Desde o século II os cristãos veneram a virgindade
perpétua de Maria. Seja através de seus bispos que tinham o prazer em refutar
qualquer um que negasse a virgindade de Maria não só antes, mas também durante
e depois do parto (em especial, Clemente, Orígenes, Atanásio, Ambrósio,
Epifânio, Jerônimo e Agostinho), seja através de obras pseudônimas (como o
Protoevangelho de Tiago) que tinham por intuito único zelar pela eterna pureza
e virgindade da Mãe do Senhor.
Por outro lado, desde a Igreja Primitiva, tem surgido
hereges que se recusam a ouvir a doutrina oficial da Igreja, e, negando essa
ilustre verdade de fé, blasfemam contra o nome da Santíssima Virgem com o
intuito de denegrir o santo tabernáculo de Deus.
De acordo com a doutrina católica, Maria tinha um
voto de virgindade e honrou este voto até o fim da vida. No entanto, essa
verdade de fé é blasfemada pelos hereges que supõem que a Virgem Maria e São
José teriam se unido carnalmente, gerando 7 filhos (ou mais). Defenderemos
então aqui neste post «aquela vulva pura que regenera os homens em Deus e que
Ele mesmo fez puro.» (cf. Santo Irineu, Contra as Heresias, IV, 33, 11).
SE MARIA TIVESSE A INTENÇÃO DE PERMANECER VIRGEM,
POR QUE SE CASARIA?
De acordo com a Tradição, Maria teria se casado com
José para que ele a vigiasse e a protegesse. Afinal, os judeus jamais admitiram
que uma mulher (por mais que tivesse um voto) morasse sozinha. É dessa forma
que explica Santo Agostinho: «Ela [Maria] fora dada em casamento a um varão
justo o qual, longe de lhe tirar o que ela já havia consagrado a Deus, seria,
ao contrário, o seu fiel guardião.» (Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade,
IV). O mesmo pode ser encontrado em uma obra escrita por uma comunidade cristã
oriental em meados século II chamada «Protoevangelho de Tiago» (X-XIII).
O próprio Livro de Números, ao abordar a questão do
voto feminino lembra que caso o marido o aceite, ele deve ser cumprido:
«Se uma donzela, que se encontre ainda na casa de
seu pai, fizer um voto ao Senhor, ou se se impuser uma obrigação, e seu pai,
tendo conhecimento do voto que ela fez ou da obrigação que tomou, nada disse,
todos os seus votos e suas obrigações serão válidos. (…) Se na ocasião de seu
casamento ela estiver ligada por algum voto ou algum compromisso inconsiderado,
e seu marido, sabendo-o, não diz nada naquele dia, seus votos serão válidos,
assim como os compromissos tomados.» (Números 30:3-7)
Ora, sendo José um “varão justo” (cf. Mt 1,19),
respeitaria o voto que sua esposa prestou a Deus. Logo, percebemos que o fato
de Maria se casar não exclui o seu voto de virgindade a Deus confiado.
A Catholic Answers lembra outro ponto que deve ser
considerado:
«Maria é retratada como a Esposa do Espírito Santo
nas Escrituras. Em Lucas 1:34, quando Maria pergunta ao anjo como ela conceberá
um filho, já que não conhece varão, o anjo responde: “O Espírito Santo descerá
sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (Lucas 1:35).
Esta é uma linguagem nupcial que remete para Rute 3,8, onde Rute diz a Boaz:
“Estende o teu manto sobre a tua serva, porque tens o direito de resgate.”
(Rute 3:9), quando ela revelou-lhe seu dever de se casar segundo a lei de
Deuteronômio 25. Quando Maria engravidou, José teria sido obrigado a
divorciar-se dela, porque ela pertenceria a outro (ver Dt 24: 1-4, Jeremias 3:
1), mas quando José descobriu que “O outro” era o Espírito Santo, a ideia de
ter relações conjugais com Maria não era uma consideração.» (TIM STAPLES
(Catholic Answers), The Case for Mary’s Perpetual Virginity)
Da mesma forma comenta o mariologista Michael
O’Caroll ao analisar esta passagem:
«O verbo epiaskiazein – usado para expressar a ação
do Espírito [em Lucas 1,35], pode, como D. Daube mostrou, referir-se à
concepção, sem perder a sua conotação do AT da presença divina. Por seus equivalentes
semíticos hebraico “salal” e aramaico “Tallel”, do qual veio “tallith”, pode
denotar relações conjugais – “tallith” era o manto de um homem erudito ou
piedoso e os rabinos usaram a frase “espalhar as asas[*]” (tallith) neste
sentido. É encontrada em Rute: “Eu sou Rute, sua serva (“doule “na Septuaginta
como em Lc 1,38) espalhe sua asa (” pterugion “,” Saia “em RSV é imprecisa)
sobre a sua serva para você” (cf. Rute 3,9 Ezequiel 16,8). Na literatura
rabínica a vida de Rute é muitas vezes interpretada como prefigurando eventos
messiânicos. Uma outra palavra usada pelos rabinos para a união marital “para
colocar o seu poder” (reshuth) sobre a mulher ecoa em Lc 1,35, “o poder do
Altíssimo te ofuscará”. Assim, a Anunciação tem um caráter nupcial, com
insistência no cônjuge humano como virginal, isto é, exclusivamente dado a
Deus.» (Michael O’Carroll, Theotokos: A Theological Encyclopedia of the Blessed
Virgin Mary, páginas 357-358)
[*] “Espalhar as asas” remonta ao emblema da
proteção; É uma metáfora retirada das crias de aves, que correm sob as asas de
sua mãe. Até o dia de hoje, quando um judeu casa com uma mulher, ele joga as
saias de seu talisth sobre ela, para significar que ele a tomou sob sua
proteção.
O apologista católico americano (e ex-pastor
protestante) Jimmy Akin,disponibiliza um estudo bíblico dos termos utilizados
em Lucas 1 com base nas tradições orais e escritas do Judaísmo rabínico
evidenciando a relação marital que o Espírito Santo exercerá sobre a Virgem:
«Também temos de levar em conta que quando Maria
foi informada pelo arcanjo Gabriel: “Eis que conceberás no teu ventre, e darás
à luz um Filho, e tu chamarás o seu nome Jesus” (Lc 1, 31). Ele também
acrescentou que isso aconteceria porque “o Espírito Santo virá sobre vós e o
poder do Altíssimo vos cobrirá, por isso o Santo que nascer será chamado Filho
de Deus” (Lc 1, 35) . Ao declarar que, nestes termos, o arcanjo declarou a
Maria que Deus iria entrar em um relacionamento conjugal com ela, fazendo-a
conceber seu filho em seu ventre(…).
Da mesma forma [utiliza o termo] “cobrir” (Lucas 1:
35). Espalhar a “asa” ou a “capa” sobre a esposa é outro eufemismo para os
relacionamentos conjugais. Assim, os rabinos comentaram que Rute era casta em
sua escrita quando pediu Boaz para ter relações conjugais com ela, dizendo-lhe:
“Eu sou Ruth sua serva, espalhe seu manto (“Asa” (Ramah, Kanaph)), sobre sua
serva, porque vós sois os meus parentes próximos.“(Rute 3: 9). Tallith, outra
palavra aramaico-hebraica para o manto, é derivada da sombra = tellal. Assim,
“espalhar a túnica sobre uma mulher” significa convivência com ela (Kiddushin
18b, ver também Mekhilta em Êxodo 21: 8). O Senhor não disse à sua esposa
Israel: “Eu sou casado com você” (Jeremias 3: 14); “O Criador é seu marido” (Is
54-5: 5, Jer 31: 32)? E o que é mais íntimo do que o que o Senhor disse à sua
noiva: “Você se desenvolveu, cresceu, chegou à feminilidade plena, seus seios
eram firmes e seu cabelo cresceu[…] você estava nua[…] e eu vi que agora você
era velho o suficiente para o amor, por isso estendi o meu manto sobre vós[…]
Eu vos dei o meu juramento, entrei em um pacto convosco e vós fostes feitos
meus, diz o Senhor Deus “(Ezequiel 16: 7, 8).»
(http://jimmyakin.com/perpetual-virginity-of-mary)
O Espírito Santo é o verdadeiro cônjuge de Maria.
