terça-feira, 29 de agosto de 2017

Carta reveladora de um catequista


Recebemos a carta de um catequista e decidimos publicá-la anonimamente. 

Caro catequizando,

Escrevo para lhe dizer que sua presença faz falta.

Sua presença era muito importante durante a catequese, mas agora só existe uma cadeira vazia onde antes havia uma pessoa incrivelmente valiosa.

Sinto saudade de sua cara de dúvida quando eu fazia uma pergunta mais difícil.

Sinto saudade de ver suas sobrancelhas unidas à procura da resposta que nem sempre vinha no tempo pedido.

Sinto saudade de sua alegria espontânea que brotava de alguma situação divertida e até eu ria também, embora devesse muitas vezes segurar o riso para dar exemplo.

Sinto saudade de seu cansaço quando você contava os minutos para dar a nossa breve uma hora. Nessa parte, a culpa era toda minha e confesso a Deus minha falta.

Se eu pudesse, ficaria evangelizando por duas horas. Lembra quantas vezes eu “ameacei” estender o tempo, se não conseguisse terminar? Nunca fiz isso a sério. Era só para que todos cooperassem, “por bem ou por mal”, como se costuma dizer.

Eu tentei de todos os modos ir atrás da “ovelha perdida”.

Convidei você via redes sociais ou pessoalmente inúmeras vezes. A doença era a principal das desculpas para se safar. Tomara que sua saúde física não fique frágil por causa das mentiras...

Pedi para que seus responsáveis fossem avisados e tive a ocasião de conversar diretamente com os pais, mas não senti firmeza. Os pais em muitos casos estão mais desorientados que os filhos. Tragicamente é essa a verdade.

Mas eu quero lhe contar um segredo. Eu também parei a catequese na sua idade. Estava na Perseverança, mas não perseverei. Fui a alguns encontros e a catequista era muito enjoada.

Será que você abandonou por esse motivo? Eu já pensei nisso inúmeras vezes. No meu medidor de enjoo, eu tentava remediar com chocolates, balas e brincadeiras para pescar o peixe com isca. Não deu certo com você... infelizmente!

Eu nunca me esqueci do dia que conversei com minha mãe para me dispensar de ir à catequese. Ela não deu muita atenção e somente respondeu: se você não quiser mais, tudo bem.

Oh, como eu maldigo esse dia. Eu percebi em minha alma uma mudança. Era a tristeza. Eu fiquei triste quando tomei essa decisão. No fundo, no fundo, eu havia abandonado a Deus com plena vontade pela primeira vez.

Passaram-se cinco anos. Dos doze aos dezessete. Cinco anos longe da Igreja e longe de Deus. Que anos duros e difíceis. Cinco anos sem a Eucaristia e sem a confissão dos meus pecados. Cinco anos sem a Santa Missa. Sem ouvir a Palavra de Deus. Sem rezar direito. Sem cantar músicas de Igreja. Sem louvar a Deus. Cinco longos anos de inverno espiritual. Quantas coisas eu sofri e, ao mesmo tempo, penso de quanto mal seria poupado, se tivesse permanecido fiel, se tivesse perseverado.

“Inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti”... como Santo Agostinho entendia das coisas. Assim que eu me encontrava: inquieto. Meu coração só teve repouso quando descansou no peito de Jesus como São João o fez na Última Ceia.

O fardo do mundo é destruidor. O fardo de Cristo, pelo contrário, “é leve, é suave” como diz a Palavra. Quem dera se minha mãe tivesse sido dura comigo e me obrigado a ir. Pelo menos por um período até que, forçado, minha boa vontade surgisse de novo e eu pudesse seguir adiante, suportando ou aceitando melhor minha nova catequista.

Mas não é a minha vida que importa. É a sua vida, caro catequizando. Graças a Deus o meu tempo de afastamento foi abreviado e, com dezessete anos, tive meu encontro pessoal com Jesus vivo. Se Ele não tivesse tomado a iniciativa, que seria de mim? Não sei... trata-se de um desígnio insondável da misericórdia infinita de Deus.

Saiba que, mesmo ausente de nossos encontros, quando faço a chamada e olho para seu nome, a saudade aperta o peito. Eu me recordo da oração de Jesus: “Pai, não perdi nenhum de todos os que me deste”.

Fico pensando se não fui o culpado por você ter ido embora... é uma dor que incomoda. Fiz o que estava ao meu alcance para que ficasse?

Para terminar, quero contar outra história. Jesus, quando falou sobre a Eucaristia pela primeira vez, perdeu muitos discípulos (Jo 6, 41-71).

Após a debandada geral, Ele olha para os Doze e os questiona. “Vocês também querem ir embora?”. São Pedro, impulsivo e enérgico, quebra o silêncio e faz a profissão de fé mais bela antes da Paixão: “A quem iremos nós, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna!”.

Para onde você está indo, caro catequizando? Qual o caminho você decidiu trilhar? O que leva à porta estreita da salvação ou à porta larga da perdição? Por que você abandonou a Igreja, a Esposa tão amada de Jesus? Somente Jesus tem palavras de vida eterna. Somente Jesus pode nos dar o Céu. Somente Jesus pode nos dar a felicidade.

Você não quer uma vida plena? Em abundância? Cheia de alegria? Pois então! Siga a Jesus! Ele não promete uma caminhada fácil nesse mundo... fala de cruzes e tribulações. Mas o sofrimento faz parte de nossa condição humana.

Ninguém pode evitar totalmente a dor. Uma hora a cruz será colocada à frente da sua porta, você tem duas escolhas: carregar a cruz com Jesus que lhe dará força ou ser esmagado pelo peso da cruz.

“No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo!”.

Volta para casa do Pai. Estamos esperando por você de braços abertos.

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