domingo, 15 de outubro de 2017

Carta a uma diocese dividida


Dividir para conquistar!

Reverendíssimos pastores da Igreja de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que foi comprada a preço de sangue no Calvário, eu, mísero leigo que perfila as centenas de fiéis da Diocese, gostaria de que me concedessem uns minutinhos da atenção dos senhores. Antes de qualquer coisa, peço-lhes a bênção paternal.

Também é importante dizer que sou um “vermezinho” (Jó 25, 6), desprovido de virtudes e quaisquer excepcionalidades espirituais e os padres que me atenderam em confissão podem comprovar isso. Mas, apesar de minha miséria, gostaria de fazer algumas observações sobre a realidade paroquial/diocesana e, que, talvez pelos senhores ocuparem a hierarquia, não têm condições de perceber alguns episódios.

É conveniente afirmar também que todos os casos aqui descritos são verídicos e que não decorrem só da minha observação, mas de situações concretas que me foram narradas por amigos. Não citarei os nomes dos leigos, tampouco dos padres envolvidos. De antemão, não se trata de algum escândalo, mas de atitudes pastorais.

O título que dá início à carta é uma máxima antiga atribuída ao imperador César (divide et impera), todavia está presente nos Evangelhos quando o Mestre foi acusado de expulsar demônios pelo poder de Belzebu e Ele contestou assim: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído” (Mt 12, 25).

Guardadas as proporções, essa passagem se aplica às realidades das comunidades eclesiais de base. Por quê? Porque a pregação do Evangelho foi terceirizada e, em muitos locais, as pessoas preferem ir às celebrações da Palavra às missas. Chegou-se a uma deturpação completa. O sacrifício incruento de Nosso Senhor foi trocado por um “congraçamento de leigos”. E uso a palavra congraçamento de modo proposital, pois as músicas usadas em muitas celebrações recordam bailes pela agitação. É a “animação” que querem forçosamente fazer com que aconteça nesse momento. Imaginem as santas mulheres, Santa Maria Madalena, a Virgem Maria e o São João (Jo 19) dando gargalhadas e dançando durante a Crucifixão do Senhor? Palmas e, em alguns momentos, parece um forró bodó. Há tempo para cada coisa, diz-nos o Eclesiastes, e, sinceramente, a missa não deve ser esse rastapé. As músicas litúrgicas estão muitas vezes inadequadas. Só a título de exemplo, o Hino do Glória, o qual muitos mártires morreram cantando e que foi construído com todo um desenrolar bíblico, é substituído por vulgatas boçais, toscas e infantis e com ritmos ainda piores.

Volto às celebrações da Palavra. Por que elas se tornaram “terceirizações”? Eu sei que os senhores devem conhecer muito mais do que eu, a Instrução Redemptionis Sacramentum, destaco os parágrafos 164 e 167. Naquele afirma que “as celebrações dominicais especiais, devem ser consideradas ABSOLUTAMENTE extraordinárias”, o que nossa realidade se choca e desmente categoricamente. Na verdade, parece que houve um “entreguismo” e tudo foi sendo repassado aos leigos. É uma terceirização em razão de que o “serviço prestado” é, muitas vezes, de baixa qualidade. Os senhores passaram por uma formação exaustiva até se ordenarem e deveriam saber também que em encontros mensais não é possível fazer com que um católico mal evangelizado e mal catequizado assuma funções para dirigir a celebração da Palavra. E o pior, caríssimos pastores, muitos são MAL alfabetizados! Não sabem sequer ler direito! É triste, mas é verdade. O material que recebemos é recheado de erros de ortografia e fazem uma algaravia com o missal. É uma espécie de missal para leigos. Os pronomes mal escritos.

