulo afirma que Deus opera tanto o QUERER quanto o FAZER (Fl 2, 13). Logo, tudo é graça, mas esta depende de nossa “autorização”.

Sem a cooperação do homem, Nosso Senhor, Todo-poderoso, está de mãos atadas. Deus, explicou Santo Agostinho, que nos criou sem nós, não nos salva sem nós. Deus não nos faz castos sem nós. A nossa participação nessa empresa é ínfima, mas necessária. Em termos simbólicos, a nossa cota é de 1% enquanto a do Senhor é de 99%. Por que é tão importante ser casto? A castidade nos liberta de nossas paixões desregradas e passamos a viver no Espírito, pelo Espírito e com o Espírito. Em miúdos, somos mais felizes, realizados e plenos. Nenhum orgasmo egoísta substitui a alegria da pureza.

Vou ser mais claro. O sexo entre um homem e uma mulher é sagrado. Desde Adão e Eva, Deus o associou à fecundidade e os filhos, portanto, são bênçãos do Senhor. Gerar uma nova vida humana é co-participar no poder criador de Deus. Isso é muito mais do que uma teoria. Em Cristo, o matrimônio que já era especial na aliança adâmica, torna-se sacramento. Sinal visível do amor de Cristo para com sua Igreja. Por esse motivo, essa mesma Igreja pede que o sexo só seja vivido em santo matrimônio. Por ser um ato sagrado, esse “culto” somente pode ser realizado entre um homem e uma mulher "sob a proteção do Altíssimo", então eles se unem e formam uma só carne (Mt 19, 5).

O altar da Igreja doméstica (família) é o leito matrimonial. Fora dessa situação, será sempre fonte de desgraça, de perdição e de condenação. Esse culto tem sua liturgia própria: entre quatro paredes não vale tudo. Posições sexuais que inferiorizam um dos cônjuges não são lícitas. Por exemplo, sexo anal. A moralidade ou não do sexo oral exige mais detalhes (clique aqui). O coito interrompido também é imoral, pois quebra a união para evitar a consumação. E assim sucessivamente.

Quem transformou o sexo em tabu não foi a Igreja, foi o diabo. Satanás ganha dos dois lados. Aqueles que sabem e temem explicar de forma católica o assunto com receio de escandalizar ao próximo, deixam de ensinar a verdade que liberta, logo seus irmãos se precipitam no abismo de um jeito ou de outro. Aqueles que perderam o pudor e a modéstia e pulam no abismo por vontade própria, sob crença errônea de estar “arrasando” no salto em queda livre, porém desprovido de equipamentos de segurança. A ruína será assombrosa e triste.

Essa longa introdução me permite avançar para os dez passos para viver a castidade.

1- Sem a graça de Deus é IMPOSSÍVEL ser casto
Esqueça sua pretensão de ser o super-homem. A carne entregue a si mesma é fraca (Mt 26, 41). 

Obs. Nesse ponto, está a "formação da consciência" (livros ou filmes sobre os santos, doutrina, livros de espiritualidade, pregações, homilias etc.). Tudo que contribui para o enriquecimento da vida espiritual. Um irmão do blog fez um resumo adequado sobre como conhecer a fé católica (clique aqui). Eu recomendo o livro "A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo" de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja.

Obs. 2: Alguns rapazes no processo de descontaminação terão poluções noturnas INVOLUNTÁRIAS. É um fenômeno normal do nosso organismo e não ofende a Deus. Talvez até sucedam em razão de sonhos eróticos (que por não haver consentimento, não ofendem a Deus). É sinal de que a perseverança levará a bom termo sua luta!

2- A castidade não é provisória. É para a vida toda. Para sempre
Se você acha que Deus dará essa joia preciosa por tempo determinado, esqueça. Por exemplo, enquanto estou solteiro, lutarei para viver a castidade, afinal, a masturbação me dá tanto remorso, peso na consciência etc. NO ENTANTO, se arrumar uma namorada, TEREI que transar com ela. É o que todo mundo faz e eu, como quero me lambuzar na lama dos porcos, imitarei toda a manada. Game Over. Deus não dará a pérola para ser esmagada por patas sujas de lavagem e estrume.

O solteiro (celibatário ou não), o namorado, o noivo, o casado, o viúvo etc., em cada estado de vida, o chamado à castidade se mantém e a vivência se adapta.

