Aviso aos navegantes: é um texto extenso, embora escrito em
linguagem acessível! Se não estiver com tempo, é melhor ler outra hora. Não
recomendaria que o ignorasse. No entanto, tudo que nos resta é decidir o que
faremos com o tempo que nos foi dado nesse mundo!
Existe um ponto importante que está sendo ignorado nessa
discussão, sobretudo por quem é contra a ideologia de gênero. E é peça
fundamental: os próprios professores. Nas vezes em que tive a oportunidade de
presenciar as discussões em âmbito municipal, eu percebi certa reserva e
desconfiança por parte de secretários da educação e alguns professores como se
ao tentar retirar as “expressões coringas” dos planos municipais e estaduais
quiséssemos expô-los ao ridículo ou mostrar que não estavam fazendo até agora
seu trabalho corretamente.
Não é nenhuma das duas coisas. Quando nos levantamos contra
a teoria de gênero, não queremos criar um ambiente entre “nós” (a família) e
“eles” (os professores colocados contra a parede como se fossem vilões). Nós
sabemos muito bem que não é esse o quadro real, tampouco é possível construir
uma educação autêntica sem a participação dos dois lados. A ideologia foi introduzida no país de cima
para baixo por uma minúscula cúpula que não representa de modo algum a maioria
dos professores. (MEC e CNE sob a direção do Partido dos Trabalhadores em 2014).
Aproveito a ocasião para pedir desculpas públicas se em
algum momento um manifestante tenha se alterado e pensado equivocadamente que a
“culpa” era do professor do Município ou do Estado que, como sabemos, já é tão
vilipendiado em nossa sociedade. Talvez esse excesso e até “irracionalismo”
tenha ocorrido pelo desejo de proteger um bem inestimável (nossas crianças) e a
incompreensão de modo fazê-lo, o que descamba em grosserias e ofensas mútuas,
ambas condenáveis.
Eu sei que talvez e,
com alguma razão, os professores vejam essas manifestações contrárias como
hipócritas, ao passo que se os pais não se importam com a vida do filho no
cotidiano da escola, por que aparecem depois como “paladinos da moral” numa
“questão até ingênua”? A coisa posta assim é incompleta e falsa. Vou demonstrar
o porquê.
Em primeiro lugar, é importante ter em mente o seguinte: o
número de pessoas que defendem a ideologia de gênero é reduzidíssimo. E mais:
entre aqueles que a defendem, poucos a conhecem a fundo e entendem a extensão
da coisa. Tem apenas uma visão superficial criada justamente para seduzir e
conduzir à sua aplicação. É o marketing que os ideólogos fazem para ela ser
vendida mais facilmente. Não expõem às raízes de quem a teorizou, porque sabem
que seria rejeitada de plano. Ao final, exporei as balizas teóricas e
filosóficas da ideologia e se, após conhecê-las, o professor disser “é realmente
isso que nos falta”, estará no exercício da sua liberdade de pensamento.
Preciso antes de cumprir o que prometi, abordar outro
aspecto nesse contexto tão complexo. Quando, depois de passada a fase de
audiências públicas nas secretarias, o debate migra para a Câmara Municipal ou
Assembleia Legislativa e os membros pró-vida pressionam os parlamentares para
negarem a ideologia, não se quer dizer que estes são as pessoas mais indicadas
para tratar sobre a educação. Até porque, infelizmente, em não raros casos lhes
faltam até um mínimo de educação formal e estão no rol de analfabetos
funcionais.
A pressão ocorre, porque, segundo as regras do jogo, são
eles os representantes do povo. Eles precisam representar os eleitores que os
elegeram. Precisam ser um espelho das posições das suas zonas eleitorais. E,
como somos a maioria, queremos reafirmar nossos valores e somos protegidos pelo
Direito, nacional (Constituição e demais leis) e internacional (tratados) para
tanto que colocam o dever da família como prioritário e intransferível para
educar moral e sexualmente nossos filhos. Nesse sentido, se os pais se opõem, a
ideologia não pode virar política pública de ensino. É relativamente simples
nesse quesito.
