Geralmente, as pessoas conhecem
muito pouco sobre esse tão importante santo. Alguns só sabem que ele é
comemorado no mês de junho por conta da “fogueira de São João”, cujo costume é
atravessá-la à meia-noite. Mas fiquemos com esta passagem dita por Nosso Senhor
na cabeça: “Eu vim trazer fogo à Terra e como gostaria que estivesse aceso” (Lc
12, 49).
1. ANÚNCIO
O arcanjo Gabriel foi enviado
ao sacerdote do templo Zacarias para revelar que Deus havia escutado a oração
dele e de sua esposa Isabel que era estéril. Eles teriam um filho que se
chamaria João, que seria “grande diante do Senhor” e “desde o ventre de sua mãe
cheio do Espírito Santo” (Lc 1, 15). Sua missão consistiria em “preparar ao
Senhor um povo bem disposto” (Lc 1, 17). Zacarias não acreditou e Deus, por
meio do arcanjo, castigou-o com a mudez temporária.
A semelhança do anúncio de São
João Batista com o de Nosso Senhor é grande. Isso mostra a conexão espiritual
entre ambos, não só sanguínea, porque Nossa Senhora era parenta de Santa
Isabel. Todo mundo sabe que São João Batista foi encarregado por Deus de
aplainar o terreno para o Messias. E o que o arcanjo Gabriel disse é a primeira
chave de nossa vida espiritual: precisamos ser um povo bem disposto. Após o
nascimento do menino Jesus, os anjos cantaram que a paz de Deus era destinada
aos “homens de boa vontade” (Lc 2, 14).
Em poucas palavras, tudo aquilo
que fazemos para Deus deve ser feito com alegria (2Cor 9, 7), isto é, sem
murmurações. Se for para reclamar, é melhor não fazer. Muitas vezes o que
precisa ser feito é um verdadeiro fardo e com sua inteligência você enxerga
isso, porém, se aceitar com resignação, pedindo forças a Nosso Senhor, não só o
seu pranto se transformará em alegria (Sl 30, 11), como também Ele mesmo virá
aliviar sua dor (Mt 11, 28).
2. VISITA
O encontro dos dois nascituros
João e Jesus é motivo de júbilo. Santa Isabel mal escuta a saudação de Nossa
Senhora e fica cheia do Espírito Santo. A razão é muito simples: Maria, na sua
relação com a Trindade, é a esposa do Espírito Santo (Lc 1, 35). Santa Isabel
revela que ela é também “Mãe do Senhor” (Lc 1, 43). Onde o Espírito Santo está,
Ele leva consigo seus frutos (Gl 5, 22). São João Batista com seis meses de
idade estremece no ventre de sua mãe. Esse é o primeiro ato de seu trabalho de “preparar
um povo bem disposto”. E parece óbvio que a primeira pessoa foi sua própria mãe
que interpretou um sinal comum como pertencente à ordem da graça.
Nós também devemos aprender com
São João Batista a reconhecer Jesus escondido. Ele está oculto nos pequeninos
(Mt 25, 31-26), no entanto, mais oculto na Eucaristia. Na aparência do pão e do
vinho, Nosso Senhor se aniquilou completamente por nosso amor. Mais até que na
cruz (Fl 2, 8), pois como nos ensina Santo Tomás no madeiro sua divindade
estava velada (Mt 17, 1-8), enquanto na Eucaristia até a humanidade desapareceu
aos nossos olhos.
Nosso Senhor quando anunciou
sobre esse mistério no capítulo sexto do Evangelho de São João perdeu dezenas
de discípulos, porque com acerto consideraram uma loucura propor um
canibalismo. Só que eles entenderam que era um canibalismo literal, o que
violava radicalmente a proibição de se alimentar de sangue. Quanto mais de
sangue humano. Era algo impensável e abominável. Mas Jesus quis outra forma de
canibalismo. Nós comeríamos sua carne e beberíamos seu sangue, no entanto, com
aparência, gosto e cheiro de pão e de vinho (Mt 26, 26-28).
3. BATISMO
São João Batista num ato de
reconhecimento e, em alguma medida, de adoração diz a Nosso Senhor: “eu devo
ser batizado por ti e tu vens a mim”. Jesus responde que era necessário cumprir
toda a justiça (Mt 3, 14-15). E logo em seguida diz a frase síntese de todos os
quatro Evangelhos e que foi assimilada pela liturgia católica: “Eis o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).
Ele nos dá a chave de leitura
do Antigo Testamento: Jesus era o Servo sofredor de Isaías (Is 53, 7). Chave de
leitura que será confirmada pelo próprio Jesus após sua Ressurreição (Lc 21,
27). E como são belas as palavras que São João Batista utiliza em relação ao
Messias: “não sou digno de lhe desatar as correias” (Jo 1, 27). Elas mostram a
atitude de humildade que devemos ter, porque “quem se humilha, será exaltado”
(Mt 23, 12). E foi exatamente o que Nosso Senhor fez ao engrandecê-lo, “entre
os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista” (Mt 11, 11).
4. DISCIPULADO
“Então os discípulos de João,
dirigindo-se a ele, perguntaram: Por que jejuamos nós e os fariseus, e os teus
discípulos não? Jesus respondeu: Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto
o esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o esposo. Então eles
jejuarão” (Mt 9, 14-15).