3- A humildade é a base da castidade
“Quem está de pé, cuidado para não cair” (1Cor 10, 12). Deus jamais permitirá que você seja casto para se achar melhor do que os outros. Quando o seu orgulho começar a inflar como um baiacu, Ele tirará a sua mão (a graça) e seu tombo será feio para que dessa humilhação, você se levante e recomece sem soberba. Quem está de pé, pode cair a qualquer momento. Deus não quer que ninguém caia, nem seja tentado pelo diabo acima das suas forças (1Cor 10, 13), mas permite a queda de quem se afasta da humildade. Ele resiste aos soberbos (Tg 4, 6).

4- Corte o mal pela raiz (Mt 18, 8-9)
Quando se trata de pecado sexual, o segredo dado pelos santos é fugir. Fugir das ocasiões. Sempre. Nunca queira enfrentar o diabo nas tentações. Você sairá humilhado. Se veio algum pensamento malicioso, fuja, distraia-se com outra coisa... nunca fique sozinho com a porta trancada no quarto, se isso pode ser ocasião para pecar. Exclua todos os vídeos pornográficos do computador, quebre DVDs, apague conteúdo erótico do celular, destrua material de sex shop, bloqueie pessoas que já travou conversa obscena, utilize bloqueadores de sites etc. 

É preciso ser radical. Ir até a raiz desse mal e cortá-la sem dó, sem pena, sem hesitar. Pe. Paulo Ricardo, de maneira descontraída, ensina-nos acerca desse ponto:




Depois do Santo Batismo, os sacramentos indispensáveis nessa luta são dois: Eucaristia e Confissão.

5- Eucaristia
Ao recebermos o Corpo e Sangue do Senhor, imaculados, somos transformados n’Ele por uma ação misteriosa. O capítulo 6 do Evangelho de São João é dedicado inteiro às vantagens desse sacramento. A Eucaristia é a medicina (o remédio) da castidade.

Via positiva: Após receber a Santa Comunhão, procure um lugar silencioso na Igreja (capela costuma estar vazia nessa hora) e converse a sós com Jesus (agradeça, peça mais fé, louve, ame, adore etc.). Sua oração pacífica e mental deve durar o tempo em que Ele estiver no seu estômago (em média, dez minutos).

Via negativa: Não se pode receber a Hóstia tendo pecado grave que não foi confessado (§1415, Catecismo da Igreja Católica). O sacrilégio é uma ofensa terrível e quem o pratica, torna-se réu do Corpo do Senhor (1Cor 11,29). A comunhão para os recasados/2ª união nunca foi liberada pela Igreja (§270, Youcat), exceto para aqueles que viverem a continência, o "matrimônio josefino" (§84, Familiaris Consortio, c/c Capítulo Oitavo da Amoris Laetitia). Papa Francisco recorda essa verdade básica ensinada desde São Paulo (clique aqui) e o Arcebispo Ladaria, atual Prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé indicado pelo Papa, apenas a aplica aos recasados (clique aqui).

Pe. José Augusto foi didático nesse famoso vídeo:



6- Confissão
Há quanto tempo você não se confessa? Faz muito tempo? Anos? Décadas talvez? A Confissão perdoa todos os pecados, o que faz nossa alma ficar “0 km” e a fortalece contra novas quedas.

Obs. Toda vez que se cometer um pecado grave é necessário se confessar (§1863, Catecismo da Igreja Católica). Sugestão: 1 vez por mês. Para acessar o melhor exame de consciência que conheço (clique aqui). A confissão é, em regra, individual ao sacerdote (Cân. 960 c/c Jo 20, 23), salvo em risco de morte ou necessidade grave que se aceita a confissão coletiva como último recurso (Cân. 961).

7- Oração
Quem reza, caminha para ser casto. Quem não reza, está parado. É assim que as baterias são recarregadas e o Senhor renova nossas forças, porque Ele nos dá asas de águias. Corremos sem nos cansar, vamos para frente sem nos fatigar (Is 40, 31).

Sugestão: a recitação do Santo Terço diariamente é a arma mais eficaz para praticar a pureza. Foi o que Mãe do Senhor (Lc 1, 43) pediu em todas as suas aparições, sobretudo em Fátima em que comemoramos 100 anos em 2017.

8- Meditação da Bíblia
Você lê a Palavra de Deus todos os dias? Com esse farol, poderemos ver mais e melhor.

Sugestão: 1 salmo ou 1 capítulo do Evangelho por dia. Comece sempre pelo Novo Testamento no caso de querer ler do início ao fim, pois Jesus é a chave de leitura da Bíblia (Lc 24, 27). Se quiser um método de leitura para ajudar (clique aqui).

