sábado, 10 de junho de 2017

Apelo de Fátima: do erro à verdade



No dia 13 de Maio de 2017 completaram-se cem anos desde que Nossa Senhora, vestida de sol (Ap 12, 1), desceu do Céu e apareceu a três crianças: Lúcia, Jacinta e Francisco. As duas últimas foram canonizadas também nesse dia especialíssimo. São Francisco e Santa Jacinta de Fátima, os santos mais novos da Igreja de dois mil anos de história. E o milagre que deu origem ao processo de canonização ocorreu no Brasil, Terra de Santa Cruz, com o menino Lucas Maeda. Para saber mais, acesse aqui.

É uma alegria muito grande para quem conhece a “Mensagem de Fátima” (e os Três Segredos) que pode ser estudada por meio de filmes e artigos facilmente encontrados na Internet, com destaque para o site Padre Paulo Ricardo. No entanto, o objetivo aqui é outro: todo católico pode ouvir o apelo de Fátima?

Nossa Senhora apareceu sete vezes aos pastorinhos. E uma frase marca sua aparição. Na verdade, é uma súplica da Mãe Dolorosa que vê “muitas almas irem para o Inferno por não ter ninguém que se sacrifique por elas”. Ela quase brada o seguinte pedido: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido!”.

Isso foi dito em 1917. Imagine quantas ofensas não foram feitas a Deus nesses cem anos. Melhor, basta ver como nós vivemos agora. Muitos de nós estamos apenas com o corpo dentro da Igreja, mas o coração está nas coisas do mundo. “Onde está o tesouro, aí também está o teu coração” (Mt 6, 21). O Papa Francisco já cansou de dizer, em sintonia com seus antecessores, que a “mundanidade” entrou dentro da Igreja.

Nosso Senhor já nos advertira que, quem é seu discípulo verdadeiro, não é do mundo (Jo 15, 19). São Paulo, aquele que se encontrou com o Senhor e caiu do cavalo literalmente (At 9, 4), explica bem a questão: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito.” (Rm 12,2).

Eu sei que, para muitos, a Boa Notícia, que é o Evangelho, acaba sendo uma Má Notícia, inclusive para aqueles que seguem o Cristo, porque não querem deixar as coisas do mundo. Mas, como prometi, quero ensinar o primeiro passo para ouvir o apelo de Fátima. E qual é esse primeiro passo?

Não será a minha opinião, e sim, chamo “à colação” o que o Anjo de Portugal disse aos três pastorinhos antes de Nossa Senhora aparecer para eles. O anjo da paz apareceu três vezes e ensinou várias formas de reparação às ofensas cometidas contra Deus, dentre elas, destaco uma:

“Santíssima Trindade,
Pai, Filho e Espírito Santo,
adoro-Vos profundamente
e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo,
Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo,
presente em todos os sacrários da terra,
em reparação dos ultrajes,
sacrilégios e indiferenças
com que Ele mesmo é ofendido.
E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração
e do Coração Imaculado de Maria,
peço-Vos a conversão dos pobres pecadores".

Repito o cerne dessa oração: “em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido”. O primeiro passo para ouvir o apelo de Fátima está aí. O anjo precedeu Nossa Senhora e ensinou as crianças como reparar as ofensas cometidas contra a Santa Eucaristia. Quais são elas? Ultrajes, sacrilégios e indiferenças.

Ultrajes são as profanações explícitas (por exemplo, quem furta sacrários, destrói sacrários etc. e esse crime tem ocorrido com frequência em nosso país, por mais absurdo que pareça, também aquelas pessoas que furtam a Santa Eucaristia para rituais satânicos ou para zombar do “pão da maldição” como tem sido ensinado em seitas protestantes).

Sacrilégios são as profanações implícitas. São todas as pessoas que comungam em pecado grave. Em poucas palavras, pecado grave é aquele cometido contra os Dez Mandamentos (recorda-se quais são eles?) com vontade livre (sem coerção), consciente (sem ignorância) e deliberada (com intenção) e que só pode ser perdoado no sacramento da confissão com o sacerdote, sacramento este instituído por Nosso Senhor como meio ordinário (comum) de perdoar pecados (Jo 20, 23).

Quem recebe a Santa Eucaristia em pecado grave, comete sacrilégio. O sacrilégio é atestado pelo tripé da fé católica (Bíblia, Tradição e Magistério). O catolicismo não é a religião de um livro, mesmo que seja sagrado (refutação da heresia protestante do “sola scriptura”), e sim, de uma Pessoa, Jesus Cristo, que continua a viver no seu Corpo, que é a Igreja (At 9,4).