Mas eu volto: a política é a arena adequada para essas
discussões. É possível que os professores vejam isso com desprezo. Quem é o
vereador ou deputado tal para dizer isso ou aquilo sobre educação? Essa
preocupação é legítima e compreensível, mas, no contexto, é pontual e pequena
(não pedimos a reformulação integral dos planos, só um ponto específico que
parece insignificante, contudo quando visto com um olhar apurado é assustador e
exige uma ofensiva direta).
Quem está mais
habilitado para dizer o que deve ser feito? Esse é um tema antigo no Direito
entre democracia e técnica. O parlamentar ou o estudioso? Num regime
democrático, é o parlamentar, quer se goste, quer não; quer se faça bico, quer
não, a menos que abramos mão da democracia. O papel do estudioso é dar as
razões (na visão dele, as melhores razões) e persuadir os parlamentares. Nem
sempre a melhor razão vence, até porque a democracia não está fundada num
critério de veracidade (qualitativo), e sim, de legitimação pelo número
(quantitativo).
Com esse horizonte mais ampliado, é necessário reafirmar: a
luta contra a ideologia de gênero, ainda que não pareça num primeiro momento e
gere estranheza, é por uma educação de qualidade e efetiva (objetivos que
nenhum dos dois lados, pais e professores, discordariam). Finalmente, depois de
ocupar o precioso tempo de vocês entre turnos ininterruptos de aulas, prossigo.
O quê é isto a “ideologia de gênero”?
Em primeiro lugar, a coisa que precisa ser esclarecida de
plano é: ser contra a ideologia de gênero não significa ser a favor de qualquer
tipo de preconceito ou a favor de qualquer tipo de discriminação, ou, mais
especificamente, como alegam alguns a favor da
homofobia/transfobia/lesbofobia/lgbtfobia ou o que quer mais que venha “em
anexo”. Eliminar esse raciocínio dual e
simplista de que se é contra algo, logo faz você ser a favor em bloco de uma
série de atitudes ruins e condenáveis, seja no plano jurídico, seja no plano
moral, é importante numa discussão tão acirrada e acalorada.
Nossos adversários na política (movimentos feministas,
LGBTs, PSOL, PT e cia.) pensam que somos a “encarnação do mal” por nos opormos
a uma ideologia que foi espalhada desde cima no movimento deles sem que se
dessem conta – a maioria – e a maioria, no espírito de manada, passou a defendê-la
sem grande consciência dos reflexos que possui.
Mas, afinal, vamos à “possível” definição conceitual: o que
seria a ideologia de gênero? E por que devemos nos opor a ela? Por que ela não
deve ser ensinada às nossas crianças? Quais são os riscos de colocá-la no
ordenamento jurídico? E por que não deveria ser absorvida por ele?
Quem pela primeira vez defendeu que a diferença entre mulher
e homem residia mais na educação do que no sexo foi o psicólogo neozelandês
John Money. Ao passo que foi o psicanalista Robert Stoller na década de 60 quem
atribuiu um sentido diferente à palavra gênero do que fazemos normalmente. No
dicionário convencional, gênero é tratado como sinônimo de sexo, mas,
aproximadamente, desde essa época o uso da palavra mudou, ganhando uma
finalidade instrumental e ideológica.
1) O quê é gênero?
Nem os defensores chegam a um acordo muito claro e preciso,
mas a maioria parte de uma premissa: o sexo, masculino ou feminino, com que se
nasce é um fator irrelevante. Não se nega o sexo, mas o coloca como um dado
pré-humano, animal, insignificante, que não repercute em nenhuma outra esfera
da vida. O que importa, dizem eles é o “gênero”, que seria a construção social
que a “pessoa” faz da sua identidade que não mantém qualquer relação com seu
sexo.
Logo, é um conceito “construtivo”. Para os ideólogos, a
genética e a biologia nada podem dizer sobre o gênero. Logo, não se nasce
“menino”, nem “menina”, é tudo uma imposição cultural e opressora do gênero
heterossexual que dominou todos os espaços e se camuflou ao longo dos séculos
com uma máscara de pertença à natureza, de ser o “natural”, e assim, passou
“despercebido”.
2) Quais são “os tipos de gênero existentes”?
Segundo a socióloga francesa Marie-Hélène Bourcier no livro “Queer
Zones”, os gêneros são inúmeros. Já para a filósofa italiana Maria Michela
Marzano, os gêneros são uma “infinidade de escolhas possíveis” que são tantos
quantos forem as pessoas dispostas a construí-los conforme sua vontade.