9- Penitência
Você faz algum jejum ou abstinência? A penitência “doma” seu corpo, isto é, refreia o controle que ele quer ter sobre a alma.

Sugestão: a regra é que toda sexta-feira é um dia obrigatório de abstinência em que não se pode comer carne segundo os cânones 1249 a 1252. Posso comer no lugar peixe e ovos? Sim.

10- A fidelidade no pouco opera milagres (Lc 16, 10)

Não é necessário fazer grandes obras para ser casto. Dou testemunho de que o “feijão com arroz”, preparado e saboreado com amor, realiza prodígios. Para usar um exemplo do AT, o óleo e a farinha dados ao profeta Elias pela mulher de Sarepta que não acabariam enquanto a chuva não molhasse a terra (1Rs 17, 14). E no NT, os cinco pães e dois peixes que foram multiplicados por Nosso Senhor (Mt 14, 17). 

Desde quando passei a colocar em prática esses pontos, nunca mais caí na masturbação e fiquei completamente livre da pornografia. Sofri tentações violentíssimas do diabo em que meu corpo “gritava” por prazer, mas venci com a ajuda da graça.

Tudo passa, mas quem cumpre a vontade de Deus, sendo casto, permanece para sempre (1Jo 2, 17). Minha vida espiritual mudou por inteiro assim que cooperei de verdade. Hoje sou muito mais feliz do que no tempo do vício em que era “livre” para me masturbar e assistir à pornografia quantas vezes "quisesse".

Sem exagero, foi um divisor de águas: A.C. (antes da castidade) e D.C. (depois da castidade). Se eu soubesse que era tão libertador, teria me esforçado mais. Teria corrido mais. Teria amado mais a Deus e a mim mesmo do que a meus prazeres passageiros. Para quem não "suportava" ficar um dia sem o vício, faz anos que não caio mais para honra e glória do Senhor. 

A luta continua, agora se dá no campo dos pensamentos, todavia é um fardo suave e um jugo leve (Mt 11, 28-30), pois é Cristo quem me sustenta nessa empresa. Lembre-se: 1% é meu e 99% é d’Ele. Quando você será generoso para fazer esse investimento? É altamente rentável, lucrativo e recompensador em qualquer aspecto.

Parafraseando dois Papas, termino:

Não tenha medo de abrir as portas para Cristo! Ele não nos tira nada, pelo contrário, nos dá tudo!

sexta-feira, 16 de março de 2018

Tirando o Ano do Laicato do papel



Há alguns anos eu venho meditando sobre qual é o mínimo sobre a fé católica que todo batizado deveria saber, independentemente das suas condições específicas, isto é, seja rico ou pobre, culto ou meramente alfabetizado, atuante ou membro cativo da pastoral do banco. O primeiro passo é, sem dúvida, conhecer. E depois com a ajuda da graça passar a viver. Uns voam como águias, outros como pássaros miúdos e um grupo ainda está no ninho. O que importa nesse processo é estar em movimento. Nas palavras de São Paulo, “prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo” (Fl 3, 13-14).

Antes de explicar como fazer isso, gostaria de deixar uma contribuição prática a todos, sem exceção, que lerem esse pequeno artigo. Embora o catolicismo não seja a religião do livro, vamos à Bíblia. São João, que foi um dos Apóstolos que mais escreveram no Novo Testamento, disse ao final do seu belíssimo Evangelho: "Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever” (Jo 21, 25). O discípulo amado trazia a preocupação ecológica antes mesmo de se debater esse assunto. Brincadeiras à parte.

O Documento n. 105 da CNBB traz reflexões importantes e necessárias ao povo brasileiro. Se fosse resumi-lo em uma frase, diria que: os bispos do Brasil desejam que os leigos e leigas testemunhem Cristo com suas vidas no mundo. É aquele versículo extraordinário que traduz o pedido, quase a súplica paternal, de um bispo já citado: “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem a com a língua, mas por atos e em verdade” (1Jo 3, 18).

Afinal de contas, como fazer isso em larga escala? O objetivo principal do Documento n. 105 é esse, mas fracassa. Por quê? Por uma razão muito simples, ele aborda tanto as complexidades do mundo moderno que o efeito é justamente o contrário: paralisa as pessoas. No lugar de mobilizar, estagna. Os leigos, no geral, não procuram se aprofundar nas nuances das “bases fundamentais do mundo globalizado” (5.1). Esse é um interesse muito reduzido de pessoas com propensão à vida intelectual. O erro do Documento n. 105 é acreditar que, num passe de mágica (ou “conscientização”, sinônimos hoje em dia), haverá um engajamento e protagonismo maravilhosos da Igreja no Brasil e que mudará a realidade para melhor.