Deus, entretanto, não a abandonaria sozinha aqui na Terra, afinal, Maria seria
morta pelo povo caso aparecesse solteira e grávida. Para que isso não
acontecesse e para poder lhe prestar apoio, Deus preparou José como seu esposo
aqui na Terra com o único intuito de proteger a Santíssima Virgem.
ONDE ESTÁ ESCRITO NA BÍBLIA QUE MARIA FEZ UM VOTO
DE VIRGINDADE OU QUE PERMANECEU VIRGEM APÓS O SEU PARTO?
São várias as passagens que nos revelam que Maria
permaneceu virgem após dar a luz a Jesus. Uma delas revela-nos seu voto de
virgindade (cf. Lucas 1,34); a outra, que ela não teve filhos (cf. João 19,27),
e as outras são tipologias que revelaram séculos antes de Jesus, a virgindade
perpétua de sua mãe. O que será analisado aqui é, em especial, a virgindade de
Maria após o parto.
A. LUCAS 1,34: MARIA TINHA UM VOTO DE NÃO CONHECER
VARÃO
«O anjo disse-lhe: (…) Eis que conceberás e darás à
luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. (…). Maria perguntou ao anjo: Como
se fará isso, pois não conheço homem? Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo
descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por
isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.» (Lucas 1:30-35)
O anjo, empregando o futuro, afirma que Maria
«conceberá» uma criança. Ora, estando ela prestes a se casar (e supondo que ela
tinha a intenção de relacionar-se sexualmente), o natural era que ela
entendesse que conceberia este filho com seu futuro marido, e deixasse o fardo
de qualquer outra revelação ao próprio mensageiro. No entanto, ao receber a
mensagem que seria um dia mãe, a jovem Maria questiona o anjo: «Como se fará
isso se não conheço homem?». Tal frase, empregada no indicativo, indica um
estado permanente: Maria não conhece varão. Uma analogia semelhante pode ser
feita com a questão do fumo. Se alguém me anunciasse: «Tu irás fumar» (no
futuro), e eu questionasse: «Como será isso se eu não fumo?» (no presente),
minha frase indicaria que eu não só não fumo (estado atual) como também que eu
não pretendo fumar (estado futuro), indicando uma opção permanente.
O presente do indicativo, utilizado por Maria na
expressão γινώσκω (“conheço”), «é usado para enfatizar que os resultados de uma
ação passada continuam» [1]. O Pe. André Feuillet comentou a respeito do
versículo 34: «Se ela quisesse dizer ainda que seu casamento não tinha sido
consumado, ela não teria usado o tempo presente.» (O’CAROLL, Michael, Theotokos: A Theological
Encyclopedia of the Blessed Virgin Mary, página 364). É por tudo isso que a partir dessa passagem, os primeiros cristãos
reconheceram o compromisso de Maria em não perder a virgindade: «O Anjo lhe
anuncia o nascimento e ela se agarra à virgindade, porque pensa que manter-se
intacta é superior à mensagem do anjo. Não nega fé ao anjo. Mas também não nega
sua decisão pela virgindade.» (São Gregório de Nissa, Hom. In. Nativ.; PG
46,1140).
Os protestantes argumentam que nesta passagem Maria
apenas está falando a respeito de seu estado atual e não sobre o seu estado
futuro.
Ora, tal argumentação só seria razoável caso o anjo
dissesse que ela já havia concebido. Se assim fosse, faria sentido Maria
perguntá-lo como isto havia se procedido, afinal, ela não mantinha relações
sexuais até então (ou seja, seu estado atual). No entanto, o anjo a informou
que ela conceberá uma criança (no futuro). Ora, como o anjo ainda não havia
dito que ela iria conceber do Espírito Santo (pois esta revelação só vem no vs.
35), caso Maria pretendesse ter relações sexuais com José, não faria sentido
fazer esta pergunta, afinal, ela sabia que a única maneira de se conceber um
filho era através do sexo com seu marido.
O Pe. Phillip Donnelly comenta a respeito desta
passagem: «Mas como poderia uma virgem já desposada, e em breve casada (isto
seria ainda mais estranho caso Maria já estivesse casada) desse alguma razão
para seu questionamento: «Como isso vai acontecer?». Podemos notar que Maria de
modo algum olhou para o passado, como se ela tivesse dito: “«… até este
momento, eu não conheço homem» como Catejan propôs; pois nesta suposição São
Lucas teria usado o passado (aoristo: ouk egnon) em vez do presente (ou
gignosko) absoluto, que inclui a intenção de não fazer uso de direitos
matrimoniais no futuro (Cf. Lagrange, Évangile selon saint Luc, ed. 7 (Paris,
1948), p. 32). A partir desta pergunta e da razão acrescentada, vemos que em
sua própria mente a virgindade de Maria era sagrada, inviolável, consagrada a
Deus, e que ela não se sentia livre para retirar sua consagração.» (DONNELLY,
Philip, Mariology(Juniper), Livro II, páginas 236-237).
Por fim vale o testemunho de Santo Agostinho sobre esta passagem:
Por fim vale o testemunho de Santo Agostinho sobre esta passagem:
«O que tornou a virgindade de Maria tão santa e
agradável a Deus não foi porque a concepção de Cristo a preservou, impedindo
que sua virgindade fosse violada por um esposo, mas porque antes mesmo de
conceber ela já a tinha dedicado a Deus e merecido, assim, ser escolhida, para
trazer Cristo ao mundo. É o que indicam as palavras de Maria em resposta ao
anjo que lhe anunciava a maternidade: “Como é que vai ser isso, se eu não
conheço homem algum?” (Lc 1,34). Por certo, ela não teria falado assim, se não
houvesse consagrado anteriormente sua virgindade a Deus. Mas como esse voto
ainda não tinha entrado nos costumes dos judeus, ela fora dada em casamento a
um varão justo o qual, longe de lhe tirar o que ela já havia consagrado a Deus,
seria, ao contrário, o seu fiel guardião. Ainda que ela apenas tivesse dito:
“Como é que vai ser isso”, sem acrescentar: “se eu não conheço homem algum”,
não ignorava que, como mulher, não precisaria perguntar como daria à luz esse
filho prometido, no caso de estar casada para ter filhos. Poderia também ter
recebido uma ordem do céu de permanecer virgem, a fim de que o Filho de Deus
tomasse nela a forma de escravo por algum grande milagre. Mas por estar
destinada a servir de modelo às futuras virgens consagradas, era preciso não
deixar parecer que unicamente ela deveria ser virgem, ela que merecera conceber
fora do leito nupcial. Assim, consagrou sua virgindade a Deus, enquanto ainda
ignorava de quem havia sido chamada a ser mãe. Desse modo, ela ensinava, às
outras, a possibilidade de imitação da vida do céu, em um corpo terrestre e
mortal, em virtude de um voto e não de um preceito, e realizando-o por opção
toda de amor, não por necessidade de obedecer. Cristo, assim, nascendo de uma
virgem que, antes mesmo de saber de quem seria mãe, já tinha resolvido
permanecer virgem, esse Cristo preferiu aprovar a santa virgindade a impô-la.
Dessa maneira, mesmo na mulher da qual haveria de receber a forma de servo, ele
quis que a virgindade fosse o efeito da vontade livre.» (Santo Agostinho, Sobre
a Santa Virgindade, IV)
B. JOÃO 19,27: MARIA NÃO TEVE OUTROS FILHOS
«E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã
de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena. Ora Jesus, vendo ali sua
mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe:
Mulher, eis aí o teu filho.
Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.» (João 19:25-27)
Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.» (João 19:25-27)
Essa passagem possui um sentido jurídico-legal no
que diz respeito à guarda da mãe de Jesus após a sua morte. E é isto que será
nosso objeto de análise já que, indiretamente, a passagem constata que Maria
não teve outros filhos além de Jesus.