Portanto, sobre o sacrilégio, a Bíblia o condena (1Cor 11, 29) e diz que quem recebe o Corpo do Senhor (no capítulo 6 do Evangelho de São João relata todo o discurso eucarístico e como Nosso Senhor perdeu discípulos por acharem que Ele propunha o “canibalismo”) sem discerni-Lo, recebe a própria condenação. A Tradição confirma esse ensinamento por meio de todos os santos, principalmente, dos santos doutores (Santo Afonso, Santo Agostinho, Santo Tomás etc.). E, por fim, o Magistério que, mais recentemente, reforçou essa lição por meio do Youcat no § 270, mas em outros catecismos já havia essa previsão. No Catecismo de 1992, elaborado a pedido de São João Paulo II, está no § 1415.

Por último, o terceiro ponto: as indiferenças. As pessoas que não estão em pecado grave, mas recebem o Corpo de Cristo com irreverência, como se fosse um “biscoito” e que, tão logo o recebem, não se ajoelham, não fazem uma oração de agradecimento. Mal comungam, isto é, ainda há partes da Santa Eucaristia entre os dentes, e já estão com os olhos abertos, conversando com o vizinho, prestando atenção em tudo, menos no Tudo que acabou de receber.

Às vezes, o ambiente ao redor não coopera: músicas altas e destoantes do espírito da missa, o padre não dedica o momento de silêncio e logo começa a falar de outras coisas. Conselho: fuja para um local silencioso como a capela. E não converse, nem coma/beba nada depois de 15 minutos (tempo médio de digestão da Santa Eucaristia). Nesse breve momento, você é um sacrário vivo como Nossa Senhora foi por nove meses.

Antes de concluir, quero dar o testemunho de dois amigos. O primeiro mantém relações sexuais com a namorada (fornicação) e, por esse motivo está numa “situação de pecado”, em que não adianta se confessar (seria inválida porque não há o propósito de abandonar o pecado), tampouco comungar. Nem por isso ele abandonou a Igreja, porque sabe que Nosso Senhor veio para os pecadores e, discernindo sua consciência e respeitando ao Corpo do Senhor, parou de comungar.

Parêntese: o mesmo se aplica aos casais de segunda união (divorciados recasados). O Papa Francisco lembrou que a Eucaristia não é uma medalha para os santos (pecadores que a recebem para se santificar, mas que não podem comungar em pecado grave) e, ao mesmo tempo, disse que há formas de comunhão espiritual (ajudando os pobres, visitando os doentes, contribuindo em algum trabalho pastoral etc.). Os casais de segunda união são chamados a testemunhar a importância da indissolubilidade do matrimônio. Como? Ensinando aos jovens como devem pensar bem antes de se casar, como escolher companheiros adequados, explicar os erros vividos na primeira relação etc. E, além disso, testemunham o respeito à Santa Eucaristia, reforçando o ensino da Igreja nessa matéria [1].

O segundo testemunho é de um irmão, preso ao vício da masturbação, que só conseguia comungar poucas vezes no ano, pois precisava se confessar com frequência, geralmente, às sextas-feiras e “aguentar” até os domingos de missa. Na segunda mesmo já caía. No entanto, por esse zelo eucarístico, Deus concedeu a ele a graça de se livrar aos poucos do vício. O tempo de queda foi se espaçando (de semana passou para semanas, de semanas para mês, de mês para meses etc.) e, hoje, ele vive em castidade há mais de um ano.

Depois desse longo texto, em miúdos, como ouvir o apelo de Fátima? Não comungar em pecado grave e não receber a Santa Eucaristia com indiferenças. É o primeiro passo para deixar o mundo e se voltar para Deus, mesmo para aqueles que ainda não receberam a graça da conversão, mesmo para aqueles que ainda possuem a mentalidade do mundo, mesmo para aqueles que estão com o corpo na Igreja e o coração no mundo.

Que a Virgem de Fátima e os irmãos Marto, São Francisco e Santa Jacinta, roguem por nós para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

[1] Não se pode receber a hóstia tendo pecado grave que não foi confessado (§1415, Catecismo da Igreja Católica). O sacrilégio é uma ofensa terrível e quem o pratica, torna-se réu do Corpo do Senhor. (1Cor 11,29). A comunhão para os recasados/2ª união nunca foi liberada pela Igreja (§270, Youcat), exceto para aqueles que viverem a continência, o "matrimônio josefino" (§84, Familiaris Consortio, c/c Capítulo Oitavo da Amoris Laetitia).

Nenhum comentário:

Postar um comentário