Mas isso é de somenos importância. O ponto central é o seguinte: na minha cidade, a título de exemplo, há comunidades muito próximas à Matriz. Questão de metros de distância. E, infelizmente, como abundam as celebrações no domingo devido ao excessivo número de comunidades, a missa fica prejudicada. Há alguns problemas nisso: em primeiro lugar, não cumpre o preceito dominical. Em segundo, o Reino fica dividido, porque imaginem vários núcleos de cristãos espalhados recebendo formação irrisória nas “homilias” feitas por leigos no lugar de estarem recebendo formação adequada de um sacerdote que passou anos em preparação. Em terceiro, como disse, rompe com a unidade paroquial, a impressão que passa é que a Igreja está cada vez mais enfraquecida quando, na verdade, não está, e sim, está dividida, presa fácil para o lobo (a ovelha que não ouve a voz do pastor com regularidade, não é ensinada pelo pastor qual senda deve trilhar, não está à mercê do lobo? Não é mais o pastor que ensina a ovelha, agora, são as ovelhas que por si mesmas têm que se ajudar na sobrevivência). Em quinto, as missas “paroquiais” não são suficientes para isso. É preciso que semanalmente as pessoas que tenham condições de irem à Matriz, façam-no. Em suma, padres, nós precisamos dos senhores! Não queremos que sejam trocados por leigos!

Em contrapartida, é preciso falar também que em alguns locais, as celebrações da Palavra são indispensáveis, principalmente, nas zonas rurais. Nós sabemos que os senhores são poucos como alertou o Mestre (Lc 10, 2). Mas na área urbana não há motivo para não ir até a Matriz. Andar um pouquinho não faz mal a ninguém e ainda funciona como penitência. Outra observação é que muitos objetariam dizendo que isso esvaziaria as comunidades e seria um dinheiro jogado fora etc., mas há como remediar isso. As comunidades funcionam bem para centros de catequese, reuniões para articulação das necessidades locais, para realizar as orações comunitárias, adorações, encontros etc. O padre pode celebrar Missa lá também como já existe esse costume. Há também a festa do padroeiro da comunidade.

Para concluir, saliento o parágrafo 167 da Instrução: “«De maneira parecida, não se pode pensar em substituir a santa Missa dominical com Celebrações ecumênicas da Palavra ou com encontros de oração em comum com cristãos membros de outras [...] comunidades eclesiais, ou bem com a participação em seu serviço litúrgico». Se por uma necessidade urgente, o Bispo diocesano permitir ad actum a participação dos católicos, vigiem os pastores para que entre os fiéis católicos não se produza confusão sobre a necessidade de participar na Missa de preceito, também nestas ocasiões, a outra hora do dia.”

Minha glosa: infelizmente, isso já aconteceu e acontece. Inúmeras vezes eu presenciei pessoas dizendo que estavam liberadas da Missa pela participação na Celebração. Mais uma vez: padres, nós precisamos dos senhores! Não nos deixem órfãos! Reúnam as ovelhas ao redor de si! Queremos ouvir as vozes dos pastores! Os berros das ovelhas devem ser escutados com moderação e quando não há outro meio. Em outras palavras, seria até melhor por ter o número de ministros da Palavra mais reduzido, a formação poderia ser mais presente e mais centralizada. Ao invés de fazer para uma multidão e ignorar as particulares deficiências de cada um (que são muitas!).

Outro ponto delicado se chama sacramento da confissão. Em geral, sucedeu um engano na Diocese. Muitos padres confundem a celebração desse sacramento com uma espécie de direção espiritual ou, na pior das hipóteses, terapia psicológica. Por isso, perdem horas a fio, às vezes, com uma pessoa. E as outras desistem de esperar. Uma coisa é uma coisa. A confissão é sumária. Apresentou-se diante do sacerdote, disse os pecados, ele deu orientação mais breve ainda e absolveu. Passou a penitência e pronto. Próximo!

