sexta-feira, 23 de junho de 2017

O esquecimento do pecado original



O pecado original é uma realidade revelada que aprendemos pela fé quando nos convertemos e enxergamos nossa vida de pecado. A consciência desse dogma é um fator essencial para alimentar dentro do homem uma profunda humildade, pois o faz reconhecer uma ferida em sua natureza, uma inclinação para o mal constante que o torna necessitado da graça de Deus. Contudo, é justamente o esquecimento dessa verdade que a teologia moderna ensina, o que alimenta falsas ilusões no modo de viver e de se perceber dos cristãos. Por exemplo:

1. Ilusão de virtudes
Parece esquecer-se de sua conversão, pensa que as virtudes que possui pertencem a si próprio. Esquece que elas vieram de Deus da sua graça em nossa alma e acaba tomando a glória de Deus para si o que o torna orgulhoso e vaidoso, muito confiante de sua bondade e perfeição.

2. Ilusão do conhecimento
Pensa saber muito e ter a resposta para tudo. Confia demais em sua própria opinião e pouco duvida de si. Não escuta humildemente os conselhos e a sabedoria da Igreja, da tradição, dos santos, mas escolhe o discurso que melhor se adéqua a sua vida. Não vê o quanto não enxergar sobre a profundidade do dogma, as causas que regem o cosmos e os detalhes sobre os assuntos práticos que tenta avaliar. É sempre muito rápido e temerário ao julgar e emitir opinião.

3. Ilusão do amadurecimento
Precisa reafirmar constantemente sua experiência e amadurecimento, sem perceber que o verdadeiramente amadurecido não precisa de autoafirmação. O primeiro sinal de amadurecimento é esquecer-se de si e reconhecer o bem que fez o outro, principalmente Deus. Alimentar em si a gratidão diante de seu Pai por tudo que Ele lhe ensinou e o fez entender amorosamente, e pelas pessoas que usou como instrumentos para sua graça.

4. Ilusão da fortaleza
Nada o afeta, pois tem um pleno domínio sobre si. Pensa que pode tudo, pois já está convertido. Portanto pode frequentar qualquer lugar, participar de qualquer conversa, ver qualquer filme, ouvir todo tipo de música, pois tudo consegue fazer com equilíbrio e discernimento. Esquecendo assim a inconstância e a fraqueza que continuam na carne, o homem velho que ali habita e o leão que o rodeia procurando a quem devorar. Se coloca em risco por não lembrar da sua miséria.

Eis parte do retrato do católico moderno – o super-homem – já não se fala ou se preocupa mais com o pecado original, pois isso traz uma cruz desnecessária à vida das pessoas. Já não se precisa de tantas regras e leis que só tornam a vida do homem um peso, mas está tudo liberado para aquele que “crê”. Já não se fala mais de morte e juízo, mas de sono eterno e (pastoral) da ressurreição. Que criatura perfeita e magnífica é o homem que não precisa mais da graça de Deus, pois sua natureza é plena e suas artes/ciências o levam à perfeição.

Se não alimentam a vida de oração e a fé em seus corações, gradualmente vão perdendo a capacidade de enxergar essa verdade – que o pecado entrou e feriu o mundo – e vão deixando sua vida ser tomada por essas ilusões que o levam de volta para o chiqueiro do pecado e os faz se alimentar prazerosamente da comida dos porcos.

Se você experimentou a conversão, não esqueça de manter a oração constante, alimentar a humildade, tomar consciência do efeito do pecado e da inclinação para o mal, não deixe de vigiar, não se iluda! É essa consciência humilde de si e de seus pecados que nos dispõe à graça que Deus todo o tempo nos deseja enviar.

É a humildade de quem enxerga pela fé a miséria do pecado em seu ser que faz com que seu coração possa se unir ao Sagrado Coração de Jesus que nos mostra o mais puro e grande Amor. E é a experiência de tão perfeito amor que nos liberta e nos faz imensamente feliz.

Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!

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