Essa passagem nos mostra a
importância do jejum. Nosso Senhor recomendou como devemos esconder nosso jejum
dos homens (Mt 6, 16) e avisou que alguns demônios só são expulsos com o jejum
e a oração (Mt 17, 21). Por isso é importante retomar a prática milenar na
Igreja de jejuar às sextas-feiras com a abstinência de carne em
memória da Paixão do Senhor (peixe pode comer) e de outro tipo de jejum aos sábados em honra de
Nossa Senhora para viver melhor o Domingo, Dies Domini, dia em que por
obrigação de amor, nós nos encontraremos com o Esposo da nossa alma na Santa
Eucaristia. Por isso faltar a Santa Missa sem motivo justo é pecado grave, pois
se escolhe deliberadamente ficar longe do maior tesouro na Terra: Jesus
eucarístico. Nada é mais valioso que Ele.
5- PRISÃO
São João Batista é encarcerado
a mando do rei, porque passou a acusar publicamente o pecado de Herodes (Mt 14,
3).
"Tendo João, em sua
prisão, ouvido falar das obras de Cristo, mandou-lhe dizer pelos seus
discípulos: Sois vós aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro? Respondeu-lhes
Jesus: Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: os cegos vêem, os
coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o
Evangelho é anunciado aos pobres... Bem-aventurado aquele para quem eu não for
ocasião de queda!" (Mt 11, 2-6).
A “dúvida” de São João Batista,
como nós também passamos pelas nossas “crises de fé”, tinha uma explicação:
Jesus foi o Messias esperado por seu povo e, ao mesmo tempo, inesperado. Por quê?
Na condição de Servo sofredor e de Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo,
a realeza que estabeleceu no nosso mundo foi sobretudo espiritual (Jo 18, 36). Os
judeus queriam um rei político que os livrasse do jugo de Roma e os exaltasse
para sempre. Essa vitória definitiva só ocorrerá na segunda vinda. Na primeira vinda,
Jesus derrotou o principal inimigo: o demônio e suas obras (IJo 3, 8). Ele destruiu
o jugo do pecado com sua carne dilacerada na cruz.
6- MORTE
São João Batista é morto a
pedido da filha de Herodíades, porque acusou o pecado de adultério do rei com a
mulher de seu irmão Filipe. Ela pede a cabeça do profeta num prato (Mt 14, 8).
São João Batista é considerado
mártir da Verdade e que exemplo luminoso para o nosso tempo em que a lassidão
afrouxou os corações. Ele morreu, não explicitamente por Jesus, mas por ter
dito a verdade. Verdade esta que Nosso Senhor reforçou, não apenas negando o
divórcio e tornando o casamento indissolúvel (Mc 10, 11), como também ao
afirmar que “todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já
adulterou com ela em seu coração” (Mt 5, 28).
As pessoas se enganam e se
deixar enganar com essa caricatura moderna de Jesus. Uma versão diet de seus
ensinamentos. Vejam como Ele se comportou com a mulher pega em adultério e que
seria apedrejada. Ele a acolheu com amor e perdoou seus pecados (até aqui o
mundo moderno exulta) e, ao final, diz: “vai e não peques mais” (Jo 8, 11). Um balde
de água fria, não é? Sim. Mas de uma água viva igual àquela que a samaritana,
também em adultério, pediu (Jo 4, 15). E logo em seguida o Senhor arranca seu
pecado, “porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido;
isto disseste com verdade” (Jo 4, 18).
Como essa lição se aplica a
nós? Hoje o clero não quer se indispor com o mundo, por isso prega uma versão
light sem gordura trans do cristianismo. Como? O Papa já explicou: o padre é
preparado anos e anos para o sacerdócio, enquanto os casais em um ou dois
encontros e já se celebra um sacramento duradouro até a morte do cônjuge. Aí vem
o divórcio e uma nova união ilícita (Mt 14, 4). Qual é a saída para não desagradar aos homens? Ofender mais a Deus.
“Não há problema algum, Fulano e Fulana, podem
comungar à vontade”. E a carta branca para a comunhão em pecado grave é
parecida com a carta de divórcio de Moisés por causa da “dureza de coração”. São
Paulo já alertou que a Eucaristia se transforma em condenação quando recebida
sem discernimento (1Cor 11, 29). E como a Igreja interpretou essa passagem? Não
se pode comungar em pecado grave. No Catecismo, isso está cristalino (§1415) e,
mais recentemente, no Youcat a Igreja repetiu o ensinamento milenar: não pode abolir
essa exigência e as pessoas em segunda união (recasados ou, sem floreio, em adultério) não podem participar da mesa eucarística (§270).
Isso é implicância/preconceito com as pessoas
de segunda união? Não. Todo pecado grave impede a comunhão. E toda situação de
pecado impede antes a própria confissão. Se você está amarrado a algum pecado
grave, não pode sequer se confessar. Por exemplo, um casal que faz sexo antes do
casamento (fornicação) e mal passa em sua cabeça deixar esse pecado.
Por fim, a última aula que esse
santo nos dá. A receita da santidade está na seguinte frase: “é necessário que
eu diminua para que Ele cresça” (Jo 3, 30). Nosso Senhor quando chamou seus
discípulos, disse que era preciso renunciar a si mesmo (à sua própria vontade)
para então fazer a vontade dEle (Lc 9, 23). Se nós fizermos isso, Cristo viverá
em nós (Gl 2, 3). A santidade é você renunciar a si e encher-se dEle. Isso é
bem concreto e começa quando abandonamos nossas ideias mundanas de certo e
errado para aderir à Verdade que ao ser conhecida, liberta (Jo 8, 32).
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