Pela interpretação da Lei Mosaica vigente entre os
judeus da época de Cristo (em especial baseada no IV Mandamento), os filhos
eram os responsáveis legais por suas mães viúvas. Enquanto o marido delas
vivia, a responsabilidade do filho era de apenas sustentar a seus pais conforme
lembra o Livro do Eclesiástico: «Filho, ampara a velhice de teu pai e não lhe
causes desgosto enquanto vive.» (Eclo 3,14). Há inúmeros exemplos no Antigo
Testamento da responsabilidade do filho em cuidar do sustento dos pais (cf. Gn
47.12; Js 2.13,18; 6.23; 1Sm 22.3).
Com a morte do seu pai, no entanto, como lembra o
Dicionário bíblico protestante Wycliffe, os filhos assumiam a responsabilidade
jurídico-social de cuidar de suas mães viúvas (e não apenas de sustenta-las
economicamente): «Sob a lei mosaica, o cuidado para com a viúva era
considerado uma responsabilidade dos parentes, e era um dos deveres atribuídos ao filho
mais velho, que recebia a primogenitura.» (Dicionário Bíblico
Wycliffe. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p.2024).
O próprio Apóstolo Paulo reforça essa lei para os
cristãos: «se alguma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiro a
exercer piedade para com a própria casa e a recompensar a seus progenitores;
pois isto é aceitável diante de Deus. Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e
especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente»
(1 Tm 5, 3-4).
Ora, se Maria tivesse outros filhos a esperando em
casa eles teriam o dever de cuidar de sua mãe em sua viuvez. Maria iria,
portanto, para o que era seu e não para o que lhe era alheio. A cena
apresentada pelo Evangelho, no entanto, é reveladora: Com a morte de seu filho,
João, filho de Salomé e Zebedeu, «dessa hora em diante(…) a levou para a sua
casa» (Jo 19:27).
Alguns protestantes, no entanto, sugerem que como
os seus irmãos seriam supostamente incrédulos (cf. Jo 7,5), Jesus preferiu
confiar sua mãe a uma pessoa crédula como João.
No entanto, há vários problemas com esta
interpretação:
(I) Mesmo supondo que os irmãos biológicos de Jesus
não acreditassem que seu irmão fosse o Messias, isso não significa que eles o
abandonariam para morrer sozinho.
(II) Mesmo supondo que seus irmãos não gostavam de Jesus, isso não significa que os sete supostos filhos de Maria a abandonariam para que ela fosse morar sozinha com um estranho.
(III) Os judeus não permitiriam que uma mulher abandonasse os cuidados de seus filhos para ir morar sozinha com um homem que não conhecia e da qual não era casada. No entanto, caso ela fosse uma viúva desolada (isto é, sem filhos e não tendo para onde ir), fazia-se necessário que seu filho unigênito, antes de morrer, instituísse alguém de sua confiança para ficar com ela, podendo inclusive não ser alguém de seu clã familiar.
(IV) Cuidar da mãe viúva era um dever jurídico-social. Os judeus não poderiam descumprir uma obrigação destas tão facilmente.
(V) Jesus sabia que seus supostos irmãos se tornariam crédulos em poucos dias (já que ele ressuscitaria em três dias e se manifestaria para Tiago). Dessa forma não haveria motivos ele a separar de seus supostos outros filhos, a entregando para um estranho como João.
(VI) O IV Mandamento era seguido por judeus e cristãos. Mesmo sendo eles supostamente incrédulos ao cristianismo, eram fiéis judeus e não abandonariam as prescrições do AT.
O Pe. Phillip Donnely comenta a passagem da
seguinte forma: “Teria sido escandaloso na comunidade infantil da Igreja, que
foi eminente por seus elevados ideais e caridade calorosa, se Maria tivesse
sido separada de seus próprios filhos e confiada aos cuidados de um estranho.”
(DONNELLY, Philip, Mariology(Juniper), Livro II, página 248).
Os escritores cristãos que viveram em uma época
mais próxima de Cristo, ao ler essa passagem, entendiam com maior facilidade
que ela nos revelava indiretamente a virgindade perpétua da mãe do Senhor:
«Ao dizer isso (isto é, as palavras de João 19,25-
27) ele nos ensina que Maria não tinha outro filho, mas o Salvador. Se, de
fato, ela teve outro filho, o Salvador não teria a confiado a outros(…) mas
porque ela era uma virgem depois de ter sido sua mãe, ele a confiou ao
discípulo como mãe.» (Santo Atanásio de Alexandria, Corpus Scriptorum
Christianorum Orientalium, 59)
«Se eles fossem filhos de Maria[…] nunca durante a paixão ela teria sido entregue ao Apóstolo João como mãe, dizendo: a cada um, ‘Mulher, eis aí teu filho’, e João, “Eis a tua mãe ‘(João 19:26-27), como ele legou o amor filial a um discípulo como um consolo para a desolação» (Santo Hilário de Poitiers, In Evangelium Matthei Commentarius, I, 4)
«Se não fosse assim (isto é, se Maria não tivesse
permanecido virgem), estando na cruz, não entregaria a sua mãe a São João, o
qual também guardou a virgindade, ao dizer-lhe: ‘Eis a tua mãe’. E dizendo a
ela: ‘Eis o teu filho’. Ele podia entregá-la aos seus parentes ou aos filhos de
José, se estes fossem também filhos dela, refiro-me a Tiago, José, Judas e
Simão» (Santo Epifânio de Salamina, Panarion, 28, 7)
C. NENHUM HOMEM PASSARÁ PELO PURÍSSIMO VENTRE DE
MARIA
«Ele reconduziu-me ao pórtico exterior do
santuário, que fica fronteiro ao oriente, o qual se achava fechado. O Senhor
disse-me: Este pórtico ficará fechado. Ninguém o abrirá, ninguém aí passará,
porque o Senhor, Deus de Israel, aí passou; ele permanecerá fechado.» (Ezequiel
44:1-2)
De acordo com a tipologia do Antigo Testamento,
esse santo pórtico é o puríssimo ventre de Maria, onde o Espírito Santo
repousou, e onde só o príncipe da paz (cf. Is 9,6) poderá passar. São Tomás de
Aquino, citando Santo Agostinho, explica:
«Está escrito (Ezequiel 44: 2): “Esta porta ficará
fechada, não se abrirá, e ninguém passará por ela; porque o Senhor o Deus de
Israel entrou por ela”. Expondo estas palavras, diz Agostinho em um sermão (De
Annunt Dom III..): “O que significa este portão fechado na casa do Senhor,
exceto de que Maria deve estar sempre inviolável? O que significa que “nenhum
homem deve passar através dele”; se não que José não deve conhecê-la? E o que é
isso – “porque o Senhor, Deus de Israel, por aí passou”– exceto que o Espírito
Santo iria engravidá-la, e que o Senhor dos anjos nascerá dela? E o que
significa isso- “ele permanecerá fechado”– se não que Maria é uma virgem antes
de seu nascimento, virgem no seu nascimento, e uma virgem depois de seu
nascimento?» (São Tomás de Aquino, Summa Theologica, III, 28,3).
D. A ARCA INTOCÁVEL
«Quando chegaram à eira de Nacon, Oza estendeu a
mão para a arca do Senhor e susteve-a, porque os bois tinham escorregado. Então
a cólera do Senhor se inflamou contra Oza; feriu-o Deus por causa de sua
imprudência, e Oza morreu ali mesmo, perto da arca de Deus.» (2 Samuel 6:6-7)
A passagem citada mostra que nenhum homem era digno
de tocar na arca do Senhor pois esta pertencia somente a Ele. O Novo Testamento
apresenta Maria como a «Nova Arca da Aliança» (em especial, por Lucas e João) e
um profundo paralelo pode ser feito entre esta arca de pedra e Nossa Senhora:
Da mesma forma que nenhum homem era digno de tocar na antiga arca, nenhum varão
poderia aproximar-se do tabernáculo de Deus, isto é, do corpo de Maria, a nova
arca da aliança. Dessa forma a tipologia da arca nos revela mais uma doutrina a
respeito da Santíssima Virgem: a de que ela não conheceu varão algum.