A direção espiritual é muito importante e deve ocorrer em outro momento. Não se podem confundir as duas realidades. Outra questão é que as pessoas perderam a noção de pecado e, por isso, seria útil para salvação delas que fosse repassado um exame de consciência e lhes fosse ensinado como se confessar. Como a Igreja sempre tem feito. Simples assim. Já o padre que pensa que ali é uma terapia psicológica, o problema é outro e não cabe comentar aqui. Não se ensina mais que NÃO SE DEVE comungar em estado de pecado grave (§1415, Catecismo da Igreja Católica). O sacrilégio é uma ofensa terrível já advertido por S. Paulo (1Cor 11,29)

Padres, pelo amor de Deus, os senhores querem ser responsabilizados pelos sacrilégios que se recusaram a evitar? O juízo de Deus será severíssimo. Muito foi dado aos senhores, muito será exigido também (Lc 12, 48)! Não permitam que as pessoas comunguem em estado de pecado grave. Esse ensinamento é confirmado pela Bíblia, pela Tradição e pelo Magistério. Pouco importa se o teólogo A ou B diz diferente. A quem prestaram obediência? Em nome de Cristo, impeçam esses crimes contra o Corpo e o Sangue do Senhor!

Sobre a moral sexual, esse é um tema que ninguém quer sujar a imagem e, pois, evitam pregar nas homilias. Abandonem o respeito humano! O caminho da castidade é de vida! Eu, como leigo e solteiro, testemunho isso. É libertador! É para todo mundo: leigo e casado! Cada um nas suas condições, de acordo com seu estado de vida. Para isso, conheçam a teologia do corpo do Papa João Paulo II. Será muito mais fácil pregar sobre esses assuntos com o auxílio desse material. As pessoas aceitarão de forma mais fácil, pois trabalha como a teologia está radicada na própria realidade biológica delas. Sugiro um livro: “Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II”. Os senhores colherão os frutos da castidade! Ensinem o correto e permitam que os jovens confessem seus pecados contra a pureza! Permitam que eles lutem pela castidade! A masturbação, seja masculina, seja feminina, é uma autosabotagem! E assim outros pecados sexuais: fornicação, adultério, homossexualismo (é um assunto delicado que foi exposto de modo autenticamente cristão em dois livros “Homossexualidade – guia de orientação para os pais” do Dr. Joseph Nicolosi e “Homossexualidade e esperança” do Dr. Gerard Van Den Aardeweg), incesto, pedofilia etc.

Mais uma vez: padres, nós precisamos dos senhores! Precisamos lavar nossas almas no confessionário! Ainda que caiamos mil vezes! Precisamos, padres! Deem-nos tempo! Tenham paciência com nossas fraquezas! Abram-se a esse sacramento! O santo cura d’Ars passava de 12 a 14 horas no confessionário, por que não querem o mesmo caminho? Querem descobrir a roda com um novo meio? Não! O caminho é o mesmo! Padres, por favor! Não virem as costas para nós! Suplicamos que gastem seus tempos conosco! Repitam quantas vezes for necessário: eu te absolvo dos seus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! Não retenham o sangue de Cristo! Aspergi-o sempre e em todo lugar com esse sacramento salvífico! O mesmo se aplica ao sacramento da unção dos enfermos!

Sobre a confissão comunitária. Basta a leitura dos cânones 959 a 964 do Código de Direito Canônico para dar cabo dessa fuga que se dá dos fiéis de encararem o sacerdote e individualmente confessarem suas misérias (regra). Perigo de morte e necessidade grave são exceções tão remotas e extraordinárias que deveriam constranger tanto os fiéis quanto os padres.

A Igreja, ao mesmo tempo, que autoriza que o bispo estabeleça as condições (Cân. 961, § 1, n. 2), impõe um limite claríssimo: “não se considera existir necessidade suficiente quando não possam estar presentes confessores bastantes somente por motivo de grande afluência de penitentes, como pode suceder nalguma grande festividade ou peregrinação.” (Cân. 961, §2). Por exemplo, o que acontece na Quaresma. O certo seria fazer um mutirão de confissões chamando outros sacerdotes.

