Sumário. Três
coisas são necessárias para a alma colher muito fruto da santa comunhão.
Primeiro, o desapego das criaturas, banindo do coração tudo que não é de Deus
ou para Deus. Segundo, o desejo de receber a Jesus Cristo com o único fim de
mais o amar. Terceiro, a devida ação de graças depois da comunhão; imaginando
que reside na alma como num trono de graças. Oh! Que tesouros de graças perde o
cristão que pouco pensa em orar depois da comunhão!
I. Pergunta
o cardeal Bona: “Onde vem que tantas almas, apesar das suas muitas comunhões,
fazem tão pouco progresso no caminho de Deus?” e responde: “Defectus non
in cibo est, sed in edentis dispositione – Não é falta de virtude em o
nutrimento, é falta de preparação naquele que o recebe.” O fogo pega depressa
na madeira seca e dificilmente na verde; porque esta não está disposta para
arder. Os santos tiraram grandes frutos das suas comunhões porque punham muito
cuidado em se preparar.
A preparação
para a comunhão exige principalmente três coisas. A primeira é o desapego das
criaturas, banindo do coração tudo que não é de Deus ou para Deus. Ainda que a
alma esteja em estado de graça, mas com o coração cheio de apetites terrenos,
quanto mais lugar ocupar a terra, tanto menos lugar restará para o amor divino.
– Santa Gertrudes perguntou um dia ao Senhor, que preparação exigia que ela
fizesse para comungar. E Jesus lhe respondeu: Só esta, que venhas receber-me
bem vazia de ti mesma.
A segunda coisa
necessária para comungar com grande fruto, é o desejo de receber a Jesus Cristo
com o único intuito de mais o amar. Diz Gerson que neste banquete não são
saciados senão os que têm grande fome. – Por isso, escreve São Francisco de
Sales, que a principal intenção de uma alma que comunga deve ser progredir no
amor de Deus. – “Importa”, diz o Santo, “receber por amor àquele que se nos dá
só por amor.” Eis porque Jesus disse a Santa Mechtildes:
“Quando fores comungar,
deseja possuir todo o amor que jamais um coração teve para comigo e eu
aceitarei teu amor como se fosse tal como o desejas.”
II. É
necessária também a ação de graças depois da comunhão. A oração mais agradável
a Deus é a que se faz depois da comunhão. A alma deve empregar este tempo em
produzir algum sentimento piedoso ou oração. Os afetos devotos que a alma
excita então têm mais merecimento diante de Deus, porque a presença de Jesus
Cristo na alma que lhe está tão unida, exalta a dignidade dos atos. – Quanto às
orações, Santa Teresa observa que depois da comunhão Jesus reside na alma como
em um trono de graças e lhe diz: Quid vis ut faciam tibi – “Que queres que
te faça?” Como se dissesse: Alma querida, vim de propósito do céu para te
dispensar graças, pede-me o que quiseres e serás atendida. Oh! Que tesouros
de graças perdem os que pouco oram depois da comunhão!
Ó Deus de amor,
Vós desejais tanto dispensar-nos as vossas graças e nós somos tão pouco
solícitos em Vo-las pedir. Que remorso nos causará na hora da morte este
descuido tão prejudicial! Meu Senhor, não Vos lembreis dos tempos passados; com
vosso auxílio quero preparar-me melhor para o futuro, arrancando do meu coração
o apego a todas as coisas que me impeçam de recebam todas as graças que Vós me
quereis conceder. E depois da comunhão quero entreter-me convosco o mais
possível, para obter de Vós o auxílio necessário ao progresso em vosso amor.
Dai-me a graça de executar esta resolução.
Ó meu Jesus,
quanto me descuidei no passado de vosso amor! O tempo de vida que pela vossa
misericórdia ainda me dais é um tempo para me preparar para a morte e compensar
pelo meu amor as ofensas que Vos fiz. Quero, pois, empregá-lo todo em chorar os
meus pecados e em Vos amar. Amo-Vos, meu amor, amo-Vos, meu único Bem. †
Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas; mas tende piedade de mim e não
me abandoneis. – Ó minha esperança, Maria, não deixeis nunca de me socorrer
pela vossa intercessão.
Fonte: Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório (bispo e doutor da Igreja), Tomo II, p. 262.
Fonte: Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório (bispo e doutor da Igreja), Tomo II, p. 262.
Gostou dessa meditação? Leia também a exortação para não se tornar réu do Corpo do Senhor.
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