E. FONTE LACRADA E SELADA
«És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa,
uma nascente fechada, uma fonte selada.» (Cântico dos Cânticos 4,12)
A «amada» de Cântico dos Cânticos é também é uma
figura da Santíssima Virgem, que os padres da Igreja como Prudêncio chamavam de
a “Esposa do Espírito Santo”. São várias passagens que são aplicadas
profeticamente à figura da mãe do Messias: «as donzelas proclamam-na
bem-aventurada, rainhas e concubinas a louvam.» (Cânticos 6:9); um símbolo da
mãe do Messias; que segundo Lucas, seria proclamada «bem-aventurada» perante
todas as gerações (Lucas 1,48); é dito que ela possui lábios de «leite e mel»
(Ct 4,11), e Cristo seria nutrido com «manteiga e mel» (Is 7,15); ela é chamada
de imaculada (Ct 4,7; 5,2) e Maria é imaculada (Gn 3,15); ela é a «Mais bela
das mulheres» (Ct 1,8) e Maria é a «Bendita entre as mulheres» (Lc 1,42); além
disso o portentoso quadro de Cânticos 6,10 prefigura a Mãe de Jesus em
Apocalipse 12,1-5. Por esse motivo muitos padres da Igreja viram nesta amada a
imagem de Maria: Ambrósio de Milão, Jerônimo de Estridão, Epifânio de Salmia,
Apônio, Santo Isidoro, Germano de Constantinopla, João Damasceno(…) [2].
Usualmente, o texto se aplica a três figuras:
Israel, a Igreja e Maria. A primeira através de sua união com Deus Pai, a
segunda através da sua união com Cristo, e a terceira através da sua união com
o Espírito Santo.
Neste texto, as Escrituras nos revelam que Maria, a
amada de Deus, é um «jardim fechado», uma «nascente fechada», uma «fonte
selada», o que indica que seu santo corpo não foi profanado com sêmen humano,
mas sim que sua virgindade permanece inviolável. A liturgia chama esta passagem
de «hortus conclusus». Os Santos Padres, desde o início do Cristianismo, viram
esta passagem indicando a pureza corporal da Santíssima Virgem e essa
interpretação se perpetua até os nossos dias.
OBJEÇÕES
A. “E NÃO A CONHECEU ATÉ QUE DEU À LUZ SEU FILHO”
(MATEUS 1,22-25)
Novamente, a partir de suas interpretações sem
nexo, os protestantes desvirtuam belíssimos textos das Sagradas Escrituras para
a defesa de suas heresias. Mateus afirma em seu Evangelho: «E não a conheceu
até que deu à luz seu filho» (Mateus 1:22-25). Do termo “até que”, muitos
protestantes afirmam que Maria perdeu a virgindade depois de dar a luz à Jesus.
Mas todos sabemos que não é bem assim pois quando dizemos que uma companhia
aérea não teve acidentes até hoje, não quer dizer que amanhã terá um acidente,
mas o termo é usado para designar apenas o que se deu.
Também sabemos que Mateus tinha nessa passagem
apenas o interesse de mostrar que Jesus nasceu de uma virgem, sem contato de
José. Da mesma forma do exemplo apresentado anteriormente, muitas vezes tanto
no hebraico quanto no grego das Sagradas Escrituras, os termo “até” (heus) e
“até que” (heus ous) ocorrem para designar apenas o que se deu no passado, sem
indicação do que haveria de acontecer no futuro, mas com o intuito simplesmente
de mudar de foco. Podemos exemplificar tipos de frases que, sem querer indicar
descontinuidade da ação, aplicam o termo “até que”: “Os judeus rejeitaram a
Cristo como Messias até que ele foi crucificado.” (O que não quer dizer que
depois o aceitaram); “Isabel e Zacarias se amavam muito até que conceberam João
Batista” (O que não quer dizer que depois deixaram de se amar); “E não jantou
durante a noite até que foi ao aeroporto e viajou para Itália” (O que não
significa que depois ele jantou); “E os santos amaram com todo coração à Deus
até que Jesus voltou.”(O que não significa que quando ele voltou, deixaram de
amar a Deus) (…) Em todos estes exemplos, o termo “até que” só está sendo
utilizado para mudança de foco.
Da mesma forma, podemos encontrar passagens deste
porte na Bíblia onde os termos “até” e “até que” não são utilizados para
designar descontinuidade da ação:
Gênesis 8,7:«[Noé] Soltou o corvo que foi e não
voltou até que as águas secassem sobre a terra» – Ora, isso indica que depois
que as águas secaram, o corvo voltou? Não.
João 9,18:«Mas os judeus não quiseram admitir que
aquele homem tivesse sido cego e que tivesse recobrado a vista, até que
chamaram seus pais.» – E o autor continua, mostrando a incredulidade dos
judeus, o que mostra que o termo até que não está indicando descontinuidade.
1 Coríntios 15,25: «Porque é necessário que ele
reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés.» – Um outro exemplo
que o contexto apenas queria passar uma mensagem, mas se interpretarmos
literalmente nos diz que o reino de Cristo teve fim. Entretanto, está dito na
Bíblia que o reino de Cristo “nunca terá fim” (cf. Lucas 1,33).
Salmos 111,8: «O coração do justo está firme e não
temerá até que veja confundidos os seus inimigos»– Ora, depois de ver seus
‘inimigos confundidos’, ele não ficará mais firme ou não temerá? Obviamente
não.
Mateus 28,20: «Eis que estou convosco todos os
dias, até o fim do mundo.»– Jesus nos abandonaria depois disto? Não.
2 Samuel 6,23: «E Micol, filha de Saul, não teve
mais filhos até o dia de sua morte.» – Depois ela teve filhos?
Todas as passagens acima mencionadas estão
utilizando os termos «até» e «até que» simplesmente para mudança de foco, não
querendo pressupor uma descontinuidade. É dessa forma que funciona o texto: «E
não a conheceu até que deu a luz à seu filho», na qual Mateus apenas reforça a
ideia de que o nascimento de Jesus não se deve à cópula de José e Maria, mas ao
Espírito Santo.
B. “E ELA DEU A LUZ AO SEU FILHO PRIMOGÊNITO”
«E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o
em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na
hospedaria.(…) Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés,
levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, conforme o que está escrito
na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor
{Ex 13,2}; e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par
de rolas ou dois pombinhos.» (Lucas 2:2,22-25)
Os protestantes (que não conhecem verdadeiramente a
cultura hebraica) supõem que por Jesus ser chamado de «primogênito» de Maria
por Lucas (cf. Lc 2,2), essa passagem indicaria que ele era o «primeiro de
muitos» e não o único (isto é, o «unigênito»). Esquecem-se eles, entretanto,
que o termo «primogênito» era uma teminologia jurídica super-valorizada no
mundo antigo, e em especial em Israel, como será explicado a seguir.
Para entender melhor a escolha deste termo, deve-se
estudar sobre o quem era o filho “primogênito” na Antiga Israel. A palavra “primogênito”
tem sentido e valor mais especiais no contexto bíblico. Além de conseguir uma
porção dobrada da herança dos pais, o primeiro filho, no antigo Israel, gozava
de privilégios exclusivos: era ele o principal herdeiro da família. Assim, Jacó
pretendeu que seu irmão Esaú lhe vendesse seu direito de primogenitura porque,
embora fossem gêmeos, Esaú nasceu primeiro e por isso tinha direitos sobre o
irmão (Gn 25,31-32). Ao direito de primogenitura correspondia uma bênção
especial que Jacó usurpou a seu irmão, que diz: “Apoderou-se do meu direito de
primogenitura, e agora apodera-se da minha bênção” (Gn 27,36).
O Livro dos Salmos fala do rei David como
primogênito de Deus, como possuidor de proteção divina especial: «Eu o
constituirei meu primogênito, o mais excelso entre os reis da Terra» (Sl
89,28). Quando Moisés foi encarregado de conduzir o povo de Israel, Deus
mandou-lhe dizer ao faraó: «Assim fala o SENHOR: Israel é o meu filho
primogênito. Digo-te: deixa ir o meu povo para que me sirva; se recusares deixá-lo
ir, Eu matarei o teu filho primogênito.» (Ex 4,22-23). À meia-noite, Deus
cumpriu a sua promessa (Ex 12,29), poupando os primogênitos de Israel pela
imolação do cordeiro pascal com cujo sangue pintaram a verga e as ombreiras de
suas casas (Ex l2,23-24). Deste fato nasceu, pois, a chamada «Lei sobre os
primogênitos», a respeito da qual o Senhor disse a Moisés: «Consagrar-me-ás
todo o primogênito, dentre os filhos de Israel; seja homem ou animal, ele me
pertence» (Ex 13,1-2).