3) Existem os gêneros mais “repetíveis”?
Sim, são eles: o heterossexual, o homossexual, o lésbico, o
transexual, operado ou não, o bissexual, o indiferenciado etc. Namastè em “The
Politics inside/out” vai defender que existe o trans-gênero, grupos que vivem
fora das categorias tradicionais de gênero, são elas: travestis, drag queens,
passing women, hermafroditas, stone butches e diversos “fora da lei do sexo que
desafiam as taxonomias reguladoras”.
Em vídeo de divulgação da ideologia, o YouTube lançou uma
campanha com o nome de “Orgulho de Ser” que traz novos nomes: agênero, não
binário, omnissexual, polissexual, pansexual etc.
É como acabei de dizer: os gêneros são inúmeros ou uma
infinidade de escolhas possíveis, embora também seja tratado com um “conceito
guarda-chuva”. Uns contabilizam cinquenta, outros mais de cem.
4) O que propõe efetivamente a ideologia de gênero?
É uma pergunta difícil, mas, em breves palavras, pretende
fazer uma revolução total na compreensão da política, da economia, do direito,
da moral etc. Todos os setores da vida humana seriam relidos, melhor,
desconstruídos a partir de todas as nuances “identitárias” do gênero e do
trans-gênero que acabei de expor. Quem diz isso é Judith Butler, uma das
principais teóricas, no livro “Problemas de Gênero” com tradução no português.
E em alguma medida é o que defende a feminista Shulamith Firestorne em “A
dialética do sexo” (que defende inclusive a pedofilia e o incesto como novas
formas de expressão sexual para “quebrar tabus”).
Numa analogia simples: querem desmoronar uma casa para que
dos escombros surja algo novo que não fazem ideia do que será e depositam a fé
que será algo melhor do que temos no presente. O que virá num futuro
idealizado, será melhor. É esse o segundo ato de fé que fazem. O primeiro é que
o sexo não interfere em nada. Mas vamos por partes.
5) Como os defensores da ideologia de gênero a vendem para
os professores? Qual a imagem eles criam para que ela seja comprada?
O primeiro passo é dizer que se trata de combater a
discriminação, o preconceito e todas as fobias que elencamos acima. Dizem eles:
se a ideologia for ensinada às crianças, elas serão mais tolerantes, menos
preconceituosas, logo, serão pessoas melhores como nós, os defensores, o somos.
Qual pai ao ouvir isso ou professor se oporia? Quem não quer que seu filho seja
melhor? Mais tolerante? Ainda mais num mundo tão cruel como o atentado ISLÂMICO
em Orlando comprova (embora coloquem os cristãos na defesa dos seus valores
como um “Estado islâmico em potencial”). Mas as coisas não são tão simples como
parecem ser. O buraco é mais fundo.
6) O gênero no âmbito internacional: dificuldades dialogais.
É possível datar que os movimentos pró-gênero (feministas,
LGBTs etc.) desde a década de 90 vêm tentando implantar sistematicamente a
ideologia com algum sucesso no plano internacional. Com algum sucesso, porque
ludibriaram os representantes dos países ao mudarem a palavra “sexo” por
“gênero” sem definir o significado e a extensão do conceito, aprovaram pensando
se tratar de sinônimos.
No livro “Agenda de Gênero”, Dale O’Leary explica como a
estratégia se deu de maneira sorrateira, pegando a todos de surpresa. Aqui
entra outro modo da ideologia ser vendida aos leigos: a defesa da “igualdade de
gênero” na luta a favor das mulheres. A “igualdade de gênero”, se bem aplicada
e vivida, faria com que o machismo ruísse e as mulheres se emancipassem
definitivamente. Alcançassem a sua “libertação”. Foi na Convenção de Pequim em
1995 que a palavra gênero apareceu oficialmente pela primeira vez.
Podemos resumir os dois fronts que a ideologia assumiu para
si: contra a discriminação por orientação sexual (a favor dos direitos LGBTs) e
contra o machismo (a favor das mulheres). Essa é a propaganda. E, ao mesmo
tempo, a ideologia traz essas duas promessas básicas: se aplicada, os LGBTS
serão respeitados e as mulheres “liberadas”. É assim que ela opera como um
navio fura-gelo e amplia seu alcance para além do debate acadêmico nas ciências
sociais que lhe deram expressão e engajamento.
