Recebemos a carta de um catequista e decidimos publicá-la anonimamente.
Caro catequizando,
Escrevo para lhe dizer que sua presença faz falta.
Sua presença era muito importante durante a catequese, mas
agora só existe uma cadeira vazia onde antes havia uma pessoa incrivelmente
valiosa.
Sinto saudade de sua cara de dúvida quando eu fazia uma
pergunta mais difícil.
Sinto saudade de ver suas sobrancelhas unidas à procura da
resposta que nem sempre vinha no tempo pedido.
Sinto saudade de sua alegria espontânea que brotava de
alguma situação divertida e até eu ria também, embora devesse muitas vezes
segurar o riso para dar exemplo.
Sinto saudade de seu cansaço quando você contava os minutos
para dar a nossa breve uma hora. Nessa parte, a culpa era toda minha e confesso
a Deus minha falta.
Se eu pudesse, ficaria evangelizando por duas horas. Lembra quantas
vezes eu “ameacei” estender o tempo, se não conseguisse terminar? Nunca fiz
isso a sério. Era só para que todos cooperassem, “por bem ou por mal”, como se
costuma dizer.
Eu tentei de todos os modos ir atrás da “ovelha perdida”.
Convidei você via redes sociais ou pessoalmente inúmeras
vezes. A doença era a principal das desculpas para se safar. Tomara que sua
saúde física não fique frágil por causa das mentiras...
Pedi para que seus responsáveis fossem avisados e tive a
ocasião de conversar diretamente com os pais, mas não senti firmeza. Os pais em
muitos casos estão mais desorientados que os filhos. Tragicamente é essa a
verdade.
Mas eu quero lhe contar um segredo. Eu também parei a catequese
na sua idade. Estava na Perseverança, mas não perseverei. Fui a alguns
encontros e a catequista era muito enjoada.
Será que você abandonou por esse motivo? Eu já pensei nisso
inúmeras vezes. No meu medidor de enjoo, eu tentava remediar com chocolates,
balas e brincadeiras para pescar o peixe com isca. Não deu certo com você...
infelizmente!
Eu nunca me esqueci do dia que conversei com minha mãe para
me dispensar de ir à catequese. Ela não deu muita atenção e somente respondeu:
se você não quiser mais, tudo bem.
Oh, como eu maldigo esse dia. Eu percebi em minha alma uma
mudança. Era a tristeza. Eu fiquei triste quando tomei essa decisão. No fundo,
no fundo, eu havia abandonado a Deus com plena vontade pela primeira vez.
Passaram-se cinco anos. Dos doze aos dezessete. Cinco anos
longe da Igreja e longe de Deus. Que anos duros e difíceis. Cinco anos sem a
Eucaristia e sem a confissão dos meus pecados. Cinco anos sem a Santa Missa.
Sem ouvir a Palavra de Deus. Sem rezar direito. Sem cantar músicas de Igreja. Sem
louvar a Deus. Cinco longos anos de inverno espiritual. Quantas coisas eu sofri
e, ao mesmo tempo, penso de quanto mal seria poupado, se tivesse permanecido
fiel, se tivesse perseverado.
“Inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti”...
como Santo Agostinho entendia das coisas. Assim que eu me encontrava: inquieto.
Meu coração só teve repouso quando descansou no peito de Jesus como São João o
fez na Última Ceia.
O fardo do mundo é destruidor. O fardo de Cristo, pelo
contrário, “é leve, é suave” como diz a Palavra. Quem dera se minha mãe tivesse
sido dura comigo e me obrigado a ir. Pelo menos por um período até que,
forçado, minha boa vontade surgisse de novo e eu pudesse seguir adiante,
suportando ou aceitando melhor minha nova catequista.
Mas não é a minha vida que importa. É a sua vida, caro
catequizando. Graças a Deus o meu tempo de afastamento foi abreviado e, com
dezessete anos, tive meu encontro pessoal com Jesus vivo. Se Ele não tivesse
tomado a iniciativa, que seria de mim? Não sei... trata-se de um desígnio
insondável da misericórdia infinita de Deus.
Saiba que, mesmo ausente de nossos encontros, quando faço a
chamada e olho para seu nome, a saudade aperta o peito. Eu me recordo da oração
de Jesus: “Pai, não perdi nenhum de todos os que me deste”.
Fico pensando se não fui o culpado por você ter ido embora...
é uma dor que incomoda. Fiz o que estava ao meu alcance para que ficasse?
Para terminar, quero contar outra história. Jesus, quando
falou sobre a Eucaristia pela primeira vez, perdeu muitos discípulos (Jo 6,
41-71).
Após a debandada geral, Ele olha para os Doze e os
questiona. “Vocês também querem ir embora?”. São Pedro, impulsivo e enérgico, quebra
o silêncio e faz a profissão de fé mais bela antes da Paixão: “A quem iremos
nós, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna!”.
Para onde você está indo, caro catequizando? Qual o caminho
você decidiu trilhar? O que leva à porta estreita da salvação ou à porta larga
da perdição? Por que você abandonou a Igreja, a Esposa tão amada de Jesus? Somente
Jesus tem palavras de vida eterna. Somente Jesus pode nos dar o Céu. Somente
Jesus pode nos dar a felicidade.
Você não quer uma vida plena? Em abundância? Cheia de
alegria? Pois então! Siga a Jesus! Ele não promete uma caminhada fácil nesse
mundo... fala de cruzes e tribulações. Mas o sofrimento faz parte de nossa
condição humana.
Ninguém pode evitar totalmente a dor. Uma hora a cruz será
colocada à frente da sua porta, você tem duas escolhas: carregar a cruz com
Jesus que lhe dará força ou ser esmagado pelo peso da cruz.
“No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo!”.
Volta para casa do Pai. Estamos esperando por você de braços
abertos.
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