Israel sempre enfatizou tanto o valor do primeiro
filho entre os demais, como herdeiro legal de seu pai, que sempre preferiu
chamar os filhos únicos de mulheres como unigênito. No caso, João Batista,
filho único de Isabel, devia ser chamado de “primogênito de Zacarias”.
Arqueólogos encontraram um epitáfio de uma judia
chamada Arsinoé (provavelmente erguida por seu marido), que morreu grávida de
seu único filho, no primeiro século no Egito. Em seu epitáfio estava escrito:
«O destino levou-me ao fim da minha vida em
carregar meu filho primogênito.» [3]
Ela morreu pelo tempo de Jesus, deixando claro que
um judeu sempre iria preferir chamar um primeiro, e ainda que seja o último,
filho de um casal como “unigênito”, mas sim como “primogênito”. Da mesma forma,
seria estranho para qualquer um dos escritores bíblicos a utilização do termo
«unigênito», pois como todo filho único é um filho primogênito e os hebreus,
como mostramos acima, valorizaram muito tal denominação, sempre tenderiam a
escolhê-la, ainda mais no contexto do capítulo 2 de Lucas, onde ocorrerá a
apresentação, que só poderia ocorrer com filhos primogênitos.
C. “ANTES DE COABITAREM, ACONTECEU QUE ELA CONCEBEU
POR VIRTUDE DO ESPÍRITO SANTO.” (MATEUS 1,18)
«Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Que
estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter
concebido do Espírito Santo.(…) José fez como o anjo do Senhor lhe havia
mandado e recebeu em sua casa sua esposa.» (Mateus 1:18)
Os protestantes alegam que a partir do termo «antes
de coabitarem», o Evangelista suporia a perda da virgindade de Maria. Ora
«antes de coabitarem» significa apenas «antes de morarem juntos na mesma casa»,
algo que ocorreu antes mesmo do parto de Jesus pois «José fez como o anjo do
Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa.» (Mt 1,24). Assim
explica perfeitamente, outra página católica a respeito deste mesmo versículo:
«Aqui, mais uma vez, é preciso conhecer o contexto
para se compreender essa passagem. Segundo o costume judeu, o casamento se
realizava em duas etapas. Na primeira, embora os noivos fossem considerados já
casados, a esposa permanecia algum tempo na casa paterna. Na segunda etapa, os
parentes a levavam para a casa do esposo, e aí se consumava o casamento.
Com a expressão “antes de coabitarem”, o Evangelista
dá a entender que a concepção virginal de Cristo se deu antes que a Virgem
Maria estivesse vivendo na casa de seu castíssimo esposo. (…) Que não houve
coabitação se constata também quando o mesmo Evangelista narra que São José,
percebendo que sua esposa concebera, não conhecendo o mistério, mas não
querendo difamá-la, resolveu “rejeitá-la secretamente”. Mas o Anjo do Senhor
apareceu-lhe em sonhos tranqüilizando-o e aconselhando-o a recebê-la em sua
casa, porque Ela concebera por obra do Espírito Santo (Mt 1, 20 a 24).»
(GEOVANI ALVES, Apologética da Fé Católica, Respostas da Doutrina Católica a
algumas objeções protestantes, 5)
Santo Ambrósio, bispo de Milão no século IV,
explica essa passagem, dando-nos outro argumento:
«A segunda questão diz que está escrito: «Antes de
terem vido em comum, encontrou-se grávida» (Mt. 1, 18). O costume da Escritura
divina é atacar directamente a questão que se propôs tratar e não se deter numa
questão episódica.» (Santo Ambrósio de Milão,De Institutione virginis et Sanctae
Mariae virginitate perpetua, cap. 5, 37)
Como explica a nota n. 12 da obra De Institutione
virginis et Sanctae Mariae virginitatepresente no site dos Apologistas
Católicos: «É um argumento excelente de Santo Ambrósio: a referida passagem do
Evangelho não diz que José teve relações carnais com a Virgem depois do
nascimento de Cristo, mas somente pretende afirmar que não as teve antes. Sendo
assim, argumenta Santo Ambrósio, o costume da Escritura, ao tratar de um
assunto, é fazer conhecer o ponto principal que se propôs tratar, que neste
caso é: a Virgem concebeu Jesus por obra do Espírito Santo. Sendo este o
objectivo principal, o Evangelho não pretende deter-se numa questão episódica,
isto é, tratar do assunto da relação carnal de Maria e José após o nascimento
de Jesus.».
Logo, novamente, o texto é tirado do contexto pelos
próprios protestantes.
D. OS “IRMÃOS” DE JESUS
Embora os argumentos baseados nas terminologias
«primogênito», «até que» e «antes de morarem juntos» sejam bastante utilizados,
os versículos favoritos dos protestantes contra a virgindade perpétua de Maria
são os textos que falam sobre os supostos «irmãos» de Jesus: «Não são seus
irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não vivem todas entre nós?
Donde lhe vem, pois, tudo isso?» (Mateus 13:55-56). Estes “irmãos” de que o
texto fala, não se tratam de irmãos espirituais mas de parentes de Nosso
Senhor. Mostraremos aqui que a Bíblia nomeia sua mãe, e ela não é a mãe de
Jesus. Também explicaremos aqui o porquê foi utilizado o termo “irmão” para
designá-los, e por fim, exporemos uma análise a respeito de um suposto achado
arqueológico denominada falsamente de “Ossuário de Tiago”.
A IDENTIDADE DOS IRMÃOS DE JESUS
De acordo com a Bíblia, os ditos «irmãos» de Jesus
eram chamados: «Tiago, José, Simão e Judas» (cf. Mt 13,55). De acordo com a
Tradição da Igreja, eles eram parentes de Nosso Senhor, filhos do irmão
biológico de São José, São Clopas (ou Santo Alfeu) e de sua esposa, Maria de
Clopas. Vamos às provas que comprovam nossa doutrina perante as Sagradas
Escrituras.
Ao tratar das mulheres que estavam presentes na
cruz, João narra a presença de uma tal de Maria de Clopas, apresentada como
«irmã» da mãe de Jesus (cf. Jo 19,25). Como será abordado mais abaixo, Maria de
Clopas não era realmente «irmã» de Maria, mãe de Jesus, mas sim sua concunhada,
pois nenhum pai judeu colocaria o mesmo nome em duas de suas filhas, e, de
acordo com Hegésipo (historiador cristão do século II), seus maridos eram
irmãos biológicos (cf. Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, Livro III,
XI,1).
Ao falar desta mesma Maria (que não é a mãe de
Nosso Senhor), os escritores Mateus e Marcos, a designam como «Maria, mãe de
Tiago e de José» (Mateus 27,56); e «Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José»
(Marcos 15,40). Mas, que Tiago é este? Marcos o chama de Tiago «Menor» com o
intuito de distingui-lo de Tiago «Maior». Tais designações fazem referência à
distinção dada aos dois apóstolos com nome de Tiago. Recorrendo as listagens
dos Apóstolos, percebemos que este Tiago possui outro irmão, chamado Judas
Tadeu (cf. Jd 1,1; Atos 1,13), o qual também era apóstolo. Dessa forma, a
Bíblia revela que Jesus tinha uma tia (cf. Jo 19,25) que teve filhos chamados
Tiago, José (cf. Mt 27,56) e Judas (cf. Jd 1,1; Atos 1,13).
E quanto a Simão? Embora Simão não esteja presente
na Bíblia, Hegésipo, historiador cristão que viveu pouco depois dos apóstolos,
narra que Maria de Clopas tinha mais um filho: «Com um pouco de cálculo pode-se
dizer que também Simão viu e ouviu pessoalmente o Senhor, baseando-se na longa
duração de sua vida e na menção que o texto dos evangelhos faz de Maria de
Clopas, de quem já se demonstrou que Simeão era filho.» (Hegésipo sendo citado
por Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, Livro III, XXXII, 4). Dessa forma
chegamos ao número 4.