Passo adiante. Quero tratar dos pontos nefrálgicos. Passo agora às pastorais. Destaco a pastoral da juventude. O melhor meio é utilizar o YouCat. Ensiná-lo aos jovens. Temos SEDE da VERDADE que é Cristo! Precisamos de alimento sólido (Hb 5, 12)! Passou a época do leite da catequese! Chega de conversa mole! Acredito que o mesmo se aplique à pastoral familiar em alguma medida. Chega de conversa mole! Nossa Senhora em muitas aparições ensinou o método e serve para qualquer trabalho pastoral: cinco pedrinhas (de Davi) para derrotar o Golias (o diabo). Eucaristia, confissão, leitura da Bíblia, terço (rosário) e penitência. Já li muitos livros religiosos e, sem dúvida, tentei muitos métodos. Mas sempre volto a essas cinco pedras. Simples e eficaz como Maria é. Ela, na renúncia de si (escrava), ficou cheia de Deus. As pedrinhas são a base de todo cristão que procura se santificar. Ensinem isso aos leigos! Por favor, padres! Certamente, os senhores já vivem isso. Não guardem esses tesouros só para si! Se cada leigo colocar isso em prática, a realidade paroquial será mudada!

Bom, estou quase concluindo. Conto um episódio para dizer da importância da veste adequada para o sacerdote (batina ou/e clergyman). Soube de um padre da Diocese que foi a uma festa e, enquanto dançava, uma moça se insinuava para ele, porque segundo ela mal tinha ideia de que se tratava de um sacerdote. O padre não deu confiança e continuou sua dança de forma tranquila (ainda bem!). A moça ficou intrigada com aquilo e comentou com um parente: aquele homem ali não dá bola para mim. Já cansei de passar na frente dele e não quer dançar comigo. Até que esse parente disse: é um padre, mulher! Pare de assanhamento!

Embora a história seja engraçada, revela também a prudência das vestes ligadas ao estado de vida ao qual foram chamados. Usar as roupas adequadas facilitam a vivência dos propósitos feitos não só com o bispo na ordenação, mormente com o Senhor que pedirá contas. É como diz Santa Catarina de Sena: “todo bem será premiado e toda culpa será punida!”.

Por fim, peço que perdoem minha arrogância e presunção. Escrevo isso para o bem das almas, inclusive da minha! Não queiram construir só belas paredes, pintadas e ornadas, mas, antes, queiram que as almas dos fiéis estejam bem alicerçadas na Rocha que é Cristo! Não queiram só incensos e objetos litúrgicos caros, mas verifiquem se as almas dos fiéis, as quais lhes foram encarregadas, exalam o odor da santidade! O perfume suave da vivência dos mandamentos divinos e o suor das renúncias feitas!

Não queiram fazer só belos jardins, mas, antes, verifiquem se os vícios foram arrancados e as virtudes plantadas como convém ser aos filhos de Deus! Tudo isso pode soar arrogante, mas eu sei o meu lugar na Igreja, sou um mísero inseto (Is 41, 14), mas não levem em conta o pecador que escreve, e sim, o conteúdo narrado! Mais uma vez: padres, precisamos dos senhores! Novamente o povo passa fome e o Mestre tem compaixão. A nossa fome é outra. Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus. Temos fome e sede do ensinamento correto da Igreja de dois mil anos! Não de teólogos modernos que ultrajam o Magistério e a Tradição e que são cada vez mais populares nos seminários!

Espero que os senhores tenham a coragem de dizer como Dom Bosco: Dai-me almas e ficai com o resto! No final, o que importa é quantas pessoas se salvaram pelo trabalho dos senhores e, depois de uma vida de tormentos (Jó 7,1), possam ouvir da boca do manso e humilde Cordeiro, cujo fardo é leve e o jugo é suave, “servo bom e fiel, entra no gozo do teu Senhor!” (Mt 25, 21).

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