Eu sei que os bispos não são ingênuos de pensarem que da noite para o dia essa transformação acontecerá. Mas esse conteúdo altamente sofisticado está ali porque se espera que uma hora esse “despertar” religioso, cultural, político, econômico, jurídico e, por fim, social sucedam. É como água mole em pedra dura. Mas sinto ser um portador de más notícias: não acredito nessa solução, levando em conta o alcance almejado e o público-alvo. Vou ser mais direto.

O Magistério da Igreja é uma árvore frondosa. Repleto de frutos com sabores diferentes. Só para fazermos uma listinha:


- Catecismo da Igreja Católica: 940 páginas.
- Compêndio do Catecismo da Igreja Católica: 192 páginas.
- “Denzinger” (Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral): 1.468 páginas.
- Compêndio do Vaticano II: 796 páginas.
- Documentos de Paulo VI: 480 páginas.
- Documentos de João Paulo I e outras encíclicas de João Paulo II: 272 páginas.
- Documentos de João Paulo II: 1.144 páginas.
- Teologia do Corpo (série de catequeses entre 1979 a 1984): 604 páginas.
- Código de Direito Canônico: 896 páginas.
- Homiliário do Papa Bento XVI: 2.676 páginas.
- Textos do Papa Francisco: Laudato si’ (184), Evangelii Gaudium (163), Amoris Laetitia (208) etc.
- Youcat: 304 páginas.
- Docat: 320 páginas.
- Compêndio da Doutrina Social da Igreja: 527 páginas.

  Obs. O último documento da CNBB foi de nº 107. Embora, como regra, os documentos da Conferência não integrem o Magistério naquilo que não lhes foi delegado pela Santa Sé, se colocarmos uma média baixa de 100 páginas, serão mais de 10.000 páginas para a Igreja no Brasil. O Documento nº 105, por exemplo, tem 183.

  Obs2. Se formos incluir a Bíblia da Ave-Maria, são mais 1.696 páginas. Sem contar a liturgia diária que soma, em média, 100 páginas por mês. 1.200 páginas.

  Obs3. Não contabilizei: as instruções e notas dos dicastérios papais como a Congregação para a Doutrina da Fé; a liturgia das horas por ser obrigatória somente para os ministros ordenados e religiosos (4 volumes de 600 páginas); as obras de espiritualidade dos santos (a título ilustrativo, a de Santa Teresinha é uma Bíblia de 1400 páginas); os livros religiosos comumente vendidos (devocionários, oracionais, comentários bíblicos e teológicos etc.); Coleção da Patrística: 17.993 páginas (entraria mais como Tradição); Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino: 3.396 páginas etc.

Agora, é possível entender melhor o discípulo amado para além da sua preocupação ecológica: "Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever” (Jo 21, 25).

Sabe qual é o paradoxo nessa situação? Não chega 1% desse material às mãos da maioria esmagadora dos católicos. E qual é o resultado? Nosso Senhor continua a falar pela pena do profeta Oséias: “meu povo se perde por falta de conhecimento” (Os 4, 6).

É como disse no início o Documento n. 105 serve a uma “elite” de católicos, a um grupo extremamente reduzido de fiéis com meios de interpretá-lo com acerto. No mais, a ignorância nas questões mais básicas é reinante. A catequese, como um todo, geração após geração tem falhado no Brasil.



O quê fazer diante desse cenário tão triste? Como mudar com os pés no chão?

A primeira etapa é colocar os fiéis em contato com a sã doutrina da salvação. Dentre todos os documentos citados acima, o que melhor cumpre essa função é o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. São apenas 70 páginas (formatadas no Word) que podem mudar sua compreensão sobre a fé católica. Mudar para ampliar ou mudar para acertar.

Nesse pequeno e, ao mesmo tempo, grande tesouro a Igreja, nossa boa Mãe, ensina a nós os seguintes pontos:

i) como ler a Bíblia de forma correta;
ii) explica o Credo rezado em toda Santa Missa;
iii) dá uma aula sobre os sete sacramentos;
iv) fala sobre as vocações;
v) trata dos Dez Mandamentos, um por um, e quais as consequências;
vi) E ensina sobre o Pai Nosso.