Ora, não é muita coincidência a mãe e a tia de
Jesus colocarem o mesmo nome em todos os seus filhos? A hipótese de que haviam
dois conjuntos de primos de uma mesma família com os mesmos nomes é totalmente
absurda do ponto de vista lógico. Estes são os verdadeiros “irmãos de Jesus” a
quem a Bíblia se refere: os seus parentes.
TESTEMUNHO DE PAULO
Outro dado importante é que após Paulo ter se
convertido, foi buscar Pedro, o líder da Igreja, para conhecê-lo: «Três anos
depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias. Dos
outros apóstolos não vi mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor.» (Gl 1,
18-19). Perceba que Paulo designa Tiago como um «apóstolo» associando-o a São
Pedro. E, ora, nas listas dos 12 apóstolos só há dois Tiagos: o primo de Jesus,
filho de Alfeu, e Tiago Maior, filho de Zebedeu (cf. Atos 1,13). Não há um
“filho de José” nas listas de apóstolos. Logo, Paulo reconhece a virgindade
perpétua de Maria reconhecendo o apostolado de Tiago Menor. É interessante
notar que Paulo passa 15 dias em Jerusalém. Ora, nisto ele provavelmente viu
muitos discípulos (já que Jerusalém estava repleta deles e os apóstolos não
pregavam sozinhos), mas só viu dois apóstolos: Pedro e Tiago.
O ARGUMENTO DA INCREDULIDADE
Alguns argumentam, entretanto, a existência de um
possível «terceiro Tiago» baseado no fato de que como os irmãos de Jesus
tiveram algumas incredulidades (cf. Jo 7,5), não poderiam ser dois deles
apóstolos. Entretanto, há dois problemas com essa interpretação. Primeiro, os
títulos de «Maior» e «Menor» designam duas pessoas e não três. Segundo, os
primeiros cristãos falam apenas de dois Tiagos, não de três. Exemplo disso é o
bispo Clemente de Alexandria: «O Senhor, depois de sua ascensão, fez entrega do
conhecimento a Tiago o Justo, a João e a Pedro, e estes o transmitiram aos
demais apóstolos, e os apóstolos aos setenta, um dos quais era Barnabé. Houve
dois Tiagos: um, o Justo, que foi lançado do pináculo do templo e morto a
golpes com um bastão; e o outro, o que foi decapitado.» (São Clemente de
Alexandria, Hypotyposeis, VI, citado em Eusébio de Cesaréia, História
Eclesiástica, II.1). O mesmo é feito por São Jerônimo dois séculos mais tarde
(Jerônimo, Contra Helvídio, XV).
Como podemos então resolver essa aparente
contradição nas Escrituras? Simples: É comum na Bíblia os apóstolos duvidarem
de Cristo em alguns momentos. Pedro (Mt 12,31; 14,29-31), Tomé (Jo 20,24-29),
Filipe (Jo 14,8-10), e todos os demais apóstolos (cf. Marcos 16,14; 9,19) em
alguns momentos demonstram incredulidade com relação ao Salvador. Com seus
familiares que faziam parte do grupo apostólico não foi diferente. Como lembra
o texto de João 7, os irmãos de Jesus exigiam a seguinte reinvindicação: «Sai
daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras
que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa
alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.» (João 7:3-4).
Ora, nesta passagem os parentes de Jesus que faziam parte do grupo dos 12
apóstolos (isto é, Tiago e Judas) estavam repreendendo Cristo porque ele só se
manifestava aos 12 e não aos discípulos (que estavam inclusive o deixando, cf.
João 6,66).
Para que não reste dúvida que estes parentes de
Cristo que pediam que ele se manifestasse ao mundo e não somente aos 12, eram
os apóstolos Judas Tadeu e Tiago de Alfeu, segue o questionamento de Judas
Tadeu para Cristo no momento da última ceia: «Pergunta-lhe Judas, não o
Iscariotes: Senhor, por que razão hás de manifestar-te a nós e não ao mundo?»
(João 14,22-24). Perceba que no mesmo Evangelho, a mesma reinvindicação de João
7 é questionada por Judas Tadeu, primo do Salvador. Concidência? Não! Este é um
dos “irmãos incrédulos” que João se referiu mais anteriormente. O fato é que Judas
(e também provavelmente Tiago) era apóstolo e em algum momento ficou incrédulo
em relação a Jesus pois queria que ele se manifestasse não apenas ao grupo dos
doze, mas «ao mundo».
O Pe. Phillip Donnelly também nota dois outros
pontos a respeito deste texto sobre a “incredulidade” dos irmãos de Jesus: «Que
os chamados irmãos do Senhor eram mais velhos do que Cristo é também aparente
pelo fato de que eles o aconselharam e o repreenderam (cf. Jo 7,3ss), e até
mesmo em uma ocasião procurou detê-lo (cf. Mc 3,21); Tais ações segundo os
costumes semitas seriam apropriados apenas para irmãos mais velhos ou parentes.
Além disso, em Marcos 6,3, Jesus é designado tão enfaticamente como “o” filho
de Maria (ho huios tes Marias) que qualquer outro filho, além Dele, não pode
ser legitimamente suposto.» (Pe. Donnelly, Mariology (Juniper), 248-249). Eis
mais uma prova bíblica de que os irmãos de Jesus são na realidade, seus primos
mais velhos.
MARIA ANDAVA ACOMPANHADA COM OS “IRMÃOS DE JESUS”,
LOGO É SUA MÃE
A argumentação mais fraca por parte dos
protestantes é a de que como Maria sempre aparece acompanhada dos “irmãos”, ela
só poderia ser sua mãe. Tal interpretação, entretanto, despreza fatores
culturais das antigas sociedades, onde uma senhora de idade (que ainda por cima
era viúva) jamais sairia de casa sozinha, mas sempre acompanhada (ou por um
servo ou por um parente). Além disso, é importante ressaltar que sempre que
Maria aparece com os “irmãos” do Senhor, ou ela precisa enfrentar multidões
para falar com Jesus (onde seria obviamente necessário levar seus familiares
consigo) ou quando estão todos reunidos em festas ou eventos públicos, como em
Caná e Pentecostes (e onde também seria normal ela ser encontrada entre seus
parentes). Esse argumento, portanto, é falho e não se sustenta diante de uma
análise lógica.
CLÉOFAS OU ALFEU?
O nome do marido de Maria de Clopas é Clopas ou
Alfeu? Há duas opções para isso: ou se trata da mesma pessoa com dois nomes (um
hebraico e outro grego), ou se fala de dois casamentos. Baseado na tradição da
Igreja, tende-se à primeira interpretação pois era comum entre os judeus da
época, que viviam em contato com o mundo helênico, ter, além do seu nome de
nascença hebraico, um nome grego. É dessa forma que explica o Padre Paulo Ricardo
em seu post sobre os “irmãos” de Jesus:
«Conjecturando, é possível que Cléofas e Alfeu
fossem a mesma pessoa, com um nome grego e outro judaico. Ou ainda, que essa
Maria, tia de Jesus, casou-se duas vezes, uma com Alfeu, concebendo Tiago e
outra com Cléofas, com quem teve outros filhos.»
(https://padrepauloricardo.org/episodios/quem-sao-os-irmaos-de-jesus).
O TERMO “IRMÃO” E O GREGO
A Bíblia foi escrita em três línguas: o Antigo
Testamento foi escrito em hebraico e aramaico e o Novo Testamento foi escrito
em grego koiné. O hebraico e o aramaico não possuíam termos específicos para
cada membro da família, utilizando o termo geral “irmão” para todo parente
próximo (isto é, para os descendentes de um mesmo ancestral comum). Isso
incluiria primos, sobrinhos, tios e cunhados. Nisso, era comum Jesus e os
apóstolos chamarem seu parentes próximos de “irmãos”.
Da mesma forma, o grego, embora tivesse um termo
específico para designar «primo» (em grego anepsios), também se utilizava do
termo geral «irmão» (em grego adelphos) para designar os parentes próximos.
Como não era interesse dos autores precisar o grau de parentesco, utilizaram-se
do termo geral para designar a relação entre Jesus e seus primos. Existia
também o termo «parente» (em grego, «sugennes»), mas este se restringia a
relações parentais mais distantes como a relação entre a jovem Maria e a idosa
Isabel, não podendo ser aplicado para parentes próximos como Jesus e Tiago.