7) O que dizem as ciências naturais, as hard sciences?
Aqui temos o principal choque: os estudos mais modernos e
avançados demonstram que o sexo, isto é, a biologia e a genética possuem um
papel relevante nas nossas escolhas como pessoas. Ninguém está a negar que a
cultura tenha uma contribuição e ingerência, mas cientificamente não é possível
negar como os ideólogos fazem, aqui está o primeiro ato de fé e ato
fundacional, de que o sexo biológico não tem consequência psíquica alguma sobre
o ser humano.
Um livro que traz esses estudos de modo mais simplificado e
acessível ao grande público é: “Por que os homens fazem sexo e as mulheres
fazem amor?” Ali os autores expõem uma série de pesquisas de renomados
cientistas sobre o cérebro humano e os efeitos dos hormônios sobre o
comportamento que escapam ao elemento cultural. E mais: como o sexo influi no
que é apontado como pura construção e imposição culturais de um gender
dominante, no caso, o heterossexual.
Em outras palavras, não é só o conceito de gender que é
nebuloso, indefinido e indefinível para os próprios teóricos, também a sua
verificação empírica é questionável pelos modernos estudos. Para ser mais
claro: não é possível ensinar uma ideologia (com a pretensão que tem de uma
revolução total em todos os campos a partir do domínio da linguagem como afirma
Judith Butler expressamente no seu livro citado. Nem Karl Marx foi tão
ambicioso!) que é dúctil e lhe falta uma rigorosa análise científica, aliás, a
ciência indica o caminho de que a ideologia é furada! Esse é o problema
sinalizado por Russell Kirk em “A política da prudência” de que toda ideologia
padece em relação à realidade: é míope, sectária e limitada, embora sempre
traga um projeto de alterar o mundo (aspecto prescritivo).
8) A ideologia na prática: a tragédia de uma família
inteira.
Esta história começa na famosa universidade Johns
Hopkins, na cidade de Baltimore, Estados Unidos. É aí que o médico neozelandês
John Money e sua equipe se destacam por sua pesquisa nas áreas de sexologia e
por cunhar, em seus trabalhos, termos como "papel de gênero" e
"identidade de gênero". A sua teoria é a de que o sexo das pessoas,
ao invés de ser dado pela nature["natureza"], é uma questão de nurture ["educação"].
Assim, uma criança em tenra idade, mesmo com o aparelho genital de um sexo,
poderia ser criada e educada como sendo de outro sexo. A biologia seria
subvertida pela psicologia, ou, dito em outros termos, o projeto do Criador
poderia ser arbitrariamente transformado pelo homem.
Até 1967, as ideias de John Money já eram mundialmente
famosas, mas permaneciam no papel. É quando a família Reimer decide recorrer ao
renomado médico: um de seus filhos gêmeos, Bruce, teve seu órgão genital
cauterizado durante uma circuncisão, e a sua mãe, Janet Reimer – interessada
após assistir a um programa de televisão sobre a teoria do dr. Money – decide
confiar ao médico o problema de seu filho.
Nas mãos de Money, Bruce, com apenas 22 meses de vida, sofre
uma intervenção cirúrgica e passa a chamar-se Brenda. Recebendo acompanhamento
constante do doutor, a família Reimer era a cobaia de que Money precisava para
provar de vez sua teoria. De fato, o médico neozelandês escreve vários estudos
usando o caso Brenda como "prova dramática" de que sua "teoria
da neutralidade" estava correta: se era possível educar um menino como
menina, homens e mulheres não eram mais dados biológicos, mas meras "aprendizagens
sociais".
No entanto, à medida que Brenda cresce, sua mãe nota algo de
muito errado. "Eu via que Brenda não era feliz como garota, não obstante o
que eu tentasse fazer por ela ou como eu tentasse educá-la, ela era muito
rebelde, era muito masculina e eu não conseguia convencê-la a fazer nada que
fosse feminino", conta Janet Reimer, em um documentário produzido pela
BBC. "Brenda não tinha quase nenhum, nenhum amigo enquanto crescia. Todo
mundo realmente a matava, chamavam-na de 'mulher da caverna'. Ela era uma
garota muito só" [http://www.bbc.co.uk/science/horizon/2000/boyturnedgirl.shtml].