Tudo isso em 70 pagininhas? Sim. Inacreditável. E mais: com o selo do Magistério infalível. É água pura.

Linguagem difícil? Não. Muito simples.

Qual é a dinâmica? Perguntas e respostas curtas.

Como consigo ler?
Parte 1 (clique aqui) e 
Parte 2 (clique aqui).


Quem quiser pelo celular:
Existe um aplicativo chamado Catecismo da Igreja Católica e lá tem uma opção "Compêndio".

Uma nota é importante: quem se preocupa com o "cristianismo na prática" (obras de misericórdia corporais), saiba que o DOCAT e a Doutrina Social da Igreja ensinam que é da vida interior (vivência da fé) que brota a força para as boas obras exteriores. Então, uma coisa não exclui outra. Os testemunhos dos grandes santos atestam essa verdade.


Podemos prosseguir para os 5 passos simples de como viver a fé católica. A simplicidade se deve à nossa professora que é ninguém menos que a Virgem Maria. Em suas aparições recentes no mundo, ela instruiu como destruir o diabo com 5 pedrinhas como o rei Davi um dia fizera com o gigante Golias (1Sm 17).

Antes de tudo, convém fazer uma pequena catequese: Maria é a Mulher profetizada no Gênesis, em que Deus mesmo estabeleceu o ódio entre ela e a serpente infernal (Gn 3, 15). Tanto Maria é a Mulher que Nosso Senhor em seu primeiro milagre ocorrido graças à sua intercessão (Jo 2, 1-9), chamou-a expressamente de "Mulher". E, enquanto pendia do madeiro da cruz, recordou-a de sua missão (Jo 19, 26-27). Por fim, a Mulher, na luta contra a serpente, sai vitoriosa e coroada por Deus (Ap 12, 1ss).

1ª Pedrinha – ORAÇÃO – Você reza todos os dias?

Sugestão: a recitação do Santo Terço diariamente é a arma mais eficaz. Foi o que Mãe do Senhor (Lc 1, 43) pediu em todas as suas aparições, sobretudo em Fátima em que comemoramos 100 anos em 2017.

2ª Pedrinha – CONFISSÃO – Há quanto tempo você não se confessa? Faz muito tempo? Anos? Décadas talvez?

Obs. Toda vez que se cometer um pecado grave é necessário se confessar (§1863, Catecismo da Igreja Católica). Sugestão: 1 vez por mês. Para acessar o melhor exame de consciência que conheço (clique aqui). A confissão é, em regra, individual ao sacerdote (Cân. 960 c/c Jo 20, 23), salvo em risco de morte ou necessidade grave que se aceita a confissão coletiva como último recurso (Cân. 961).

3ª Pedrinha - EUCARISTIA – Comunga com frequência?

Obs. Não se pode receber a Hóstia tendo pecado grave que não foi confessado (§1415, Catecismo da Igreja Católica). O sacrilégio é uma ofensa terrível e quem o pratica, torna-se réu do Corpo do Senhor (1Cor 11,29). A comunhão para os recasados/2ª união nunca foi liberada pela Igreja (§270, Youcat)
exceto para aqueles que viverem a continência, o "matrimônio josefino" (§84, Familiaris Consortio, c/c Capítulo Oitavo da Amoris Laetitia). Papa Francisco recorda essa verdade básica ensinada desde São Paulo (clique aqui) e o Arcebispo Ladaria, atual Prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé indicado pelo Papa, apenas a aplica aos recasados (clique aqui).

4ª Pedrinha – BÍBLIA – Você lê a Palavra de Deus todos os dias?

Sugestão: 1 salmo ou 1 capítulo do Evangelho por dia. Comece sempre pelo Novo Testamento no caso de querer ler do início ao fim, pois Jesus é a chave de leitura da Bíblia (Lc 24, 27). Se quiser um método de leitura para ajudar (clique aqui).

5ª Pedrinha – PENITÊNCIA – Você faz algum jejum ou abstinência?


Sugestão: a regra é que toda sexta-feira é um dia obrigatório de abstinência em que não se pode comer carne segundo os cânones 1249 a 1252. Posso comer no lugar peixe e ovos? Sim.

Se essas pedrinhas estiverem nas mãos dos católicos, não só o Ano do Laicato sairá do papel, como também teremos uma Igreja em saída, como luz do mundo e sal da terra, para renovar o Brasil.