Tendo em vista que o hebraico do Antigo Testamento
ilustra de maneira clara que os judeus chamavam seus parentes próximos de
“irmãos”, como podemos ter certeza que o grego da época de Jesus também
utilizava o termo “irmão” como um termo geral? A resposta é simples: Através da
tradução que os judeus fizeram das Escrituras pouco tempo antes de Cristo
nascer, chamada Septuaginta (LXX, ou Tradução dos Setenta). Nessa tradução, os
judeus levaram em conta as questões relativas à cultura grega: qualquer palavra
que os gregos não entendessem, os judeus a modificariam.
Foi por isso que em Isaías 7,14, por exemplo, os
judeus modificaram o termo «almah» (que significa literalmente «jovem») para o
termo «pathernos» (que significa «virgem») pois os gregos poderiam não entender
que para um judeu, uma mulher jovem não pode deitar-se com um homem até o casamento,
sendo virgem. Ora, isso significa que caso os gregos não entendessem que o
termo «irmão» pode significar qualquer parente próximo, como ocorria no
hebraico, os judeus o teriam mudado. Mas será que eles mudaram? Vejamos:
Os filhos de Eleazar e Cis
«Eleázar morreu sem filhos; teve somente filhas,
que desposaram os filhos de Quis, seus irmãos.» (1 Crônicas 23,22)
Na Septuaginta:
«καὶ ἀπέθανεν Ελεαζαρ, καὶ οὐκ ἦσαν αὐτῷ υἱοὶ ἀλλ᾽ ἢ θυγατέρες, καὶ ἔλαβον αὐτὰς υἱοὶ Κις ἀδελφοὶ αὐτῶν.» (1
Crônicas 23,22)
Os filhos de Quis eram primos de primeiro grau dos
filhos de Eleázar, mas são chamados de irmãos. Os judeus da Septuaginta não
modificaram o termo para “anepsios”, embora o pudessem fazer.
O livro de Tobias
Embora não esteja presente nas Bíblias
protestantes, o Livro de Tobias estava presente na Septuaginta e é uma
importante prova de que os judeus utilizavam o termo grego “adelphos” para
significar um primo. Neste texto grego, Raguel pergunta à Tobias:
«Conheceis porventura meu irmão [adelphos] Tobit?»
(Tobias 7,4).
Novamente a Septuaginta não mudou o termo
«adelphos» por «anepsios». Perceba, entretanto, que o escritor de Tobias
utiliza aí um termo generalizador, pois não está pretendendo precisar o grau de
parentesco entre os dois. Entretanto, alguns versículos antes, ao ver Tobias,
filho de Tobit, ele afirma, utilizando o termo específico “anepsios”, que Tobit
é realmente seu primo:
«Vendo Tobias, Raguel disse a Edna, sua mulher:
Como este jovem é parecido com meu primo [anepsios].» (Tobias 7,2)
Depois disto, Tobias diz que está tomando sua
“irmã” (adelphe) como esposa, enquanto na realidade eram primos de primeiro
grau:
«Tobias, então, ergueu-se do leito e disse à
esposa: «Irmã (adelphe), levanta-te; vamos orar para que o Senhor nos conceda a
sua misericórdia e salvação.» Levantaram-se ambos e puseram-se a orar e a
implorar que lhes fosse enviada a salvação, dizendo: «Bendito sejas, Deus dos
nossos pais, e bendito seja o teu nome, por todas as gerações; louvem-te os
céus e todas as tuas criaturas, por todos os séculos. Tu criaste Adão e
deste-lhe Eva, sua esposa, como amparo valioso, e de ambos procedeu a linhagem
dos homens. Com efeito, disseste: Não é bom que o homem esteja só; façamos-lhe
uma auxiliar semelhante a ele. Agora, Senhor, Tu bem sabes que não é com paixão
depravada que agora tomo por esposa a minha irmã (adelphe), mas é com intenção
pura. Permite, pois, que eu e ela encontremos misericórdia e cheguemos juntos
à velhice.» E ambos responderam ao mesmo tempo: «Ámen! Ámen!» Depois, deitaram-se
para passar a noite.» (Tobias 8,4- 9)
O texto evidencia que no grego, os parentes
próximos eram considerados todos como “irmãos”. Caso contrário, os judeus
teriam alterado o termo “irmão” para o termo anepsios (primo), mas preferiram
continuar utilizando adelphos.
Abraão e Ló
Lot, sobrinho de Abraão, também foi chamado de
“irmão” no hebraico:
«Abrão disse a Lot: «Peço-te que entre nós e entre
os nossos pastores não haja conflitos, pois somos irmãos.» (Gênesis 13,8)
E ninguém precisou alterar para o termo grego “o
filho do irmão”, pois todos entendem que indica um parente próximo. Por isso,
os tradutores da Septuaginta mantiveram o adelphos:
«ὅτι ἄνθρωποι ἀδελφοὶ ἡμεῖς ἐσμεν.»
(Gênesis 13,8)
O mesmo ocorreu novamente em Gênesis 14,14:
«Ouvindo, pois, Abrão que o seu irmão estava preso,
armou os seus criados, nascidos em sua casa, trezentos e dezoito, e os
perseguiu até Dã.» (Gênesis 14:14)
Na Septuaginta:
«ἀκούσας δὲ Αβραμ ὅτι ᾐχμαλώτευται Λωτ ὁ ἀδελφὸς αὐτοῦ, ἠρίθμησεν τοὺς ἰδίους οἰκογενεῖς αὐτοῦ, τριακοσίους δέκα καὶ ὀκτώ, καὶ κατεδίωξεν ὀπίσω αὐτῶν ἕως Δαν.»
(Gênesis 14,14)
Ló e Labão
Ló também é chamado de “irmão” de seu tio Labão:
«Depois disse Labão a Jacó: Porque tu és meu irmão,
hás de servir-me de graça? Declara-me qual será o teu salário.» (Gênesis 29,15)
E a Septuaginta mantém:
«Εἶπεν δὲ Λαβαν τῷ Ιακωβ ῞Οτι γὰρ ἀδελφός μου εἶ, οὐ δουλεύσεις μοι
δωρεάν· ἀπάγγειλόν μοι, τίς ὁ μισθός σού ἐστιν.» (Gênesis 29,15)
E também outra vez:
«E Jacó beijou a Raquel, e levantou a sua voz e
chorou. E Jacó anunciou a Raquel que era irmão de seu pai, e que era filho de
Rebeca; então ela correu, e o anunciou a seu pai.» (Gênesis 29:11-12)
Maria de Cléofas e a Virgem Maria
«Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a
irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.» (João 19,25)
Ora, tendo o termo “irmão” tantos significados como
mostrado acima, os escritores eclesiásticos aplicavam o termo «irmão», não
apenas para designar a relação de Jesus com seus primos, mas para designar a
relação de toda a família de Clopas com a de José.
Nisso, a esposa de Clopas, que também se chamava
Maria, é chamada pelo Apóstolo João de «irmã» (adelphé- αδελφή) de Maria, mãe
de Jesus. Na realidade, é muito improvável que Maria de Clopas e Maria mãe de
Jesus sejam realmente irmãs já que nenhum pai judeu colocaria o mesmo nome em
duas de suas filhas. A explicação do historiador cristão do século II,
Hegesipo, é que ambas eram cunhadas pois seus maridos é que eram irmãos de fato
(cf. Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica, Livro III, XI,1).
Justamente por serem cunhadas (isto é, parentes
próximas) são apelidadas por João de «irmãs» mostrando como o significado do
termo era plural e que a terminologia «irmão» era utilizada como um «termo
geral» para a designação de parentes próximos.
Conclusão do Tópico: Vemos, através de todos estes
exemplos, que os tradutores da LXX supunham que os gregos entenderiam caso
conservassem o termo geral “irmão” em sua tradução. Dessa forma, Os intérpretes
gregos do século III a.C. evidenciam que adelphos era utilizado para designar
parentes próximos. Não só os filhos de Cléofas considerava o filho de José como
seu irmão, mas também a mulher de Cléofas, considerava a mulher de José, sua
irmã (cf. Jo 19,25). Esta explicação é o motivo de Jesus chamar de “irmãos”
aqueles que, na realidade, eram seus primos.