Aos catorze anos, já longe dos olhos de Money e cada vez
mais isolada socialmente, Brenda descobre, de sua mãe, que nascera como homem e
tinha sido criada como mulher à força. A partir de então, ela muda seu nome
para David e tenta, apesar de tantos percalços, levar uma vida comum, como
homem. No entanto, a morte de seu irmão por uma overdose de antidepressivos, em
2002, aliada a um casamento conturbado, culmina em uma tragédia: no dia 4 de
maio de 2004, David deixa a casa de seus pais pela última vez, vai a uma
mercearia e comete suicídio.
Antes desse fim dramático, David Reimer expôs o seu caso à
mídia, a fim de tornar públicas a perversidade das ideias de Money e a farsa de
sua "teoria de gênero". "Era-me dito que eu era uma garota, mas
eu não gostava de me vestir como uma garota, eu não gostava de me comportar
como uma garota, eu não gostava de agir como uma garota", confessa
David[https://www.youtube.com/watch?v=msLLrechWyQ]. "Eu não sou um
professor de nada, mas você não acorda uma manhã decidindo se é menino ou
menina, você apenas sabe".
"Não se acorda de manhã decidindo se se é menino ou
menina": essa lição foi aprendida a um alto custo pela família Reimer. É
esse o mesmo custo que as famílias brasileiras querem pagar, aceitando que a
ideologia de gênero seja implantada em nossas escolas?
Quando se combate a inserção do termo "gênero" no
ordenamento jurídico brasileiro, não se está a afirmar uma posição
"discriminatória" ou "preconceituosa", como insinuam alguns
grupos. Ao contrário, o que se pretende é que o Brasil seja livre de uma teoria
comprovadamente mentirosa e ideológica. Ou queremos, por acaso, copiar os
experimentos ridículos de Money e repetir o drama da família Reimer no seio de
nossas famílias?
"Você vai sempre encontrar pessoas que vão dizer: bem,
o caso do Dave Reimer podia ter tido sucesso. Eu sou a prova viva, e se você
não vai tomar minha palavra como testemunho, por eu ter passado por isso, quem
mais você vai ouvir?" [idem 2]. Que a alma de David Reimer descanse em
paz. E que a sua conturbada vida lembre às pessoas o quanto é terrível
subverter o plano do próprio Criador inscrito na natureza humana.
9) A ideologia de
gênero é paradoxal na teoria e na prática.
Na teoria, porque, ao mesmo tempo, em que advoga e promete
mais autonomia para o sujeito se definir, construir sua identidade, traz “em
anexo”, em seu bojo, várias propostas prontas sobre como encarar a sexualidade,
o que pensar em relação à “família”, o “dever” de ser favorável à legalização
do aborto, como desconfiar do “casamento monogâmico”, a defesa das uniões gays
etc.
Na prática, como demonstra o documentário “O paradoxo da
igualdade” na Noruega, onde mais foi implantada, inclusive num exemplo
esdrúxulo de que as crianças usassem uniforme laranja para não se identificarem
como meninos – roupa azul – e meninas – roupa rosa, mais agravou o quadro de
disparidade nas profissões ditas “masculinas” e “femininas”. Foi um tiro no pé!
Sem contar as outras evidências científicas que o documentarista expõe e deixa
os ideólogos de “boca aberta” literalmente.
10) A ideologia virada matéria de ensino obrigatória por
meio da lei, é salutar que assim seja?
A resposta é não. Não vou entrar tanto em outro problema
sério em qual o papel da escola que, como acredito e a maioria também, não é se
tornar um centro de difusão de ideologias totalitárias (sim, em alguma medida,
é aonde a teoria de gênero nos conduz após o crepúsculo das grandes ideologias
políticas no século XX; é uma reformulação com potência mais destrutiva que
tudo que se viu até então; não é possível dizer que “acabada”, porque ainda
opera “construtiva e dialeticamente” em negações e afirmações contínuas para
usar uma linguagem mais filosófica. Está assentada em quatro pilares:
pós-estruturalismo, ultraliberalismo, neomarxismo e existencialismo).
