quarta-feira, 5 de junho de 2019

Francisco: Quem ostenta pecados públicos não pode dar catequese ou pregar!


“Se for rejeitar os pecadores como catequistas, não vai sobrar ninguém!” – ouvi isso de alguém que defendia a aceitação de pessoas que vivem em situação objetiva de pecado mortal como catequistas.
É uma boa frase de impacto, que pode convencer os menos advertidos. Mas é totalmente superficial e enganosa.
Uma coisa é um pecador que, a cada queda, rejeita o pecado e retoma o caminho de santidade, fortalecendo-se nos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Outra coisa bem diferente é estar em constante situação de pecado mortal e público, sem se desvencilhar dessa situação – o que lhe impede até mesmo de receber a Sagrada Comunhão.
O que é viver em pecado mortal e público? É a pessoa que, mesmo sabendo que a doutrina da Igreja condena a moralidade de seu modo de vida, decide (por motivos que só Deus pode julgar) seguir vivendo nesse mesmo estado. Soma-se a isso o fato de que se trata de um modo de vida assumido publicamente.
Para falar dos casos mais comuns de pecados graves e públicos, podemos citar:
  • os casais em segunda união (pessoas que, sendo casadas na Igreja, se divorciaram e se uniram a outra pessoa);
  • pessoas solteiras que vivem amasiadas;
  • homossexuais que não vivem a castidade e se relacionam com pessoas do mesmo sexo.
As portas e o coração da Igreja e de todos os cristãos devem estar escancaradas para essas pessoas, que são bem-vindas nas mais diversas atividades das paróquias: reuniões de oração, estudos bíblicos, palestras de formação espiritual, ações de caridade, direção espiritual com o padre ou diácono e no serviço às mais diversas pastorais.
Parece-me muito razoável que as pessoas em situação matrimonial irregular atuem (até mesmo em funções de liderança) nas pastorais carcerária, do dízimo, do teatro, da saúde, da criança, da música etc.
Porém, é problemático que assumam funções de catequese e pregação. Seria como passar a seguinte mensagem aos catecúmenos: “A Igreja prega isso e isso sobre moral sexual. Mas não é tão sério assim, porque, vejam, seu catequista vive o contrário disso e está aí, pregando para você. E está tudo bem!”.
Ou alguém aí acha que seria uma boa ideia ter uma casal em situação matrimonial irregular na coordenação do ECC - Encontro de Casais com Cristo? E que tal seria um homem em segunda união ser ordenado diácono?
Um catequista que vive em situação matrimonial irregular é como um personal trainer magricelo e flácido. Ele tem a missão de te motivar a pegar pesado nos exercícios e a ter disciplina com a alimentação. Ele até faz isso... Mas só com palavras! Pois, quando você olha para o seu estilo de vida e imagem, vê imediatamente o abismo entre o que ele prega e o que ele pratica.
A regra é simples: os que vivem em situação objetiva de pecado mortal “devem ser mais integrados na comunidade cristã sob as diferentes formas possíveis, evitando toda a ocasião de escândalo” (Amoris Laetitia, 299). Ou seja, integração SIM, desde que o serviço eclesial assumido não seja motivo de escândalo
Acho que a lógica deveria bastar e sobrar para provar o que estamos dizendo. Mas, para quem é viciado em pedir documentos, vamos lá...
Catecismo aborda a questão de forma bem genérica, mas já delineia a existência de uma limitação sobre as funções que pessoas em segunda união podem assumir na Igreja:
Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística, enquanto persistir tal situação. Pelo mesmo motivo, ficam impedidos de exercer certas responsabilidades eclesiais. (CIC, 1650)
Já sabemos que não podem “exercer certas responsabilidades eclesiais”. Mas quais seriam essas responsabilidades? O Papa Francisco dá nome aos bois:
Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objecto duma misericórdia «imerecida, incondicional e gratuita». Ninguém pode ser condenado para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho! Não me refiro só aos divorciados que vivem numa nova união, mas a todos seja qual for a situação em que se encontrem. Obviamente, se alguém ostenta um pecado objectivo como se fizesse parte do ideal cristão ou quer impor algo diferente do que a Igreja ensina, não pode pretender dar catequese ou pregar e, neste sentido, há algo que o separa da comunidade (cf. Mt 18, 17). Precisa de voltar a ouvir o anúncio do Evangelho e o convite à conversão. Mas, mesmo para esta pessoa, pode haver alguma maneira de participar na vida da comunidade, quer em tarefas sociais, quer em reuniões de oração, quer na forma que lhe possa sugerir a sua própria iniciativa discernida juntamente com o pastor.
- Amoris Laetitia, 297
É fundamental esclarecer que o católico divorciado que vive castamente pode ser catequista, sem problemas. Especialmente quando não foi o causador do divórcio, e fez de tudo para manter o casamento.
A ação pastoral justa e misericordiosa se alcança por meio de um equilíbrio que só a graça do Espírito Santo pode nos dar. Ao rejeitar o farisaísmo, não podemos cair no erro oposto: o jujubismo.
Extraído d'O Catequista

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