SE PAULO CONHECIA TANTO O TERMO “ADELPHOS” (GL
1,19) QUANTO O TERMO “ANEPSIOS” (CL 4,10), PORQUE UTILIZOU ADELPHOS PARA
REFERIR-SE AOS FAMILIARES DE JESUS?
Ninguém nega que os autores eclesiásticos conheciam tanto o termo “adelphos” (irmão) quanto o termo “anepsios” (primo). Eles, entretanto, escolhiam um termo ao invés do outro dependendo da sua intenção ao escrever seu texto. Se a sua intenção fosse apenas designar uma relação de parentesco próximo entre duas pessoas, sem precisar especificar que relação era esta, utilizaria o termo geral adelphos (que possuía vários significados). Caso fosse necessário especificar o grau de parentesco, utilizaria dos termos específicos como anepsios. O caso de Marcos é um destes. Como Paulo estava apresentando Marcos pela primeira vez em suas cartas (e Marcos deveria ser até então pouco conhecido na comunidade), considerou oportuno especificar sua relação de parentesco com Barnabé (que já era um pouco mais conhecido no meio cristão) no intuito de identifica-lo em seu meio. Já a respeito dos «irmãos de Jesus» não havia essa mesma necessidade pois eles já eram muito conhecidos na comunidade exercendo, em especial, São Tiago, um papel importantíssimo na administração da Sé de Jerusalém.
Uma situação análoga a esta pode ser encontrada nos
escritos do Profeta Isaías. Na Antiga Israel haviam dois termos que poderiam
significar “virgem”: um era o termo “almah” (que era um termo geral pois
designava qualquer moça antes de seu casamento) e o outro era o termo “betulah”
(que era um termo específico para as mulheres virgens). Ao profetizar o
nascimento virginal de Cristo, Isaías escolheu utilizar-se do primeiro termo
(cf. Is 7,14) pois culturalmente não havia necessidade de se utilizar um termo
tão específico como “betulah” se o termo “almah” já cumpria essa função.
O mesmo pode se dizer das duas terminologias do NT:
adelphos e anepsios. Não era necessário aos Evangelistas utilizar-se da segunda
terminação se a terminologia geral já cumpria a função de designar que Jesus e
Tiago (por exemplo) possuíam um grau de parentesco.
Essa mesma explicação vale para escritores como
Flávio Josefo e Hegésipo de Hierápolis. Este último chegou inclusive a utilizar
tanto do termo “irmão” quanto do termo “primo” para designar Tiago.
Há também uma segunda possibilidade de
interpretação apresentada por Nelson Sarmento no seu artigo “A virgindade
perpétua de Maria nos cinco primeiros séculos (parte 2)”:
“Ora, São Paulo usa a palavra primo (anepsios) em Colossenses 4, 10 ao se referir a Marcos como primo de Barnabé, ao mesmo tempo que usa a palavra irmão(s) (adelphon/adelphoi) para se referir aos parentes do Senhor em 1 Coríntios 9,5 e Gálatas 1:19. Ninguém duvida que São Paulo ou Hegésipo conheciam a distinção entre uma coisa e outra. O argumento tradicional católico é que havia uma razão especial para que no caso dos primos do Senhor se quisesse preservar o sabor semítico e se traduzisse como “irmãos”. Se quis nomeá-los segundo a forma que eram conhecidos nos círculos cristãos. São Paulo em relação a Barnabé usou a palavra que melhor designaria o parentesco entre este e Marcos, enquanto no caso dos irmãos do Senhor, São Paulo estava traduzindo uma expressão aramaica comum (Como a tradução grega da Septuaginta fez o mesmo traduzindo do hebraico os livros do Antigo Testamento ao preservar a palavra irmão, mesmo nos casos de primos, tios, etc.) entre os cristãos para identificar os primos do Senhor e que tinham consciência de que, de fato, não eram irmãos de sangue” [4].
O OSSUÁRIO DE TIAGO.
Em Outubro de 2002, o Biblical Archaeology Review
(BAR) relatou uma nova descoberta arqueológica. Eles anunciaram que a caixa de
sepultamento de Tiago, irmão de Jesus foi encontrada em Jerusalém. Esta caixa
tinha inscrito que as palavras, “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. A
inscrição, se autêntica, seria a primeira menção de Jesus fora do Novo
Testamento.
Logo, protestantes caíram em cima dos católicos,
dizendo que esta teria sido sua prova final contra os católicos que acreditavam
na virgindade de Maria. A interpretação do “primeiro casamento de José” também
ganharia forças. Esta caixa, no entanto, não veio de uma escavação
arqueológica, mas a partir de um colecionador particular. A história da
descoberta e origem – onde foi encontrado e que já teve ao longo dos anos – era
desconhecida. Esta falta de “proveniência” por um artefato tão sensacional
imediatamente levantou suspeitas de que ele pode não ser autêntico.Para
resolver a controvérsia, em março de 2003, a Autoridade de Antiguidades de
Israel (IAA em inglês) nomeou uma comissão de 14 especialistas para examinar
este ossuário e a inscrição “Jeoás”, ambos os objetos de proveniência
desconhecida que apareceram no mercado de antiguidades cerca de ao mesmo tempo
(e ambas do mesmo dono).
Em 18 de junho de 2003, o IAA anunciou em
conferência de imprensa que o ossuário realmente era autêntico, entretanto o
termo “irmão de Jesus” era uma fraude, forjada no século IV. 13 dos 14
acadêmicos constataram a falsificação. Um breve relatório dos 14 pode ser lido
aqui [5]. A seguinte citação do membro do subcomitê materiais Jacques Neguer é
suficiente para dar o essencial das conclusões da comissão IAA:
«O ossuário é autêntico. Sua inscrição é uma
falsificação. Todos os vários arranhões no ossuário são revestidos na patina
original e apenas a inscrição e as suas imediações são revestidas com uma
“patina artificial” – como [um] material de grânulos cristalinos redondos. A
inscrição corta a pátina original e parece ter sido escrito por dois escritores
diferentes através de diferentes ferramentas.» [6]
Depois disso, o Ossuário de Tiago foi rejeitado por vários estudiosos. Entre
eles, destaca-se o parecer da paleógrafa Rochelle Altman, disponível em nota
[7].
CONCLUSÕES
1. A Bíblia defende a virgindade perpétua de Maria,
tanto no Novo quanto no Antigo Testamento (cf. Lc 1,34; Jo 19,27; Ez 44,1-3; 2
Samuel 6:6-7; Ct 4,12). Ora, desde o princípio do século II grandes historiadores
eclesiásticos como Hegésipo ratificam essa posição.
2. A argumentação protestante se divide em duas
partes: a argumentação baseada em terminologias bíblicas (“primogênito”, “até
que”, “antes de morarem juntos”) e nos “irmãos de Jesus”. Ambas possuem um
contexto totalmente diferente do que eles ensinam.
3. Depois de demonstrado biblicamente a virgindade
da mãe do Senhor, deve-se ressaltar o mandamento de Cristo: “E se recusar ouvir
também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano.” (Mateus 18:17)
FONTES
[1] DANIEL B. WALLACE,
Greek Grammar beyond the Basics: An Exegetical Syntax of the New Testament
[Grand Rapids: Zondervan, 1996], 532-33
[2] Lista extraída da obra
de Michael O’Carroll; Theotokos: A Theological Encyclopedia of the Blessed
Virgin Mary, página 327.
[3] Judith Reesa
Baskin,Jewish Women in Historical Perspective; p. 62
[4] SARMENTO, Nelson. A virgindade perpétua de Maria nos cinco primeiros
séculos (parte 2). Disponível em <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/virgem-maria/952-a-virgindade-perpetua-de-maria-nos-cinco-primeiros-seculos-parte-2>
Desde 08/03/2017.
[5] http://www.antiquities.org.il/article_eng.aspx…
[6] JACQUES, Neguer, «http://www.antiquities.org.il/article_eng.aspx…»
[7] http://www.aish.com/ci/sam/48942946.html
Extraído de: http://catolicaconect.com.br/2017/05/19/uma-analise-biblica-da-virgindade-perpetua-de-maria/
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