A questão é que ante o exposto, não é possível que o
conceito de gênero seja adotado pelo ordenamento jurídico sem que isso cause
toda uma ruptura no próprio sistema. Nosso direito está fundado na certeza e na
estabilização dos conflitos (raízes da tradição da civil law). Não é possível
adotar um conceito ambíguo que está mal resolvido inclusive no plano
internacional. Não é possível inserir um vírus que o faça ruir abaixo. É um ato
de fé muito grande esperar que das cinzas da destruição surja um mundo novo
como apostam os defensores.
Em outras palavras, a expressão “gênero” não é tão
elucidativa como outras que nosso ordenamento já absorveu: sexo, raça, cor,
religião etc. Aliás, se o problema é a discriminação contra os LGBTs e a
desigualdade em relação às mulheres há arsenal jurídico e teórico suficientes
para lidar com essas difíceis questões e não precisamos da importação de
ideologia para cumprir esse desiderato, embora se prometa cumpri-lo, as
condições para tanto são mínimas ou zero pela própria “natureza” do que
defendem. Se nem eles sabem o que gênero pode vir a se tornar, como garantem
que livrará a humanidade dos males da intolerância? E emancipará todos os
oprimidos?
Essa garantia não existe! E, embora não tenha sido essa a
inspiração, cabe dizer que a ideologia de gênero nas suas raízes estadunidenses
– sem levar em conta as subvenções vultosas que recebe do capital financeiro
das fundações americanas – são, ao fim e ao cabo, uma nova forma de
colonialismo cultural sobre os países em desenvolvimento e mais pobres. Ela tem
que ser encarada como um novo tipo, mais sofisticado, é claro, de imperialismo
cultural. Muito mais daninho porque camuflado e passado em nossas terras como
se fosse coisa nossa, mas não é! É uma ideologia “de gabinete” que não se
sustenta na realidade e a própria ciência o atesta. Não é assim que vamos
solucionar nossos problemas que comparativamente são muito mais gravosos do que
os do país de origem.
11) Convém ensinar ideologia de gênero a uma criança e/ou a
um adolescente em formação?
Essa é uma pergunta que acredito que você, professor, tenha
condições de responder agora. Se não quiser acreditar em mim, não há problema.
Recomendo alguns livros em português que abordam o assunto para que aprofunde e
chegue às suas conclusões sozinho: “Gender, quem és tu?” (Olivier W.), “A
ideologia de gênero” (Jorge Scala), “A ideologia de gênero nas escolas” (Marisa
Lobo), “Agenda de Gênero” (Dale O’Leary).
Vamos aos dados. Segundo o levantamento do Fórum Econômico
Mundial, o Brasil está na 133ª posição de 139 nações e um dos piores é
MATEMÁTICA e CIÊNCIAS. Em pesquisa feita pela UnB, mais de 50% dos
UNIVERSITÁRIOS brasileiros são ANALFABETOS funcionais. Vou repetir:
UNIVERSITÁRIOS. Em 2014, 70% da população não abriu um livro sequer. 27% dos
brasileiros, segundo o IBGE, são analfabetos funcionais. 13 milhões são
analfabetos absolutos (não sabem ler, nem escrever nada). E poderia ficar aqui
citando mais e mais dados e estatísticas.
De novo: a ideologia de gênero é um problema nosso?
No lugar de debatermos formas de superarmos a pobreza e o
analfabetismo, por exemplo, gastaremos o tempo de nossas crianças para
assimilarem vômito ideológico dos EUA, que é um assunto mal-resolvido entre
eles mesmos, afinal, como “ensinar” sobre “gênero”, uma vez que se trata de “infindáveis
escolhas”, sendo possível até que cada pessoa tenha um gênero para chamar de
seu?
Definitivamente, essa não pode ser uma questão premente para
uma criança e adolescente do Brasil. Não é um problema nosso tanto que no Plano
Nacional de Educação em que a inclusão da ideologia foi rechaçada. O Congresso
Nacional já sinalizou que esse não é um assunto do Brasil. Não podemos nos
tornar laboratórios de ideias malucas vindas do exterior, embora quem as
defenda aqui faça com um propósito claro: possuem rabo preso, muitas ONGs são
subvencionadas com dinheiro internacional dessas fundações.
O Brasil, mais uma vez, precisa mostrar a sua cara. Contamos
com o apoio de vocês, professores, que nos ajudem a entoar esse sonoro não!
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